Camisetas anti-Levy, palmas para Vaccari e protestos de rua da direita
são contradições registradas no encontro do PT
PT quer recuperar terreno com
militância sem falar de corrupção
ANTONIO JIMÉNEZ BARCA São Paulo
Jornal
El País - Facebook
891
Pelos saguões do hotel da praia do Rio Vermelho, em Salvador, onde
acontece o V Congresso Nacional do PT, legenda de Luiz Inácio Lula da
Silva e da presidenta Dilma Rousseff, há militantes que passeiam com uma
mensagem explícita na camiseta: "Fora o plano de Levy". O ministro da
Fazenda, Joaquim Levy, é um liberal alheio ao partido, mas escolhido por Dilma,
em janeiro, para conduzir o ajuste fiscal e a política econômica de
corte de gastos que, na opinião dos dois, são necessários para que o país volte
a crescer no próximo ano (no momento flerta com a recessão). As camisetas
antiministro são um sintoma da peculiar esquizofrenia vivida pelo maior partido
do Brasil, no poder há mais de 12 anos (oito com Lula e quatro com o primeiro
mandato de Dilma).
Outro
sintoma dessa contradição é a turbulenta redação do principal documento do
congresso, a chamada Carta de Salvador, da qual foram retiradas, ao longo da
semana, folha por folha, as críticas escritas em um primeiro momento contra a
política econômica do Governo. A própria presidenta, há poucos dias, mandou um
aviso de que não se pode criticar o ministro da Fazenda por tudo ("não se
pode fazer isso, criar um Judas”) em um pronunciamento que, para especialistas,
foi dirigido especialmente aos que estavam preparando o congresso.
O terceiro
sinal de esquizofrenia de que padece o partido apareceu quando o presidente Rui
Falcão aludiu ao tesoureiro João Vaccari, acusado de pertencer à trama
corrupta da Petrobras e ter angariado dinheiro para o partido proveniente
dos subornos das empresas que alardeavam contratos. Ao ouvir o nome de Vaccari, os participantes do Congresso aplaudiram.
Entusiasticamente. Essa aclamação, que durou três minutos e serviu para redimir
o tesoureiro, pelo menos aos olhos do partido, pode se compatibilizar mal com a
promessa da presidenta Dilma Rousseff de perseguir a corrupção seja lá onde ela
estiver.
Poderíamos falar de
outra contradição: o PT, formação esquerdista de inspiração popular, perdeu o
controle das ruas. As últimas manifestações de massa pertenceram aos adversários
de Lula e Dilma Rousseff, que lotaram a Avenida Paulista. As centenas de
militantes e os quadros dirigentes buscam nesse Congresso recuperar a pulsação
vital das pessoas comuns. Mas isso às vezes é difícil quando se detém o poder
por tanto tempo e a questão é discutida no salão de um hotel (cinco estrelas).
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