Histórias em quadrinhoS
“Gosto de debater sobre assuntos em
geral, não aceito verdades absolutas. Convido-o a entrar nesse redemoinho de
possibilidades junto comigo.”
Por Paula
Cremasco
Nossos heróis de histórias em quadrinhos projetados nas telonas fazem
corações pulsar acelerados diante de toda a ação dos enredos e nós nem sequer
saímos da cadeira do cinema (ou do sofá) para lutar junto a eles contra o mal.
Qual efeito tem os nossos modelos de herói na nossa percepção da realidade?
Conheci um moleque que era super fã de quadrinhos
na época do ensino médio. Era aquele tipo de cidadão que tinha todas as edições
raras importadas sabe-se lá Deus de onde para formar uma coleção de inestimável
valor, tanto sentimental quando financeiro. Naquela época ainda não eram tão
veiculadas através da sétima arte as histórias que líamos em papel jornal, como
a do Homem-Aranha, Quarteto Fantástico, Capitão
América, Os Vingadores, X-Men e por aí
adiante. Porém, por outro lado também não eram poucas as crianças que brincavam
pelo parquinho fingindo lançar infinitas teias por entre o trepa-trepa e o
balanço, e martelos de Thor serem feitos de papel machê, pintados para replicar
o do gibi. As histórias nos envolviam de tal forma que não havia como não
querer fazer parte dos X-Men, lançando raios imaginários pelos olhos e
controlando hipoteticamente o pensamento dos amiguinhos da escola. Os tempos
mudaram, agora nossas histórias favoritas são também interpretadas em forma de
filmes, mas o nosso amor por elas nunca se modificou.
Fico
muito alegre quando vou ao cinema e vejo criancinhas vestidas de Batman ou de
Mulher-Maravilha, de Hulk ou de Homem de Ferro. Sento na poltrona e enquanto o
filme não começa gosto de ouvir as conversas animadas sobre as expectativas em
relação ao que está por vir. Dou muita risada quando me ponho a papear com elas
e me atrevo a perguntar: "Se você pudesse ter um super poder, qual
seria?", pois cada uma das respostas é singular e me revela muito sobre a
personalidade da criança. Voar. Controlar mentes. Pular bem alto. Ser elástico.
Ser super forte. Ser verde. Lançar raios dos olhos. Congelar pessoas. Obrigar
as pessoas a fazer o que eu quero. Correr muito rápido. Ter uma boa mira com o
arco e flecha ou arma. Ser um gênio, bilionário, playboy e filantropo (uma vez
um menino de 13 anos me respondeu isso, ao que eu repliquei com um sorriso
amarelo e pouco encorajador). Conversar com as crianças me faz perceber o
quanto projetamos a nós mesmos nesses personagens fictícios, almejando
características que a nós seriam pouco possíveis ou até mesmo improváveis.
Permitir a nós mesmos uma fuga temporária da própria realidade é algo
recorrente desde a infância quando começamos a imaginar contextos, ler
histórias em livros, ver filmes ou desenhos animados e por aí vai. A regra é a
suspensão da descrença e o mergulho em mundos nos quais animais podem falar,
seres humanos (ou nem tão humanos assim) tem super poderes incríveis, máquinas
dominam o mundo ou zumbis tomam conta da civilização. O infinito é o limite
para a nossa criatividade de entreter e encantar todas as idades e gostos.
Agora
pergunte a um adulto qual super poder ele gostaria de ter... Mesmo depois de
crescer e deixar de lado as vestes infantis continuamos gostando tanto da
fantasia que não nos contentamos em deixar para trás nossa imaginação inventiva
de histórias fantásticas. Dessa vontade nascem enredos especificamente voltados
ao público adulto, como por exemplo, a incrível obra de O Senhor dos
Anéis de J.R.R. Tolkien, ou a tão comentada história
de Game of Thrones de George R.R. Martin, que
diferem dos super heróis por se tratarem de enredos diferentes e abordarem
outras temáticas. Desde o nascimento até o nosso último suspiro somos
instigados pelo sobrenatural, o mito, o impossível, o fantasioso. Tudo isso
funcionando em perfeita harmonia graças à nossa ânsia pelo surpreendente. Não
digo que todos sejam fascinados por histórias assim, mas em algum nível (com
variáveis a se considerar) somos influenciados, cativados e inspirados pelo que
lemos, ouvimos e assistimos.
Então
quando perguntarem qual super herói é o mais incrível de todos deixe sua
imaginação voar pelas páginas daqueles seus gibis antigos e já amarelados,
lembrar de cada um dos filmes que já assistiu e de todas as lutas épicas entre
mocinhos e vilões para responder. Lembre-se também das histórias infantis que
entretinham tanto e ensinaram você a ler, desvende seu gosto pela arte e
observe o fato de ela se expressar de diferentes e variadas formas. Encontre a
que mais agrada e mergulhe de cabeça! Pode ser que você acabe não montando uma
coleção de gibis inestimável como a do menino do meu ensino médio, mas aposto
uma moeda (não arriscarei o valor dela) no fato de existir algo que exerça um
fascínio enorme em você. E aí, já descobriu qual é? Se quiser conte para nós
nos comentários!
*Imagem
retirada de domínio público.
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