Calmamente ansiosa, desatenta por
atenção, lentamente ágil, introvertidamente extrovertida, espontânea e uma
velha sagitariana intuitiva...
Por Domie Lennon
Uma letra de música reflete as tristezas que enfrentaram os nordestinos
de esperança seca. Essa mesma letra, quando tocada, me fez querer dançar e
transbordou aquilo que carrego em meu sangue... O ritmo de um forró bem tocado
e extremamente marcado pela cultura nordestina brasileira me pegou em cheio. Eu
dedico essa homenagem, à minha tribo querida.
"Quando
é que vai voltar o peixinho para o rio, quando vai? Quando é que eu vou poder
beber essa água de novo? Quando é que vai voltar a canoa para o rio, quando
vai? Quando é que eu vou poder remar como fez o meu povo? Hoje quando acordei
eu quase chorei ao ver o meu rio secando... Quando é que esse mar vai parar de
subir e invadir o meu lugar? Quando é que eu vou poder deitar nessa areia de
novo? Quantas ondas mais esse pulo vai ser capaz de suportar? Quando é que eu
vou dormir um sono tranquilo de novo? Hoje quando acordei eu quase chorei ao
ver o meu mundo caindo...
... Seu
Francisco gritou: Olha, o rio mudou de cor! Será que foi lágrima da santa?! ...
"Quando
é que o salvador vai voltar para nos redimir e libertar? Que será que eu fiz
para merecer um castigo tão grande? Quantas vezes mais de joelho para o alto e
súplicas? Chego a pensar por um instante: Ele não está ouvindo. Hoje quando
acordei eu quase chorei ao ver a cidade vazia... Solitário pensei numa paz
infinita..."
Música
chamada Esperança Seca 3 - Tribo de Gonzaga
O que esta
letra tem a ver com a nossa cultura? Parece que lemos e conseguimos nos colocar
no lugar de quem fala. Conseguimos nos colocar no lugar de quem se espanta ao
ver o rio secando. Conseguimos entender a súplica e conseguimos entender o medo
do castigo vindo do inexplicável.
O Nordeste
brasileiro já foi capital deste país e a área mais desenvolvida até o ciclo do
ouro em Minas Gerais. O açúcar fez de Pernambuco um grande centro, onde até os
holandeses quiseram um pedacinho... Quantos de nós, de outras regiões do Brasil
não possuem um sangue quente nordestino vindo desde nossos avôs e bisavôs, que
migraram em busca de uma vida melhor para o sudeste? Quem diria, nordeste?
Tua beleza
deixada nas mãos de exploradores, teu clima que te mata e seca, maldita chapada
diamantina... Teu açúcar virou sal.
Mas o que
seria tua luta sem a beleza da tua seca? Sem o barulho das cascavéis? Sem
Lampião, sem cangaceiros, sem o ardor do sol?
Nenhuma
história sem problemas é bonita de se ver.
E tua
cultura se espalhou e não conseguimos mais ouvir um triângulo bem tocado sem
querer dançar, não dispensamos um sono na rede e uma brisa fresca ao som de
paz. Tua música entrou por meus ouvidos e me deixou possuída a tal ponto que
pude ver do alto meu corpo dançante, como se estivesse fora de mim. Quando foi
que tua sanfona me tirou das tristezas da vida e me fez sorrir de novo? Quando
foi que passei a ter orgulho dessa cabeça chata que carrego comigo desde
criança e dessas maçãs altas em meu rosto? E desde quando tenho este sotaque
que, de tão bem imitado, que parece que nasci aí, tua terra, meu avô? Senhor
Wellington, violonista de muitos carnavais, Natalense de Mirassol. Deixa
saudades teus acordes...
E sim, foi
quando comecei a te amar, meu forró... Mas não o forró sexualizado para vender,
mas o forró de raiz. O forró de cultura e não de tesão. O forró para dançar e
não para beijar. O forró de melodia e de letra sensível, o forró de alegria
inocente de uma boa festa junina. Ah Petrópolis, quem diria que numa noite fria
e vazia, eu encontraria o calor nordestino fazendo minhas altas maçãs voltarem
a se avermelhar? E que Gonzaga tinha criado uma tribo pra gente passar a noite
e dançar? E quem diria vocês, que clube da esquina poderia se aforrozar? E você,
George Harrison, que Something poderia se abrasileirar?
E foi nessa
onda, que descobri minha Tribo de Gonzaga, rainha de minhas noites por raros
meses de tamanha felicidade, e que abriu meu coração para dançar, e nunca mais
se aquietar. Eu vos convoco: Dancem! Quem dança, seus males espanta.
A quem se
interessar, podem ouvir um pouco disto que me refiro no endereço: https://soundcloud.com/tribodegonzaga/
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