Phil MercerDa BBC Culture
Como a
história, a geografia, a cultura, a política e a religião de um país podem ser
espremidos para formar um único desenho que caiba em um retângulo?
Guerras, revoluções, uniões políticas e rivalidades
públicas deram forma às cores e ao conteúdo das bandeiras de todo o mundo – o
mais evocativo dos símbolos de uma nação.
Mas recentemente alguns países estão repensando
essa imagem. O governo das Ilhas Fiji, por exemplo, prometeu a seu povo um novo
emblema nacional que não faça referência a seu passado colonial.
E a Nova Zelândia lançou um concurso para encontrar
o estandarte que represente tanto sua identidade moderna e multicultural quanto
sua rica herança indígena maori.
Dois referendos
Design de arquiteto
austríaco que adotou Nova Zelândia é um dos favoritos do público
Os neozelandeses tinham até esta quinta-feira para
submeter suas ideias a um júri independente, formado por figuras proeminentes
do país, e que vai ajudar a decidir a cara da nova bandeira.
A tarefa dos jurados será escolher entre aqueles
que consideram os quatro melhores candidatos, que serão então submetidos a um
referendo popular em novembro.
O desenho ganhador participará de um segundo turno
em 2016, no qual os eleitores decidirão se adotam o projeto vitorioso ou se mantêm
atual bandeira do país, que exibe a Union Jack, dos colonizadores britânicos,
sobre um fundo azul com quatro estrelas vermelhas que simbolizam o Cruzeiro do
Sul.
Milhares de projetos foram inscritos no concurso.
Cada um será avaliado individualmente antes de a lista ser reduzida a quatro.
Nação de migrantes
Projeto de artista
Otis Frizzell aposta nos símbolos da natureza neozelandesa
Entre os desenhos submetidos está um design de 1983
feito pelo arquiteto austríaco Friedensreich Hundertwasser, que adotou a Nova
Zelândia nos anos 1970 e viveu ali até sua morte, em 2000.
Sua criação verde e
branca se baseia no koru (“laço” em
maori), uma forma em espiral que representa um broto de samambaia – a planta
típica do país.
Mike Summerfield, um dos vários cidadãos que
sugeriram a adoção do desenho de Hundertwasser, acredita que a experiência do
arquiteto como imigrante é algo que está no âmago de ser neozelandês. “Em
relação à História mundial, todos nós somos migrantes recentes na Nova
Zelândia”, argumenta.
O artista e ilustrador Otis Frizzell também
escolheu motivos maoris para sua ideia. Ele manteve as estrelas do Cruzeiro do
Sul e apresenta uma bandeira fincada em três elementos: o céu, a terra e o mar,
em verde, preto e branco.
“Foi o Cruzeiro do Sul que guiou todo o mundo até
aqui, desde os primeiros habitantes aos colonizadores”, explica. “O branco
representa as cristas brancas das ondas do oceano. As formas verdes são nossas
montanhas e a cor do mar. Tudo isso significa Nova Zelândia para mim.”
‘Simplicidade é fundamental’
Para especialista,
bandeira de Nauru expressa com perfeição a história do país
Em setembro, Sydney, na Austrália, vai abrigar o
26º Congresso Internacional de Vexilologia, um evento bienal que atrai
especialistas em bandeiras de todo o mundo.
Para Ralph Kelly, presidente do comitê organizador
da conferência, esses objetos são como obras de arte. Sua coleção pessoal
inclui as insígnias reais do Kaiser alemão e do Xá da Pérsia, além da bandeira
da Suazilândia. “É um design que ‘grita’ África e tem um grande significado”,
afirma.
“As bandeiras que não funcionam são aquelas que
tentam ter um pouco de tudo. A melhor abordagem é decidir quais os elementos
mais importantes do país que você está tentando representar”, explica. “A
simplicidade é fundamental, mesmo que você tenha que deixar de lado algum
elemento.”
Algumas bandeiras são consideradas mais bonitas do
que outras. Um exemplo é o emblema do Canadá, com sua folha de ácer vermelha
com 11 pontas, e apontado como perfeito por muitos vexilologistas.
Trata-se de um desenho simples, impactante e
imediatamente reconhecível. Kelly acredita que a bandeira é extremamente
eficiente em “reforçar uma identidade nacional”.
Mas a favorita do especialista é a bandeira que se
agita sobre a menor república do mundo, a minúscula ilha de Nauru, no Pacífico
Sul.
“É uma bandeira
azul com uma linha amarela no centro marcando a linha do Equador, e uma grande
estrela de 13 pontas representando os clãs históricos do país. Ela diz: ‘Este é
o meu lugar no mundo’”, conclui.
Preferida do premiê
Flâmula com folha
de samambaia e Cruzeiro do Sul é a preferida do premiê
Na Nova Zelândia, as figuras que mais têm aparecido
nos projetos inscritos são a folha de samambaia prateada e o kiwi, um pássaro
com um longo bico que também é um símbolo do país.
Há uma década, o arquiteto Kyle Lockwood ganhou um
concurso promovido por um jornal local da capital neozelandesa, Wellington. Ele
fez algumas modificações e inscreveu o projeto no atual concurso.
O desenho tem uma folha de samambaia em um lado e o
Cruzeiro do Sul do outro, nas cores vermelha, branca e azul. Sua criação é a
preferida do primeiro-ministro John Key.
“A folha de samambaia é identificada
instantaneamente por todas as gerações de neozelandeses em casa ou no exterior,
e é um símbolo nacional muito peculiar”, explica Lockwood, em entrevista à BBC.
“Mas é muito difícil colocar uma nação inteira representada em um pedaço de
tecido.”
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