Natureza
Ella DaviesDa BBC Earth
Conheça
as criaturas que evoluíram para a transparência para evitar predadores,
sobreviver a baixas temperaturas ou atrair presas.
'Polvo de vidro'
O Vitreledonella richardi,
chamado em inglês de polvo-de-vidro, é uma das criaturas mais misteriosas do
mundo. Trata-se de uma espécie elusiva, que vive nas profundezas do oceano e
que fica praticamente invisível dentro d'água. Apenas seus órgãos digestivos e
olhos são opacos.
Diferentemente dos olhos grandes e arredondados de outros habitantes de
águas profundas, esse polvo tem olhos que parecem retangulares – são, na
realidade, tubos cilíndricos eficientes que apontam para cima para captar a luz
natural residual vinda do céu.
O formato dos olhos ajuda o polvo a se camuflar no meio do oceano, onde
não há esconderijos. Isso porque, vistos de baixo, eles formam uma sombra bem
menor do que os olhos de outros polvos.
'Rã de vidro'
Os anuros da família Centrolenidae também são chamados de
"rãs-de-vidro", em inglês, por causa de sua pele transparente. São
encontrados nas Américas do Sul e Central, principalmente nas florestas.
Muitas das 100 espécies da família têm barrigas translúcidas, que
permitem enxergar o contorno dos órgãos, ossos e vasos sanguíneos.
Em algumas espécies, os ossos visíveis são verdes, enquanto em outras os
órgãos também são translúcidos. As costas são de um verde vivo, o que ajuda o
animal a se disfarçar entre as folhas e copas das árvores.
Uma nova espécie chamada Hyalinobatrachium
dianae foi descoberta em 2015 por Brian Kubicki e seus colegas
do Centro de Pesquisas sobre Anfíbios da Costa Rica. A cor verde-limão da rã
lembra Caco, o Sapo, do Muppet Show, e o
animal emite um coaxo longo e metálico.
Medusa-da-lua
Sob os flashes de algum fotógrafo submarino, a
medusa-da-lua (Aurelia aurita) parece um globo
luminoso. Mas seu nome está relacionado aos quatro órgãos reprodutivos em forma
de ferradura que são visíveis na estrutura superior em formato de
"guarda-chuva", o disco.
Nos machos, esses órgãos são brancos. Nas fêmeas, rosados.
Essa água-viva é um dos animais transparentes mais facilmente
reconhecidos, principalmente nas praias da Europa.
A criatura flutua perto da superfície do mar, onde aprisiona plâncton
com sua superfície rica em muco e os move até sua boca.
O animal também espalha seus tentáculos sob a água para tentar agarrar
refeições maiores. Os tentáculos e a borda do disco são cobertos de células que
podem paralisar pequenos peixes.
A medusa-da-lua em geral não provoca muita dor quando entra em contato
com seres humanos, mas costuma causar outros tipos de problemas. Muitas usinas
nucleares tiveram que fechar seus reatores depois que seus sistemas de
ventilação foram inundados por esses animais.
'Cyanogaster notívaga'
Esse peixe é uma descoberta relativamente recente e, por isso, ainda não
ganhou um nome popular. Ele foi batizado em latim com algo que significa
"um ser de barriga azul que vagueia pela noite".
Isso já dá pistas sobre a aparência e o comportamento desses animais.
Mas deixa de fora o fato de que, exceto pelo abdômen e a cabeça, ele é quase completamente
transparente – principalmente os mais jovens, o que os ajuda a se disfarçar
antes de chegarem à maturidade.
Descoberto no rio Negro em 2011, o C. noctívaga
atinge até 1,7 centímetros – apenas 7 milímetros a mais do que o menor peixe do
mundo, Paedocypris progenética, que vive em Sumatra.
Foi uma descoberta surpreendente, já que os cientistas acreditavam que o
maior tributário do rio Amazonas já tinha sido totalmente explorado.
Depois disso, os pesquisadores encontraram mais espécimes no Museu de
Zoologia da USP, onde estavam arquivados sem serem identificados por 30 anos.
'Noz-do-mar'
Se uma criatura se move lentamente, não tem olhos nem cérebro e
basicamente se parece com uma gota transparente, ela praticamente pode ser
chamada de "noz-do-mar".
O Mnemiopsis leidyi recebeu
seu nome comum por causa de sua aparente falta de vida.
Não se trata de uma água-viva, mas de um exemplar do filo das
águas-vivas-de-pente. Em vez de se moverem por jatos de propulsão, essas
espécies são mobilizadas por fileiras de estruturas microscópicas que vibram e
se parecem com um pente.
A noz-do-mar é transparente, mas nela, essas finas estruturas se
iluminam em várias cores. O animal também emite um brilho bioluminescente
verde-azulado, usando células especiais chamadas fotócitos.
Ele usa esses "pentes" para agarrar suas presas, empurrando
água cheia de plâncton diretamente para sua boca. São predadores tão vorazes
que podem interferir na cadeia alimentar dos habitats que ocupam, competindo
com peixes pelas algas microscópicas.
'Borboleta de asas de vidro'
Enquanto as borboletas são famosas por suas cores vibrantes e
chamativas, usadas para comunicação e acasalamento, algumas espécies preferem
ser mais discretas, escondendo suas cores sob as asas para evitar predadores.
Mas nenhuma delas é tão radical quando a
"borboleta-de-asa-de-vidro" (Greta oto), que pode
ser encontrada na América Central. Como seu nome diz, suas asas são
transparentes.
Ao contrário da maioria das borboletas, esta espécie não apresenta
escamas em boa parte de suas asas, oferecendo "janelas" para o fundo
sobre a qual estão pousadas.
Outro aspecto impressionante é a maneira como as asas refletem tão pouca
luz que nem mesmo um mínimo movimento indica a presença do animal.
Um estudo realizado este ano descreveu como as asas dessas borboletas
são formadas por minúsculas estruturas parecidas com colunas de vários formatos
e tamanhos, arranjadas de maneira aleatória. É isso o que possibilita o mínimo
de reflexo – e poderá ser um dia aplicado para criar telas mais eficientes para
computadores, tablets e smartphones.
Esponjas-de-vidro
Apesar de várias espécies de animais transparentes serem comparadas com
vidro, a única que é mais precisa é essa classe esponjas, cujo esqueleto é
feito de sílica – o principal material usado na fabricação do vidro.
Os corpos rígido das esponjas-de-vidro ficam
implantados no leito do mar. A espécie conhecida como "vaso-de-vênus"
(Euplectella aspergillum) vive nas águas frias do oeste
do Pacífico, a até 1 mil metros de profundidade. Elas podem se acumular e
formar uma coluna de até 25 metros.
Seu formato se parece com um elaborado vaso. Para se alimentar, a
esponja suga água através de seus tecidos e filtra partículas de alimentos.
Quando retirados do mar, essas esponjas adquirem uma cor pálida e opaca.
'Borboletas-marinhas'
As "borboletas-marinhas" (subordem Thecosomata) são, na realidade, moluscos marinhos que
se adaptaram à vida perto dos polos.
Em vez de usar seu pé para rastejar pelo fundo do mar, esse animal os
utiliza para nadar. O membro é dividido em dois lóbulos e parece com um par de
asas transparentes que "batem" ao se movimentar. Daí o nome desse
molusco.
As espécies de borboleta-marinha que ainda conservam suas conchas
conseguiram torná-las completamente transparentes.
O animal se alimenta ao produzir uma rede de muco sobre suas asas para
aprisionar partículas de comida. Essa rede pode chegar a um tamanho cinco vezes
maior que o do próprio molusco. Para comer, ele suga toda essa rede e recupera
os nutrientes usados para produzi-la.
Cientistas acreditam que as borboletas-marinhas compõem mais do que 50%
do zooplancton do mar nas zonas polares, alimentando-se de restos de uma
variedade de animais – de arenques a focas.
'Camarão-fantasma'
A transparência é um look popular entre os
camarões. Estes pequenos crustáceos evoluíram para isso com o objetivo de se
tornarem invisíveis aos predadores. O termo "camarão-fantasma" é
aplicado a vários grupos desses animais – e o maior deles é o gênero Palaemonetes.
Existem mais de 40 espécies diferentes de Palaemonetes, vivendo em água doce ou salgada, em
todo o mundo. Algumas vezes também são chamadas de
"camarões-de-vidro", por causa de seu exoesqueleto translúcido.
Muitos camarões-fantasmas são cultivados em aquários porque eles se
alimentam de detritos e limpam o tanque. Algumas espécies são tão claras que é
possível ver a comida dentro de seus estômagos. As ovas verdes também podem ser
vistas nas barrigas das fêmeas.
Os olhos são uma das poucas partes opacas desses animais.
'Peixe-gelo antártico'
Vivendo a 10 metros de profundidade, no Oceano Antártico, onde a
temperatura beira os - 2ºC estão peixes que parecem feitos de gelo. O
"peixe-gelo antártico" está tão bem adaptado a essas águas que possui
até uma proteína anticongelante em seu sangue e outros fluidos corporais.
Esse peixe, pertencente à subordem Notothenioidei é pálido. Alguns têm uma pele
translúcida. Em uma família, a dos chamados "peixes-gelo-crocodilos",
até o sangue é branco, já que não possuem hemoglobina.
Cientistas acreditam, no entanto, que isso se trata de um erro
evolucionário. Com seu sangue claro, o peixe-gelo só consegue transportar o
equivalente a 10% do oxigênio transportado por peixes com sangue vermelho. Para
compensar, seus corações são maiores, assim como sua rede de vasos sanguíneos.
O peixe-gelo domina as águas antárticas, formando 35% da biomassa. Mas o
rápido aquecimento do mar pode colocá-lo em risco de extinção.
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