terça-feira, 5 de maio de 2015

PROTESTOS FORA DE HORA

Salvador: opinião
  


Por
Adilson Fonseca
é Jornalista

Uma criança de 12 anos e seis adultos morreram soterrados por causa das chuvas que caíram em Salvador nesta segunda-feira, na Avenida San Martin. No bairro do Bom Juá, uma encosta cedeu e soterrou uma casa, levando junto alguns moradores que foram salvos por outros moradores. Sete pessoas morreram. E na Jaqueira do Carneiro, palco das tragédias neste início de semana, moradores protestaram por causa dos estragos, fechando a pista da BR-324.
Em diversas partes da cidade, alagamentos deixaram veículos submersos, casas alagadas e encostas cedendo formaram um quadro caótico em Salvador. Equipes do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil se desdobraram para atender às inúmeras solicitações e prestarem os primeiros socorros nos locais de tragédias.
 Mas encontraram um grande obstáculo pela frente: a falta de condições de ter acesso a essas localidades, por causa do trânsito congestionado, não apenas por causa das chuvas, mas por conta de protestos dos moradores de áreas da periferia. Ironicamente o socorro que poderia ter salvo vidas, ou pelo menos minimizado os efeitos das tragédias localizadas, tardou a chegar, em muitos locais, por conta das ações equivocadas dos próprios moradores.

Na Via Regional, que liga a região de Pau da Lima e São Marcos à BR-324, passando por Cajazeiras, o trânsito foi fechado por moradores que protestaram porque suas casas foram tomadas pelas águas. Equipes da Defesa Civil que tentaram chegar ao local ficaram presas no trânsito, e pacientes e médicos não puderam chegar ao Hospital São Rafael, porque as vias de acesso estavam bloqueadas.  O mesmo ocorreu em Narandiba, Av. Suburnana e no Bairro do Uruguai, onde moradores fecharam  as ruas e  travaram o trânsito, impedindo a chegada de qualquer equipe de socorro ao local.
O inusitado, se não fosse trágico, é que as chuvas têm sido mais intensas, conforme as medições pluviométricas dos institutos de meteorologia, justamente em áreas do chamado “miolo”, que compreende os bairros localizados entre o Subúrbio Ferroviário e a Avenida Paralela. São bairros densamente povoados, com pouca ou nenhuma infraestrutura e onde mais se registram as tragédias provocadas pelas chuvas. Portanto, os que mais sofrem com as chuvas.
Queimar pneus e fechar o trânsito de acesso à essas localidades, como forma de extravasar a revolta por causa dos danos provocados pelas chuvas, não traz qualquer benefício. Atinge outra parcela da população, aquela que vai trabalhar ou está retornando para suas casas, e o pior, justamente aqueles trabalhadores, bombeiros, ambulâncias, Defesa Civil, que poderiam estar chegando a essas localidades com o intuito de ajudá-las.
Em que pese o propósito de chamar a atração das autoridades, protestos assim, em vez de benefícios, trazem um efeito adverso para os próprios moradores dessas localidades, na medida em que impedem a chegada de socorro, tão providencial e em tempo hábil e, consequentemente, evitar tragédias ainda piores.

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