Cultura: cinema
Em marcha, mais um Festival de Cannes, onde os brasileiros se esforçam
para brilhar
CAMILA MORAES, São Paulo, 13 MAY 2015
Jornal EL PAÍS – O JORNAL GLOBAL
Começou
nesta quarta-feira mais um Festival de Cannes, o festival de cinema mais
prestigiado da atualidade, visto como um Oscar de corte autoral.
Aliás, na prática, ele é cada vez mais isso mesmo: um lugar onde brilham as
obras de badalados cineastas atuais e um tapete vermelho onde os próprios
atores de Hollywood hoje preferem aparecer. Nesta 68a edição, o
Brasil quer uma fatia do bolo e inclusive ambiciona algumas Palmas.
Mas, sem filmes brasileiros na seleção principal, é nos bastidores que o país
mais se destaca.
Não que não
haja títulos nacionais. Eles são dois curtas-metragens presentes em mostras
paralelas: Command Action, do paulista João Paulo Miranda Maria, na
Semana da Crítica; e Quintal, do mineiro André Novais Oliveira, na
Quinzena dos Realizadores. Mas é digna de destaque a participação do país em
coproduções e nas equipes de filmes de outras nacionalidades.
Quando a ideia vingou, ele abriu as portas de sua RT Features, que não
se fechou às adaptações e começou a lançar também projetos originais. São
projetos da produtora os bem-sucedidos filmes brasileiros O cheiro do
ralo, dirigido por Heitor Dhalia com base no romance de Lorenzo Mutarelli,
e Alemão, de José Eduardo Belmonte, a partir de uma ideia do dono
da casa.
Outra marca de Rodrigo Teixeira é priorizar o “dinheiro bom” em seus
filmes. Nada contra o conhecido modelo brasileiro de produzir com incentivo
fiscal, diz ele, mas “produzir com investimento privado agiliza os processos e
incentiva o modelo industrial, que é como eu gostaria que fosse o nosso”.
Com esse pensamento, ele extrapolou as fronteiras nacionais e colocou o
pé em Hollywood, motivado pelo interesse de grandes nomes da indústria
norte-americana em direitos que ele havia comprado. Atualmente, já vão cinco
longas-metragens produzidos por ele nos Estados Unidos – “e outros três ou
quatro são esperados para este ano”.
A experiência com o maior mercado de filmes do mundo lhe rendeu certa
fama, tanto que Martin Scorsese o captou em seu radar. No ano passado, RT
Features e Sikelia Prods, de Scorsese, se associaram em uma joint
venture com a missão de apoiar filmes de cinco novos cineastas, com um
ou dois filmes já realizados, que sejam de baixoorçamento (máximo
US$ 5 milhões). Nada mal para um brasileiro tateando um mercado internacional e
competitivo.
O fato é que
Teixeira não se assusta diante dos negócios. Questionado sobre o segredo desse
sucesso, ele dá resposta de negociante: “Criei boa reputação. Escolho bem os
projetos e cumpro o que prometo”.
O principal
exemplo é o novo longa do diretor argentino Gaspar Noé, conhecido por trabalhos
polêmicos, como promete ser o atual: Love. Do filme, que será
exibido na Sessão da Meia-Noite, não se sabe muito ainda, além de seu caráter
sexual explícito, mas seu produtor – Rodrigo Teixeira, um dos produtores
brasileiros mais importantes hoje – resume a trama em “esperma, fluídos e
lágrimas”. Não se espera menos de Noé nessa volta a Cannes, depois de sua
polêmica no festival francês em 2002 com Irreversível, filme
contado de trás para frente que contém uma forte cena de estupro com a atriz
Monica Bellucci.
Já Teixeira
tem marcado presença no mercado cinematográfico internacional, desde que
descobriu a fórmula da compra de direitos de obras – literárias, em sua maioria
–
para fazer
filmes que ele prefere financiar com recursos privados. Com isso e com sua “boa
reputação”, como ele mesmo diz, atraiu a atenção de atores-produtores como Brad
Pitt, Harrison Ford, Ewan McGregor e Ben Stiller e pôs os pés na
indústria americana de cinema, enquanto, em Cannes, faz apostas originais como
o filme de Noé. No ano passado, durante o festival francês, ele anunciou uma
parceria firmada com ninguém menos que Martin Scorsese para encontrar jovens
talentos cinematográficos.
O cartaz de
'Love', de Noé.
O bom é que
Teixeira não está sozinho. Outros dois longas feitos em coprodução com o Brasil
aparecem na Semana da Crítica, dando sinais da boa relação do país com a
vizinhança latino-americana. São eles La patota, do argentino
Santiago Mitre, e La tierra y la sombra, do colombiano César
Augusto Acevedo.
E, junto com as
coproduções, abrem-se as equipes. O longa mexicano Las elegidas, de
David Pablos, que participa da mostra Um certo olhar, a fotografia
é da carioca Carolina Costa; enquanto no curta turco Sali, de Ziya
Demirel, que compete na seleção principal, a montagem é do baiano Henrique
Cartaxo.
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