Jaime GonzálezDa BBC Mundo em Los
Angeles
Para os espectadores, cada vez é mais
difícil distinguir o que é real do que não é...
Atores
falecidos que voltam à vida nas telonas. Personagens que voltam no tempo e
conseguem rejuvenescer diante dos nossos olhos. Mundos de fantasia habitados
por criaturas de outro mundo.
Os grandes avanços que foram conquistados nos últimos anos no cinema em
técnicas como a da geração de imagens pelo computador – que em inglês se
conhece por CGI (computer-generated imaginery) – permitiram que os cineastas
pudessem fazer a imaginação voar como nunca.
Graças à edição digital, eles são capazes de recriar em seus filmes
quase qualquer coisa que lhes passe pela cabeça – enquanto para os
espectadores, fica cada vez mais difícil distinguir o que é real do que não é.
Mas em uma indústria como a de Hollywood, obcecada com a juventude e com
a beleza, alguns atores e atrizes de mais renome estão usando essas tecnologias
para seu próprio benefício.
Agora, as ferramentas digitais permitem apagar de seus rostos e seus
corpos qualquer imperfeição que não tenham conseguido eliminar com cirurgias
estéticas, ou dietas, ou implantes capilares e dentais, ou até mesmo com a
maquiagem.
Em caras sessões de edição, são tiradas, celulite, olheiras, manchas ou
espinhas; tudo desaparece como num passe de mágica.
Mas "beleza digital" é um segredo bem guardado, um assunto
sobre o qual atores, diretores e estúdios preferem não falar.
Segredo bem guardado
Os programas que
são utilizados para os retoques de beleza digital foram desenvolvidos
especificamente para esse propósito.
A BBC enviou pedidos de entrevista a várias empresas especializadas em
beleza digital, mas recebeu resposta de apenas uma delas, dizendo que não se
manifestaria "para não ofender seus clientes".
Essas empresas assinaram acordos com cláusulas de
confidencialidade, para que elas não tornem públicas suas identidades, como
contou à BBC o jornalista Josh Dickey, do site americano Mashable, que passou vários anos investigando o uso de
retoques estéticos digitais na indústria do cinema.
Josh Dickey conseguiu entrevistar representantes de uma das empresas
especializadas nesta tecnologia, que lhe explicaram as técnicas utilizadas para
alterar ou "embelezar" a aparência de atores e atrizes.
"Em todos os anos que me dediquei a cobrir
notícias do mundo do entretenimento, nunca havia ouvido falar dessas
técnicas", conta Dickey, que antes de escrever para o Mashable havia trabalhado para a revista
especializada Variety.
"Foi um amigo ator que me falou sobre isso pela primeira vez em
2010. Ele queria fazer um filme, mas todos os produtores achavam que ele estava
velho demais para o papel. Então lhe propuseram usar uma das empresas que se
dedicam a beleza digital para deixá-lo com cara de mais novo."
"Assim que comecei a investigar o tema, demorei mais de três anos
para poder publicar a história por causa da dificuldade de encontrar
entrevistados que quisessem falar", explica o repórter.
Segundo Dickey, as empresas especializadas nesses retoques estéticos
digitais não estão diretamente associadas com grandes estúdios, elas são muito
pequenas e têm escritórios em locais muito discretos, onde só conhecem seus
clientes, muitos deles alguns dos mais conhecidos astros de Hollywood.
O jornalista diz que as técnicas de beleza digital
começaram a ser usadas em 2008, quando estreou o filme O curioso caso de Benjamin Button, em que o personagem
interpretado por Brad Pitt era um jovem de 20 anos – tudo graças a magia das
técnicas de edição digital.
A estreia do filme
"O Curioso Caso de Benjamin Button" representou um ponto de mudança
no uso da edição digital
"São os atores melhor pagos os que começaram a utilizar técnicas de
beleza digital, já que no começo era muito caro", explica Dickey. O
repórter conta que, uma vez que acabam de gravar um filme, os atores ou atrizes
se sentam na sala de edição com os especialistas para eliminar qualquer
imperfeição com a qual não se sentem confortáveis.
Em alguns casos, segundo o jornalista, chegou-se a colocar o rosto de
uma atriz famosa sobre o corpo escultural de uma dublê.
"Para as estrelas que usam essas técnicas, seria horrível se o
público descobrisse que elas foram 'retocadas' digitalmente", afirmou o
repórter.
Cada vez mais comum
Segundo Mike Chambers, presidente do conselho da Sociedade Americana de
Efeitos Visuais, o uso do que chama de "retoques de vaidade" disparou
nos últimos cinco ou seis anos.
"O fato de que existem empresas especializadas nisso diz muito
sobre esse fenômeno", aponta Chambers. Segundo ele, agora esse tipo de
retoque também pode ser feito pelos grandes estúdios e suas equipes de edição.
"Muitas vezes, são os atores que querem que façam retoques digitais
em sua aparência porque em um determinado dia não estão muito bem por causa de
uma noite mal dormida ou porque beberam demais ou comeram muito chocolate."
Chambers explica que às vezes são os cineastas que decidem fazer retoque
e que, em outros casos, são os atores e atrizes que incluem cláusulas de seus
contratos para controlar como vão fazer.
Segundo ele, fazer uma mudança pequena no primeiro plano, não dá muito
trabalho para a edição, mas caso se trate de cenas mais elaboradas, onde o ator
se movimenta, aí a coisa se complica, e o custo do trabalho pode ir para
dezenas de milhares de dólares.
Paul Walker 'voltou
à vida' no Velozes e Furiosos 7 com essas técnicas de edição
Os programas utilizados para fazer retoques de beleza digital foram
desenvolvidos especificamente para esse propósito e usam conceitos similares
aos do Photoshop.
"Muitas empresas não podem falar do trabalho que fazem por razões contratuais.
Os estúdios que os contratam especificam que não podem falar publicamente sobre
o que fazem para eles", conta Chambers.
"Por outro lado, os atores de Hollywood também não querem que
saibam que eles usaram técnicas assim para esconder as rugas. A juventude em
Hollywood é muito importante. A resolução da imagem digital não perdoa qualquer
imperfeição que se veja."
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