Salvador: opinião
Por
Adilson
Fonseca
é
Jornalista
Uma
criança de 12 anos e seis adultos morreram soterrados por causa das chuvas que
caíram em Salvador nesta segunda-feira, na Avenida San Martin. No bairro do Bom
Juá, uma encosta cedeu e soterrou uma casa, levando junto alguns moradores que
foram salvos por outros moradores. Sete pessoas morreram. E na Jaqueira do
Carneiro, palco das tragédias neste início de semana, moradores protestaram por
causa dos estragos, fechando a pista da BR-324.
Em
diversas partes da cidade, alagamentos deixaram veículos submersos, casas
alagadas e encostas cedendo formaram um quadro caótico em Salvador. Equipes do
Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil se desdobraram para atender às inúmeras
solicitações e prestarem os primeiros socorros nos locais de tragédias.
Mas
encontraram um grande obstáculo pela frente: a falta de condições de ter acesso
a essas localidades, por causa do trânsito congestionado, não apenas por causa
das chuvas, mas por conta de protestos dos moradores de áreas da periferia.
Ironicamente o socorro que poderia ter salvo vidas, ou pelo menos minimizado os
efeitos das tragédias localizadas, tardou a chegar, em muitos locais, por conta
das ações equivocadas dos próprios moradores.
Na
Via Regional, que liga a região de Pau da Lima e São Marcos à BR-324, passando
por Cajazeiras, o trânsito foi fechado por moradores que protestaram porque
suas casas foram tomadas pelas águas. Equipes da Defesa Civil que tentaram
chegar ao local ficaram presas no trânsito, e pacientes e médicos não puderam
chegar ao Hospital São Rafael, porque as vias de acesso estavam bloqueadas.
O mesmo ocorreu em Narandiba, Av. Suburnana e no Bairro do Uruguai, onde
moradores fecharam as ruas e travaram o trânsito, impedindo a
chegada de qualquer equipe de socorro ao local.
O
inusitado, se não fosse trágico, é que as chuvas têm sido mais intensas,
conforme as medições pluviométricas dos institutos de meteorologia, justamente
em áreas do chamado “miolo”, que compreende os bairros localizados entre o
Subúrbio Ferroviário e a Avenida Paralela. São bairros densamente povoados, com
pouca ou nenhuma infraestrutura e onde mais se registram as tragédias
provocadas pelas chuvas. Portanto, os que mais sofrem com as chuvas.
Queimar
pneus e fechar o trânsito de acesso à essas localidades, como forma de
extravasar a revolta por causa dos danos provocados pelas chuvas, não traz
qualquer benefício. Atinge outra parcela da população, aquela que vai trabalhar
ou está retornando para suas casas, e o pior, justamente aqueles trabalhadores,
bombeiros, ambulâncias, Defesa Civil, que poderiam estar chegando a essas localidades
com o intuito de ajudá-las.
Em
que pese o propósito de chamar a atração das autoridades, protestos assim, em
vez de benefícios, trazem um efeito adverso para os próprios moradores dessas
localidades, na medida em que impedem a chegada de socorro, tão providencial e
em tempo hábil e, consequentemente, evitar tragédias ainda piores.
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