Sou paulistana, escritora, bacharel em Cinema, professora
universitária e doutora em Comunicação e Semiótica. Entre meus livros estão
"Como identificar e se livrar de um babaca: Guia de sobrevivência
feminina, "Hispanismo e erotismo: O cinema de Luis Buñuel", "O
cinema da paixão: Cultura espanhola nas telas" e "Sociologia da
Educação", indicado ao Jabuti 2013. Defendo a ideia de que filmes
inteligentes e críticos podem estimular a longo prazo novas atitudes,
pensamentos e sentimentos.
PUBLICADO EM ARTES
E IDEIAS POR SÍLVIA
MARQUES
A
profundidade pode ser encontrada em qualquer gênero. A inteligência e
sensibilidade não são exclusividades do drama. É triste ver que um preconceito
medieval permanece nos dias atuais. Na Idade Média o humor era visto como
satânico porque leva a muitas leituras, muitas interpretações.
Esclareço
logo de cara que não tenho nada contra textos estrangeiros e pessoas
estrangeiras. Não sou xenofóbica, amo a Europa e vi muitas peças boas escritas
por autores estrangeiros. Vou além. Sou especialista em cinema europeu. Porém,
acredito que os diretores, atores e produtores teatrais brasileiros deveriam
dar um pouco mais de atenção aos seus escritores.
Vemos
repetidas vezes companhias montando textos de autores estrangeiros consagrados
que já morreram. Para muitos atores dá mais status montar um estrangeiro como
se não houvesse dramaturgo no Brasil. Outra questão chata e embaraçosa: cursos
que investem em dramaturgia só apostam em gente que escreve drama. Se um bom
dramaturgo, com conteúdo e bagagem cultural se dedica à comédia não é
valorizado. Mais do que isso. Nem tem a oportunidade de participar de uma
oficina séria de dramaturgia.
Qual
é o problema com o humor? Concordo que muitas montagens cômicas são realmente
rasas. Mas isto também acontece com alguns dramas ou textos pseudos
intelectuais que apenas servem para aborrecer e fazer a gente ficar com aquela
sensação de que perdeu tempo.
A
profundidade pode ser encontrada em qualquer gênero. A inteligência e
sensibilidade não são exclusividades do drama. É triste ver que um preconceito
medieval permanece nos dias atuais. Na Idade Média o humor era visto como
satânico porque leva a muitas leituras, muitas interpretações.
Humor
bem feito, sensível, perspicaz e inteligente é tão bom quanto um drama de
qualidade. Uma vez, o autor de novelas Silvio de Abreu disse em uma entrevista
que o humor passa necessariamente pelo racional, o que o tornava muito complexo
em sua opinião. O humor não apela para o sentimentalismo. Ele precisa realmente
denunciar a decadência de nossa sociedade, o ridículo de nossos costumes, a
fragilidade das nossas máscaras e como despencamos em tudo aquilo de que
fugimos. Fazer rir das nossas próprias desgraças é o mesmo que ofender alguém
com um sorriso nos lábios e uma voz melosa. Ficamos impotentes e indefesos
diante de uma crítica bem humorada. Só nos resta acatá-la.
Talvez
daqui 300 ou 400 anos os nossos diretores, produtores e atores comecem a
entender isso...
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