quinta-feira, 14 de maio de 2015

CIENTISTAS BRITÂNICOS DESVENDAM MISTÉRIO DAS MUMIAS VAZIAS

Ciência/tecnologia


Rebecca MorelleRepórter de Ciência da BBC News

Cientistas acreditam ter desvendado o mistério de um "escândalo" no coração da indústria de múmias animais do Egito antigo.

Um projeto do Museu e da Universidade de Manchester revelou que cerca de um terço das centenas de múmias de animais que seriam expostas em uma mostra na cidade britânica estão vazias.
Os pesquisadores dizem ter encontrado uma explicação para o fenômeno: existia uma grande demanda por esse tipo de oferenda religiosa, e a demanda por essas múmias pode ter superado a oferta.
O projeto, que usou tomografias e exames de raio-X para examinar o interior das múmias sem precisar desfazê-las, foi acompanhado pelo programa da BBCHorizon.
O equipe está conduzindo o maior projeto do tipo já feito.
Mais de 800 múmias - de gatos e pássaros a crocodilos - já foram analisadas.
Cerca de um terço delas tinha animais completos, que foram bem preservados. Outro terço continha parte de restos mortais.
Mas o terço final estava vazio.

Pesquisadores estimam que cerca de 75 milhões de animais foram mumificados

"Houve algumas surpresas", disse Lidija McKnight, especialista em Egito da Universidade de Manchester.



"Sempre soubemos que nem todas as múmias de animais tinham o que deveriam ter, mas descobrimos que cerca de um terço não tinha nenhuma parte dos restos mortais dos animais - ou seja, nada do esqueleto."
Em vez disso, ela explicou, o tecido foi preenchido com outros itens.
"Basicamente, materiais orgânicos como lama, galhos e plantas, que estavam perto das oficinas dos embalsamadores, ou outras coisas como cascas de ovo e penas, que eram associadas aos animais, mas não eram os animais em si."
Diferentemente de múmias humanas, que era criadas para preservar os corpos para a vida após a morte, múmias de animais eram oferendas religiosas.
"Sabemos que os egípcios adoravam deuses em forma de animais, e uma múmia de animal permitia alguma ligação com o mundo dos deuses", explicou Campbell Price, curador de Egito e Sudão no Museu de Manchester - onde haverá uma exposição sobre múmias animais em outubro.
"Múmias animais eram presentes de votos. Hoje, você teria uma vela em uma catedral; no Egito antigo, você teria uma múmia animal."
"Você compraria uma múmia animal em um lugar específico, usando um sistema de permuta. Então você daria isso a um sacerdote, que coletava um grupo de múmias de animais e as enterrava."
Escavações revelaram que a demanda por essas oferendas sagradas era alta.

Um terço das múmias analisadas estavam vazias

Cerca de 30 catacumbas foram descobertas no Egito, lotadas, do chão ao teto, de milhões de múmias. Cada tumba é dedicada uma criatura única, assim como cachorros, gatos, crocodilos, pássaros e macacos.
Cientistas estimam que cerca de 75 milhões de animais podem ter sido mumificados pelos egípcios.
"A escala da mumificação animal entre o ano 800 a.C. e o período romano foi enorme", diz Price.
"Em termos de quantos animais foram criados e mortos, teria sido numa escala industrial. Os animais eram novos e mortos quando eram bem pequenos. Para chegar a esses números você teria que ter um projeto específico de criação."


Os pesquisadores acreditam que, apesar do fato de animais serem criados em grandes números, as pessoas que faziam as múmias sofriam para atender a demanda.
Mas eles não acreditam que as múmias parcialmente ou totalmente vazias faziam parte de um golpe; eles acham que os peregrinos sabiam que não estavam comprando a criatura completa.
"Achamos que eles mumificavam pedaços de animais que estavam no entorno, ou materiais associados com os animais durante sua vida - como partes de ninho e cascas de ovo", disse McKnight.
"Eles (os objetos) eram especiais porque tinham proximidade com os animais - apesar de não serem os próprios animais. Então não achamos que fosse uma fraude. Eles simplesmente estavam usando tudo que podiam achar. E muitas vezes as múmias mais bonitas e bem feitas não contêm os restos de animais", completa.

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