Colaboração de Fernando Alcoforado*
A leitura dos artigos Educating Americans for the 21st
century - Why Are Finland's Schools Successful? (Educar americanos para o
Século 21- Por que as Escolas da Finlândia são bem sucedidas?), publicado no
website e What makes Finnish teachers so special? It’s not brains (O que faz
com os professores finlandeses tão especial? Não é cérebros), publicado no
website permite extrair as conclusões expostas nos parágrafos a seguir.
A Finlândia começou a remodelar seu sistema educacional a
partir de 1963, quando o governo finlandês tomou a decisão de considerar a
educação pública como sua melhor chance de recuperação de sua economia após a
Segunda Guerra Mundial. A tese do governo finlandês era a de que o país só
seria competitivo se educasse sua população. A segunda decisão importante veio
em 1979, quando foi concedido aos professores o estatuto de igualdade com os
médicos e advogados. Os candidatos a professores cresceram de forma
vertiginosa, não porque os salários eram tão altos, mas porque sua autonomia e
respeito tornaram o trabalho atraente. A transformação do sistema de ensino dos
finlandeses começou há 50 anos como a força propulsora do plano de recuperação
econômica do país.
Porque as escolas da Finlândia são bem sucedidas? A
Finlândia melhorou muito em leitura, matemática e alfabetização científica de
seus alunos em grande parte porque seus professores são confiáveis para fazer o
que for preciso para transformar vidas de jovens ao redor. Muitas escolas são
pequenas o suficiente para que os professores conheçam todos os alunos. Se um
método falhar, os professores consultam os colegas para tentar outra
alternativa. Quase 30 por cento das crianças da Finlândia recebem algum tipo de
ajuda especial durante os seus primeiros nove anos de escolaridade.
Em 2000, os primeiros resultados do Programa Internacional
de Avaliação de Alunos (PISA), um teste padronizado dado a jovens de 15 anos em
mais de 40 países, revelaram que a Finlândia tinha os melhores jovens leitores
do mundo. Três anos mais tarde, eles obtiveram o mesmo resultado em matemática.
Em 2006, a Finlândia foi o primeiro entre 57 países em ciência. Na Finlândia,
não existem testes padronizados além de um exame no final do ano para os alunos
na escola. Não há competição entre alunos, escolas ou regiões. As escolas da
Finlândia são públicas.
Os responsáveis pelos órgãos governamentais voltados para a
educação são educadores. Cada escola tem os mesmos objetivos nacionais. O
resultado é que uma criança finlandesa tem uma boa chance de obter a mesma
educação de qualidade, não importa se ele ou ela vive em uma aldeia rural ou
uma grande cidade. As diferenças entre os alunos mais fracos e mais fortes são
as menores do mundo, de acordo com a mais recente pesquisa realizada pela
Organização para a Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OCDE). Igualdade é a
palavra mais importante na educação finlandesa. Na Finlândia, as crianças são
preparadas para aprender a aprender, e não como fazer um teste.
Os professores na Finlândia gastam menos horas na escola
todos os dias e gastam menos tempo nas salas de aula do que professores de outros
países do mundo. Professores usam o tempo extra para construir currículos e
avaliar seus alunos. A escolaridade obrigatória não começa até os 7 anos de
idade. A Finlândia oferece pré- escola para todas as crianças de 5 anos, onde a
ênfase é a socialização. Além disso, o Estado subsidia pais, pagando-lhes cerca
de 150 euros por mês por cada filho até que ele ou ela atinja os 17 anos.
Noventa e sete por cento das crianças de 6 anos frequentam pré-escola pública.
As escolas fornecem alimentos, cuidados médicos, aconselhamento às famílias e
serviço de transporte se necessário. Cuidados com a saúde são gratuitos.
Na Finlândia, o pilar que sustenta a educação diz respeito à
seleção e formação de professores de ponta, com reconhecimento profissional e
boas condições de trabalho. Em cada escola finlandesa, os professores estão
permanentemente atentos ao aproveitamento dos alunos. Na Finlândia, a profissão
de professor tem status semelhante ao do médico e advogado. O que faz o
magistério competir em igualdade com outras carreiras de ponta é o
reconhecimento social, a autonomia e as boas condições de infraestrutura. O
governo da Finlândia estabelece definições gerais do currículo, mas cada
professor pode adaptá-lo às características locais. Isso cria um ambiente com
profissionais altamente motivados.
Na história da Finlândia, os professores sempre foram vistos
como as pessoas que levaram a civilização para pequenas aldeias. Na Finlândia,
os professores são profissionais autônomos respeitados por fazer a diferença na
vida das pessoas jovens. Há aqueles que pensam que a formação de um professor
na Finlândia é a chave para um bom ensino e, assim, melhorar o desempenho do
aluno. A profissão docente se tornou um tema na moda entre os reformadores da
educação em todo o mundo. Sistemas de ensino bem sucedidos estão mais
preocupados em encontrar as pessoas certas para se tornarem professores ao
longo da carreira.
O sonho finlandês era o de oferecer uma boa escola para
todas as crianças, independentemente da sua origem familiar ou condições
pessoais - um foco que permaneceu inalterado durante as últimas quatro décadas.
Na fase inicial, durante as décadas de 1970 e 1980, havia direção centralizada
e controle governamental sobre as escolas, currículos prescritos pelo Estado,
inspeções escolares externas e regulamentação detalhada, dando ao governo
finlandês uma forte influência em escolas e professores. Mas uma segunda fase,
a partir do início da década de 1990, foi criada uma nova cultura de educação
caracterizada pela confiança entre as autoridades educacionais e escolas,
controle local, profissionalismo e autonomia. Escolas tornaram-se responsáveis
por sua própria avaliação e planejamento do currículo do aluno, enquanto
inspeções estaduais foram abandonadas. Para isso foi necessário que os
professores adquirissem credenciais acadêmicas elevadas e passassem a ser
tratados como profissionais.
Diferentemente do que ocorre na Finlândia, é patente o
descaso dos governantes do Brasil com a educação e, particularmente, com os
professores, apesar de Dilma Rousseff utilizar “Pátria Educadora” como lema de
seu desastroso governo. Os dados do Censo de Educação Superior de 2013
divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
(Inep) confirmaram uma tendência sombria para o futuro do país: o “apagão de
professores” nas escolas que ocorre pelo quarto ano seguido sendo cada vez
menor a quantidade de estudantes que procuram cursos de licenciatura.
Consequentemente, o Brasil tem formado menos docentes (Ver o artigo. Queda de matrículas em licenciatura no país
gera temor de apagão na formação de professores publicado no website).
Esta situação lamentável em que se encontra o sistema de
educação no Brasil está a exigir uma mudança radical na forma como o mesmo vem
sendo planejado e gerido. Temos que nos inspirar nas experiências bem sucedidas
no mundo, como as da Finlândia, do Japão e da Coreia do Sul. A continuidade do
descalabro atual da educação no Brasil é refletida no tratamento que é dado a
seus mestres. Precisamos entender que, sem educação de qualidade, o futuro do
Brasil e de seu povo estará comprometido.
* Fernando
Alcoforado, 75, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de
Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento
estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de
sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora
Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo,
2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de
doutorado. Universidade de Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944,
2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia-
Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era
Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic
and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento
Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010),
Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento
global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os
Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV,
Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no BrasilEnergia e Mudança Climática
Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015).
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