Curiosidade
Na
medicina popular o alecrim é associado há séculos com boa memória. O médico
Chris Van Tulleken investigou para a BBC qual pode ser a base científica dessa
crença.
Em termos científicos existem diferentes tipos de memória.
Existe a memória passada: o que você aprendeu na escola, por exemplo.
Existe a memória presente, usada minuto a minuto. E também a memória futura, ou
"lembrar de lembrar".
A memória futura é a mais completa para a maioria de nós. Quando falha,
coisas como esquecer de tomar um remédio ou do presente de aniversário do
cônjuge acontecem.
Existem estratégias para melhorar a memória passada, porém é mais
complicado aprimorar a memória futura - e muitos adorariam ter uma receita.
A medicina, por sua vez, não oferece muitas alternativas. Há remédios
que tratam a perda da memória associada à demência, mas não são totalmente
eficazes.
Então, quando viajei para Newcastle, no norte da Inglaterra, para falar
com o professor Mark Moss na Universidade de Northumbria, estava cético. A
equipe de Moss está fazendo experiências para testar se o óleo essencial de
alecrim pode ajudar a memória futura.
O alecrim está ligado à memória há centenas de anos.
A personagem
Ofélia, na peça Hamlet, de Shakespeare, mostra o alecrim ao irmão, Laertes, e
diz que é "para lembrança". Mas, na peça, a
personagem fica insana e morre pouco depois dessa cena.
O alecrim é usado em aromaterapia por razões parecidas, mas isso também
não pode ser considerado como forte prova científica.
A partir de meu trabalho em comunidades remotas no mundo todo, aprendi
que tradições antigas de cura têm muito para nos ensinar e, historicamente, já
forneceram muitos remédios úteis.
Mas eu acreditava que aromaterapia estivesse em outra categoria, uma
terapia com pouco efeito. Usar cheiros bons para fazer as pessoas se sentirem
bem. Ou era isso que eu pensava.
A experiência
Eis como a equipe de pesquisadores da Universidade Northumbria
trabalhou: foram recrutados 60 voluntários mais velhos para testar os efeitos
não apenas do óleo de alecrim, mas do de lavanda também.
Além do óleo essencial,
alecrim também é uma das ervas mais populares para temperar alimentos
Eles então situaram os voluntários em salas impregnadas com óleo
essencial de alecrim, de lavanda ou sem aroma nenhum.
Os participantes recebiam a informação de que estavam testando uma
bebida com vitaminas. Qualquer comentário sobre os aromas era descartado e
considerado irrelevante, os pesquisadores diziam que o aroma tinha sido
"deixado pelo grupo que usou a sala antes".
Os voluntários, eu entre eles, fizemos um teste de memória.
No começo, objetos eram escondidos pela sala em lugares que você teria
que se lembrar no final do teste. Então, você fazia uma série de quebra-cabeças
com palavras, divertidos, enquanto os pedidos dos responsáveis pelos testes de
memória ficavam cada vez mais complicados. No meu caso, duas estudantes, Kamila
e Lauren, testavam minha memória.
Eis alguns exemplos: "Você pode me entregar este livro dentro de
sete minutos?" ou "Quando você encontrar alguma questão sobre a
rainha nas palavras cruzadas, você poderia me lembrar de ligar para a
garagem?"
Meus resultados ficaram na média. Esqueci de lembrar à Kamila para ligar
para a garagem.
Mas o que a equipe de Mark Moss descobriu com estes testes é notável. Os
voluntários na sala com a infusão de alecrim conseguiram, estatisticamente,
resultados melhores do que aqueles na sala de controle.
Os da sala com lavanda apresentaram uma queda significativa no
desempenho. Lavanda é tradicionalmente associada com sono e sedação.
No sangue
Para médico,
experiência não indica que as pessoas precisam passar o dia cheirando alecrim e
a noite, dormindo em travesseiros de lavanda
De acordo com os pesquisadores, alguns compostos do óleo de alecrim
podem ser responsáveis por mudanças no desempenho da memória. Um deles é chamado
de 1,8 cineol. Além de ter um cheiro muito bom (para quem gosta deste tipo de
cheiro) ele pode agir da mesma forma que os remédios permitidos para tratar
demência, causando um aumento em um neurotransmissor chamado acetilcolina.
Esses compostos fazem isso ao evitar a quebra do neurotransmissor por
uma enzima. E isso é muito plausível - inalação é uma das melhores formas de
levar drogas para o cérebro.
Quando você consome um remédio via oral, ele pode ser quebrado durante a
digestão. Mas a inalação de pequenas moléculas pode passar para a corrente
sanguínea e, dali, para o cérebro sem ser quebrado no sistema digestivo.
Moss e sua equipe analisaram amostras de sangue dos voluntários e
encontraram traços dos elementos químicos do óleo de alecrim.
As implicações com este tipo de pesquisa são enormes, mas não significa
que você precisa passar seus dias cheirando alecrim e suas noites dormindo em
um travesseiro de lavanda.
Os efeitos foram detectáveis, mas, reduzidos, dando uma pista de que é
necessário fazer mais pesquisas sobre alguns compostos químicos encontrados em
óleos essenciais, o que pode levar à criação de terapias ou aumentar nossa
compreensão da memória e do funcionamento do cérebro.
Também é importante lembrar que qualquer remédio, com efeito, que pode
ser medido, mesmo se inalado a partir de um óleo essencial, também pode ter um
efeito colateral. Não se pode mexer com a bioquímica do cérebro e esperar
resultados simples.
E poderia ser muito bom também se esses estudos também puderem, no
futuro, contribuir para a criação de novos remédios para tratamento da
demência. O que também restaura parte da credibilidade ao campo da medicina
alternativa.
Nós passamos muitos anos criticando os tratamentos alternativos, mas
acredito que exista um benefício real ao permitir que as pessoas assumam o
controle da própria saúde com tratamentos que as façam sentir melhor, mesmo se
não pudermos provar como.
Nenhum comentário:
Postar um comentário