Cidade
europeia
Santiago de Compostela é uma
cidade e município (concello em galego) no noroeste
de Espanha. É capital da autonomeada Galiza e faz parte
da província da Corunha e da comarca de Santiago.
O município tem 220 km² de área e em 2012 tinha 95 671
habitantes (densidade: 434,9 hab./km²).
É uma cidade internacionalmente famosa como um dos
destinos de peregrinação cristã mais importantes do mundo, cuja
popularidade possivelmente só é superada por Roma e Jerusalém.
Ligado a esta tradição, que remonta à fundação da cidade no século IX,
destaca-se a catedral de Santiago de fachada barroca, que
alberga o túmulo de Santiago Maior, um dos apóstolos de Jesus
Cristo. A visita a esse túmulo marca o fim da peregrinação, cujos percursos, os
chamados Caminhos de Santiago ou Via Láctea, se estendem por toda a
Europa Ocidental ao longo de milhares de quilómetros. Desde 1985 que o seu centro histórico (cidade velha) está incluído na
lista de Património Mundial da UNESCO. Em 1993 foi também
incluído nessa lista o Caminho de Santiago, que já tinha sido classificado como
o primeiro itinerário cultural europeu pelo Conselho da Europa em
1987. Foi uma das capitais europeias da cultura em 2000.
Situa-se 70 km a sul da Corunha,
65 km a norte de Pontevedra, 100 km a noroeste de Ourense e
115 km a norte da fronteira portuguesa de Valença. Como capital da
Galiza, ali está sediado o governo (Junta da Galiza) e o parlamento regionais
galegos. É também uma importante cidade
universitária, pela sua universidade, fundada em 1495 e que no ano letivo
de 2011-2012 tinha mais de 28 000 alunos inscritos e no ano anterior
tinha 2 164 docentes.
A origem do topónimo Compostela é um tema
controverso, nomeadamente porque a possibilidade de a relacionar com o sepulcro
de Santiago tende a que haja muitos argumentos emotivos ou baseados na
tradição.
O primeiro nome medieval conhecido do local da
cidade é Libredón, que para alguns teria origem celta ("castro
do caminho") e para outros deriva do latim liberum donum ("concessão
gratuita"). Entre os séculos IX e XI chamou-se Arcis Marmoricis, que
apresenta o topónimo Arca, quase sempre indicador de um sepulcro ou
uma mamoa. No século XI os registos históricos começam a
mencionar Compostella como um subúrbio, ou seja, parte de uma vila, que alguns
situam na zona atual da Rua do Franco. A partir do século XI esse
nome passa a aplicar-se a toda a vila.
Uma das versões mais divulgadas é a de que é uma
derivação do latim Campus Stellae ("campo da
estrela"), que evoca a estrela que que indicou milagrosamente ao bispo Teodomiro a
localização do túmulo de Santiago (ver secção História – Origens). No
entanto, o Cronicon Iriense (XI e XII) indica como origem do
nome compositum tellus (plural: composita tella,
"terras bem ajeitadas" ou "terras belas"), que pode ser um
eufemismo para cemitério. No capítulo XII da Crónica de
Sampiro (século XI) refere-se «Compostella, id est bene composita».
No capítulo XII do Códice Calixtino, do século XII, conta-se a
história de uma mulher chamada Compostella, presumivelmente ligada à pregação
do Apóstolo.
Pórtico da Glória
Ángel Amor Ruibal, recordando o significado
de compositum ("enterrado") interpretou Compostela
como significando " "lugar onde está enterrado". José Crespo
Pozo e Luís Monteagudo consideram o topónimo anterior à tradição
de Santiago, porque ele existe noutras partes da Galiza (e em O
Bierzo há uma Compostilla), considerando-o uma derivação de comboros (escombros)
e steel (ferro), significando "escória de minas e forjas e
relacionando-o também com o bairro da cidade de Estila. Compostela pode ainda
ser um hipocorístico do antropónimo Composta.
Na área atualmente ocupada pela catedral existiu um
povoado romano que geralmente se identifica com a chamada mansão de Asseconia,
situada à beira da estrada romana identificada como Via XIX no Itinerário
de Antonino, que ia de Bracara Augusta (atual Braga) até Astúrica Augusta (atual Astorga). Este povoado
existiu entre o século I d.C. e o século V, mas ali permaneceu
uma necrópole que possivelmente foi usada durante Reino
Suevo e até ao século VII.
A fundação da cidade está ligada à alegada
descoberta dos restos mortais do apóstolo Santiago Zebedeu, ocorrida
em 812 ou 813 ou ainda, segundo outras versões ou estimativas, entre 820 e 835
ou entre 818 e 842, que deu uma importância religiosa crescente ao local. A
cidade desenvolveu-se graças à popularidade crescente como destino de
peregrinação e, a partir do século XVI, também à criação da universidade.
Na atualidade a cidade deve também parte da sua importância ao estatuto de
capital da Galiza.
Segundo a tradição medieval, cujo registo mais
antigo aparece na Concórdia de Antealtares (1077), o eremita Pelágio (ou
Paio), alertado por luzes noturnas que avistou no bosque de Libredão (Libredón)
avisou o o bispo de Iria Flávia, Teodomiro, que deslocando-se ao
local descobriu um sepulcro de pedra no local onde está agora a catedral. No
sepulcro repousavam três corpos, que o bispo identificou como sendo de Santiago
Maior e de dois dos seus discípulos Teodoro e Atanásio.
A descoberta — ou a sua invenção — ocorreu num
período em que o rei Afonso II das Astúrias estava
empenhado em combater o perigo de secessão e no reforço da coesão do seu reino.
Para tal declara-se o genuíno representante da tradição goda em matéria de
religião e leis, visando com isso assegurar a unicidade do poder. Além disso,
nomeia um herdeiro de sangue real, embora não primogénito, para governar a
Galiza. Mas o ato mais genial dessa política é a criação de Compostela.
Aproveitando a notícia da descoberta do corpo do apóstolo, Afonso II fez
uma peregrinação ao local (segundo a tradição, foi ele o primeiro peregrino de
Santiago) e ali manda construir a suas expensas uma igreja a que concede
privilégios e ali fixa uma comunidade religiosa. Em volta da igreja fixa
população e funda uma povoação que desde o início goza de prerrogativas reais.
Com isto, o rei asturiano consegue encontrar um padroeiro para a sua
causa contra os muçulmanos, um Santiago cavaleiro e "mata-mouros",
e ao mesmo tempo passa a ter uma cidade fiel até ao limite encravada no coração
da Galiza. Santiago torna-se assim o braço estendido do monarca asturiano na
Galiza.
A notícia da descoberta do túmulo espalhou-se tanto
no reino como fora dele, fazendo com que Compostela se tornasse um novo lugar
de peregrinação da cristandade, numa altura em que a importância de Roma decaíra
e Jerusalém estava inacessível por estar nas mãos dos muçulmanos.
A cidade foi-se desenvolvendo pouco a pouco. À
comunidade eclesiástica estabelecida por Afonso II que tinha a seu cargo o
sepulcro e respetiva igreja, constituída pelo bispo de Iria Flávia e
pelos monges de Antealtares foi-se juntando espontaneamente
uma população heterogénea, a maioria proveniente das aldeias próximas. O
povoado foi crescendo ao mesmo tempo que a peregrinação se tornou mais popular,
estende-se a todo o Ocidente da península Ibérica. O crescimento foi
reforçado com o privilégio concedido por Ordonho II em 915, que
determinava que quem quer que permanecesse quarenta dias sem ser reclamado
como servo passava a ser considerado como um homem livre com direito
a residir em Compostela. O primeiro habitante conhecido de Compostela é um
estrangeiro de nome Bretenaldo Franco, cuja menção mais antiga é de 955.
A prosperidade do cabido catedralesco e dos
mosteiros fez de Santiago um centro artístico de ponta. No início deste novo
período áureo, começaram a trabalhar nas oficinas da catedral uma série de
mestres de obras e arquitetos forasteiros, como o madrileno José Vega
y Verdugo, o português Francisco de Antas, o avilense José Peña de
Toro, o cântabro Melchor de Velasco ou o arquiteto real Pedro de
la Torre. Nestas oficinas e no de São Martinho Pinário formou-se um grupo de
arquitetos galegos que em 1670 passaram a dirigir as obras que estavam a
decorrer em toda a cidade. Figuras notórias como o compostelano Diego de
Romay, Domingo de Andrade (autor da torre do relógio), Frei Tomás
Alonso, o leonês Frei Gabriel de Casas, Pedro de Monteagudo, Simón
Rodríguez (autor da fachada do Convento de Santa Clara), Francisco de
Castro Canseco (retábulo de São Paio de Antealtares), Clemente Fernández Sarela
(casas do Cabido e do Deão) ou Fernando de Casas
Novoa (fachada do Obradoiro), tornaram Santiago um conjunto barroco de
alto nível à escala mundial. A magnificência e as peculiaridades do estilo
arquitetônico desenvolvido por estes artistas fazem com que se fale de barroco
compostelano. O mecenas por excelência foi Frei António de
Monroy, arcebispo de Santiago entre 1685 e 1715.
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