quinta-feira, 21 de maio de 2015

POESIA PARA O NORDESTE E SEU BOM FORRÓ...

 
Calmamente ansiosa, desatenta por atenção, lentamente ágil, introvertidamente extrovertida, espontânea e uma velha sagitariana intuitiva...

Por Domie Lennon

Uma letra de música reflete as tristezas que enfrentaram os nordestinos de esperança seca. Essa mesma letra, quando tocada, me fez querer dançar e transbordou aquilo que carrego em meu sangue... O ritmo de um forró bem tocado e extremamente marcado pela cultura nordestina brasileira me pegou em cheio. Eu dedico essa homenagem, à minha tribo querida.
  


"Quando é que vai voltar o peixinho para o rio, quando vai? Quando é que eu vou poder beber essa água de novo? Quando é que vai voltar a canoa para o rio, quando vai? Quando é que eu vou poder remar como fez o meu povo? Hoje quando acordei eu quase chorei ao ver o meu rio secando... Quando é que esse mar vai parar de subir e invadir o meu lugar? Quando é que eu vou poder deitar nessa areia de novo? Quantas ondas mais esse pulo vai ser capaz de suportar? Quando é que eu vou dormir um sono tranquilo de novo? Hoje quando acordei eu quase chorei ao ver o meu mundo caindo...
... Seu Francisco gritou: Olha, o rio mudou de cor! Será que foi lágrima da santa?! ...
"Quando é que o salvador vai voltar para nos redimir e libertar? Que será que eu fiz para merecer um castigo tão grande? Quantas vezes mais de joelho para o alto e súplicas? Chego a pensar por um instante: Ele não está ouvindo. Hoje quando acordei eu quase chorei ao ver a cidade vazia... Solitário pensei numa paz infinita..."
Música chamada Esperança Seca 3 - Tribo de Gonzaga
O que esta letra tem a ver com a nossa cultura? Parece que lemos e conseguimos nos colocar no lugar de quem fala. Conseguimos nos colocar no lugar de quem se espanta ao ver o rio secando. Conseguimos entender a súplica e conseguimos entender o medo do castigo vindo do inexplicável.
O Nordeste brasileiro já foi capital deste país e a área mais desenvolvida até o ciclo do ouro em Minas Gerais. O açúcar fez de Pernambuco um grande centro, onde até os holandeses quiseram um pedacinho... Quantos de nós, de outras regiões do Brasil não possuem um sangue quente nordestino vindo desde nossos avôs e bisavôs, que migraram em busca de uma vida melhor para o sudeste? Quem diria, nordeste?

Tua beleza deixada nas mãos de exploradores, teu clima que te mata e seca, maldita chapada diamantina... Teu açúcar virou sal.
Mas o que seria tua luta sem a beleza da tua seca? Sem o barulho das cascavéis? Sem Lampião, sem cangaceiros, sem o ardor do sol?
Nenhuma história sem problemas é bonita de se ver.
E tua cultura se espalhou e não conseguimos mais ouvir um triângulo bem tocado sem querer dançar, não dispensamos um sono na rede e uma brisa fresca ao som de paz. Tua música entrou por meus ouvidos e me deixou possuída a tal ponto que pude ver do alto meu corpo dançante, como se estivesse fora de mim. Quando foi que tua sanfona me tirou das tristezas da vida e me fez sorrir de novo? Quando foi que passei a ter orgulho dessa cabeça chata que carrego comigo desde criança e dessas maçãs altas em meu rosto? E desde quando tenho este sotaque que, de tão bem imitado, que parece que nasci aí, tua terra, meu avô? Senhor Wellington, violonista de muitos carnavais, Natalense de Mirassol. Deixa saudades teus acordes...
E sim, foi quando comecei a te amar, meu forró... Mas não o forró sexualizado para vender, mas o forró de raiz. O forró de cultura e não de tesão. O forró para dançar e não para beijar. O forró de melodia e de letra sensível, o forró de alegria inocente de uma boa festa junina. Ah Petrópolis, quem diria que numa noite fria e vazia, eu encontraria o calor nordestino fazendo minhas altas maçãs voltarem a se avermelhar? E que Gonzaga tinha criado uma tribo pra gente passar a noite e dançar? E quem diria vocês, que clube da esquina poderia se aforrozar? E você, George Harrison, que Something poderia se abrasileirar?
E foi nessa onda, que descobri minha Tribo de Gonzaga, rainha de minhas noites por raros meses de tamanha felicidade, e que abriu meu coração para dançar, e nunca mais se aquietar. Eu vos convoco: Dancem! Quem dança, seus males espanta.
A quem se interessar, podem ouvir um pouco disto que me refiro no endereço: https://soundcloud.com/tribodegonzaga/

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