Curiosidade
Jonathan
KnottDa BBC Travel
Ao
chegar no pequeno vilarejo de Burträsk, no norte da Suécia, avisto logo a neve
acumulada na beira da estrada e um grupo de renas descansando. Vim até aqui
para aprender sobre um mistério.
Nesta aldeia da Lapônia, é fabricado um queijo amarelo, duro e cheio de
minúsculos buracos chamado Västerbottensost. Se você participar de algum
tradicional festival de verão sueco, é provável que você encontre esse queijo
servido ao lado de crustáceos suculentos.
A iguaria é presença constante no cardápio de casamentos reais, jantares
do Prêmio Nobel e do premiado restaurante Noma, em Copenhague. O dramaturgo
sueco August Strindberg menciona o queijo em seus poemas, e o príncipe Hassan
da Jordânia disse ser “o que ele mais gosta da Suécia”.
Com uma reputação como essa, é fácil entender que a demanda pelo produto
é alta. Mas quando seus fabricantes
tentaram expandir a produção, começando a operar também na cidade vizinha de
Umeå, o sabor saiu totalmente diferente.
O queijo só pode
ser feito em Burträsk – e ninguém sabe o porquê. Nem mesmo
depois que cientistas usaram técnicas forenses de análise de DNA ou jornalistas
locais fizeram 12 documentários sobre o alimento.
Organização e meteorito
Alguns acreditam que o sabor único do queijo se deve às organizadíssimas
prateleiras nas quais o produto é deixado amadurecendo. Outros teorizam sobre a
singular microflora da fábrica ou ainda sobre os efeitos dos longos dias de
verão sobre o humor das vacas.
A tese mais intrigante é a de que o apreciado sabor se deve a um
meteorito que caiu na região há muitos séculos, criando o lago vizinho a
Burträsk e tornando o solo rico em cálcio, o que criou um efeito dominó sobre o
leite e o processo de fabricação do queijo.
Mas se o astro realmente caiu aqui, as ondas do impacto devem ter se
dispersado há muito tempo. Quando cheguei, as coisas estavam bem calmas. O teto
da fábrica estava coberto de neve e o sol cintilava sobre o letreiro metálico
colocado sobre a fachada de tijolos.
Burträsk fica a menos de 300 quilômetros do Círculo Polar Ártico, e os
habitantes locais estão acostumados com os invernos escuros. Mas hoje, a
primavera parecia dar seus primeiros sinais. Dentro do enorme centro de
visitantes da leitaria, um grande feixe de luz vinha da janela.
Receita misteriosa
Minha anfitriã é Inga Lill -Eklund, que trabalhou durante 35 anos no
laboratório da fábrica, retirando amostras das bactérias presentes no leite.
Seu filho, Thomas, é o atual diretor de produção.
Segundo Inga, diz à lenda que o queijo foi criado em 1872 por engano.
Uma das moças que fabricava queijos se distraiu de suas funções por causa de um
namorado e acabou deixando o alimento passar do ponto, tendo que requentar os
coalhos. O produto que sobrou foi deixado maturando até que alguém se deu conta
que o sabor era muito melhor.
A receita ainda é segredo, mas a logística da fabricação não mudou muito
ao longo dos anos. O leite vem de 20 a 30 fazendas locais, e é pasteurizado e
coalhado. A consistência do queijo coalhado ainda é testada à mão. Os coalhos
granulados que surgem depois que o soro é filtrado são embalados em um pedaço
de linho, depois agitados à mão e embebidos em salmoura.
Cada queijo, que pesa 18 quilos, é deixado para amadurecer durante pelo
menos 14 meses.
A pequena leiteria, com seus 25 funcionários, produz 4 mil toneladas de
Västerbottensost por ano.
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