Premiê chinês e Dilma anunciam 35 projetos. JBS celebra liberação da
exportação de carne, a prosperidade de
Maracaju, no Mato Grosso, vem da China
CARLA JIMÉNEZ, Brasília 19 MAY 2015,
em El PAíS – O jornal Global
Dilma e o premiê chinês Li Keqiang. / MARCELO CAMARGO/ AGÊNCIA BRASIL
Fazia doze anos que Li Keqiang não vinha ao Brasil e agora,
como primeiro ministro, chega em grande estilo para selar 35 acordos
bilionários com o Governo Dilma Rousseff. Um dos mais ambiciosos já
havia vazado para a imprensa nos últimos dias. O projeto ferroviário
transcontinental que deve percorrer o Brasil de leste a oeste, atravessar a
cordilheira dos Andes até chegar aos portos peruanos só existe, por ora, como
um "estudo de viabilidade" dos três países. Mas, já está bem
articulado, com um desenho que pretende facilitar a exportação de
matérias-primas do Brasil e do Peru para o mercado chinês. “É uma linha que
sairá do Tocantins, da cidade de Campinorte [ferrovia norte sul] vai passar
pelo Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso, segue pelo Estado do Acre, até chegar
ao Peru”, disse Rousseff, que prevê ganhos para os produtores com a redução de
custo na logística.
Se este é um projeto embrionário, outros acordos
anunciados nesta terça-feira, em cerimônia no Palácio do Planalto, trarão
ganhos imediatos, como o fim do embargo à importação de carne brasileira, que
vai beneficiar 26 frigoríficos nacionais, e incrementar em 520 milhões de
dólares as exportações brasileiras, que somaram 40 bilhões de dólares no ano
passado. Um sorridente Joesley Batista, dono da JBS, assistiu à cerimônia
dos acordos vislumbrando que a rota chinesa trará mais negócios a sua empresa.
Outras companhias brasileiras foram beneficiadas pelos acordos
chineses, caso da Petrobras que fechou dois acordos de financiamento,
num total de 7 bilhões de dólares, assim como a mineradora Vale, que assinou
memorandos de financiamento de um projeto de compra de um total de 24 navios de
transporte de minério de ferro com duas estatais chinesas, a Cosco e ao Grupo
China Merchants.
Os dois países anunciaram ainda um fundo de investimentos de 53 bilhões
de dólares, do banco estatal ICBC para assegura investimentos em
infraestruturas, que passam por rodovias, ferrovias, linhas de transmissão para
o setor elétrico, e projetos de telecomunições. O Governo chinês assinou ainda
o compromisso de investir em um polo siderúrgico no Estado do Maranhão, e
reafirmou o compromisso com o investimento na processadora de milho em
Maracaju, no Mato Grosso do Sul, que deve chegar a meio bilhão de dólares.
Keqiang enfatizou que o comércio bilateral, que foi de 79 bilhões de
dólares em 2014, deve chegar rapidamente a 100 bilhões de dólares. “Num cenário
de difícil recuperação mundial, esta cooperação mútua vai proporcionar o
desenvolvimento de economias emergentes, e da economia mundial”, afirmou o
primeiro ministro.
Os dois países assinaram ainda acordos em diversos setores, como o de
Defesa, para o sensoriamento conjunto da Amazônia visando a sua
preservação, e a confirmação da compra de 80% do banco brasileiro BBM pelo
estatal Bank of Communication por 525 milhões de reais.
Outros negócios foram fechados na área de energia, com os acordos na
área de energia eólica, além de telefonia, firmado entre a Telefônica Vivo e a
Huawei, este último par melhorar a cobertura celular no Rio de Janeiro.
Os acordos firmados entre os dois mandatários fazem parte do chamado
plano de ação conjunta 2015-2021 que, segundo Rousseff, “inaugura uma etapa
superior em nosso relacionamento”. “Teremos a oportunidade de dialogar com o
empresariado dos dois países sobre o importante papel que exercem nesse
processo”, disse a presidenta Dilma Rousseff , que tem viagem marcada para
a China no próximo ano.
Estabilidade
no fornecimento
A mensagem do líder chinês durante o encontro deixa claro que a
estratégia da potência asiática é buscar estabilidade no fornecimento dos itens
mais demandados pelo seu país, em especial, soja, minério, açúcar, petróleo e
derivados de milho, produtos estes que o Brasil tem em abundância. Keqiang não
esconde, ainda, o desejo de erguer mais fábricas chinesas no Brasil em
diferentes setores. “Nossa amizade tem uma base sólida e a cooperação mútua
traz benefícios a nossos povos e ao mundo”, afirmou ele antes de se despedir.
Se o interesse chinês pelos produtos brasileiros é bem-vindo por um
lado, por outro essa dependência preocupa pela qualidade do intercâmbio. O
Brasil vende prioritariamente matéria-prima para eles e compra itens
industrializados dos chineses. O primeiro ministro chinês garantiu no ato desta
terça que a qualidade dessa troca deve melhorar, citando por exemplo os
aviões da Embraer, requisitados pelas empresas aéreas chinesas. Mas, em outros
setores industriais o Brasil carece de competitividade, e não tem um projeto de
longo prazo para fortalecer a produção de seus bens industrializados.
A dependência, ainda, do capital asiático preocupa alguns especialistas.
“Não sabemos a qualidade desse dinheiro que entra, e se não estamos atraindo
outros recursos globais, como o de fundos de pensão internacionais, é porque
precisamos melhorar o ambiente de negócios”, avalia o economista Cláudio
Frischtack.
Para alguns
observadores, a China aproveita o momento para comprar o Brasil mais barato,
durante a crise econômica que deve ser marcada pela recessão deste ano. A
dúvida é se o Governo Rousseff saberá capitalizar esta oportunidade para
melhorar a qualidade não só do comércio bilateral, mas do ambiente de negócios
para outras parcerias ambiciosas com outros países.
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