Política nacional
Às vésperas do recesso, investigação de políticos adia calmaria
aguardada pelo Governo.
Cunha cobrou propina de 5 milhões de
dólares, diz delator da Lava-Jato
RODOLFO BORGES São Paulo,
El País, O Jornal Global - Facebook
Cardozo durante depoimento à CPI da Petrobras.
/ LULA MARQUES (AGÊNCIA PT)
A sequência implacável de derrotas que o Governo Dilma Rousseff
acumula neste ano no Congresso Nacional terá seu primeiro refresco a partir
desta sexta-feira, quando os parlamentares entram em recesso por duas semanas.
Mas a aguardada calmaria projetada pelos governistas para os próximos dias em
Brasília não deve se estabelecer, graças à mais recente etapa da Operação Lava
Jato. Um dia após policiais federais apreenderem três carros de
luxo na casa do senador e ex-presidente da República Fernando Collor,
o presidente do Senado, Renan Calheiros, ele próprio também investigado no
escândalo, informou que pretende questionar a ação policial no Supremo Tribunal
Federal (STF).
"Os Poderes precisam, mais do que nunca, estar
voltados para as garantias individuais e coletivas", disse Renan,
questionado sobre a fase Politeia da Lava Jato. O peemedebista disse que
pretende conversar acerca do assunto com o presidente do STF, Ricardo
Lewandowski, e que o Senado, onde uma dúzia de parlmentares são alvos da Lava
Jato, "estuda" ingressar com uma ação no Supremo por conta das
buscas da PF. No início da noite, Lewandowski reagiu. Por nota, informou que
determinou que a Secretaria Judiciária do STF forneça cópia integral dos autos
aos advogados dos parlamentares investigados, para “assegurar a estrita
observância das garantias constitucionais, em especial a da ampla defesa”.
Nessa queda de braço, que envolve ainda ataques de parlamentares ao
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pode acabar sobrando para o
Governo, pois os parlamentares afetados pela investigação enxergam a mão do
Palácio do Planalto nas ações da PF — apesar dos evidentes danos de toda a
questão para os planos de Dilma. Estariam planejando retaliar com a criação de
novas comissões parlamentares de inquérito, entre elas a que pretende
investigar o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Em depoimento prestado à CPI da Petrobras nesta quarta-feira, o ministro
da Justiça, José Eduardo Cardozo, garantiu que jamais atuará "no sentido
de controlar ou direcionar as investigações" da PF. Cardozo aproveitou o
depoimento para destacar a “honestidade” e a correção da presidenta Dilma,
acrescentando ter certeza de que "nenhum fato relativo à corrupção, desvio
de dinheiro ou improbidade chegará perto da presidente". Horas antes, ao
comentar a crise econômica durante agenda em Santa Catarina, Dilma disse que
"é preciso humildade para reconhecer que se passa por dificuldade, mas
também é preciso coragem e dignidade para poder superar as dificuldades".
Temer e
2018
Seu vice-presidente, Michel Temer, não parece, contudo, na mesma
sintonia que a mandatária. Em meio à tensão política, Temer, que é o atual
articulador político do Palácio do Planalto e cujo partido pode ser
determinante no desfecho da crise, preferiu mirar para o futuro. Disse, durante
evento do PMDB, que seu partido pretende lançar um candidato à presidência em
2018: "Nós
estamos abertos para novas alianças, com todos os partidos. Apenas o que está
sendo estabelecido é que o PMDB quer ser, digamos assim, cabeça de chapa em
2018". No mesmo evento, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, outro
investigado na Lava Jato e à espera dos desdobramentos da investigação,
endossou a vontade peemedebista de se separar do PT no futuro: "O
PMDB sabe que, em 2018, quer buscar o seu caminho, que não é com essa
aliança", disse Cunha, que impôs as maiores derrotas parlamentares do segundo Governo Dilma.
Diante do
quadro, o cientista político David Fleischer, professor da Universidade de
Brasília (UnB). acredita que a Politeia, na verdade, "piora muito o
cenário para Dilma". "Ela acha que ia ter duas semanas de folga, para
respirar com o recesso do Congresso, mas parece que essa operação não vai
deixar. E ela ainda tem medidas a aprovar por lá [como a desoneração da folha
de pagamento, adiada para depois do recesso], e já vem demonstrando muita
irritação, inclusive com notícias de cobranças ao ministro da Justiça sobre a
Lava Jato", analisa o professor. Na prática, o Governo terá de encarar que
a folga das próximas semanas será cancelada.
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