A GUERRA FRIA E SEUS
DESDOBRAMENTOS
especialista em Ciências Humanas: Brasil,
Estado e Sociedade pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF),
articulista do Observatório da Imprensa e professor de Geografia do Colégio
Conexão em Barbacena, MG.
O marco inicial da Guerra Fria foi a Doutrina Truman (1947), política da
Casa Branca que pretendia conter um suposto avanço das ideias socialistas pelo
planeta. Em seguida, os Estados Unidos lançaram o Plano Marshall, em que cediam
consideráveis créditos para reestruturar as economias europeias sem condições
de reagir aos prejuízos proporcionados pela Segunda Guerra. Consolidava-se
assim a liderança ianque sobre as principais potências do Velho Continente.
Houve um
período da História (não tão remoto assim) em que o planeta esteve sob
constante ameaça de um grande conflito nuclear; a Alemanha dividida em duas
nações; os comunistas (e não os terroristas islâmicos) eram os principais
inimigos do Ocidente; a maioria dos países latino-americanos passava por
sangrentas ditaduras militares, e, por mais paradoxal que possa parecer, Osama
Bin Laden e Saddan Hussein eram aliados dos Estados Unidos.
Essa época
turbulenta ficou conhecida como Guerra Fria; uma espécie de conflito não
declarado entre duas superpotências – Estados Unidos (capitalista) e União
Soviética (socialista) – pela hegemonia planetária. Ordem mundial bipolar que
emergira dos escombros da Segunda Guerra Mundial.
O marco
inicial da Guerra Fria foi a Doutrina Truman (1947), política da Casa Branca
que pretendia conter um suposto avanço das ideias socialistas pelo planeta. Em
seguida, os Estados Unidos lançaram o Plano Marshall, em que cediam
consideráveis créditos para reestruturar as economias europeias sem condições
de reagir aos prejuízos proporcionados pela Segunda Guerra. Consolidava-se
assim a liderança ianque sobre as principais potências do Velho Continente.
Em resposta
às políticas de Washington, o governo soviético procurou consolidar sua área de
influência no Leste Europeu e em alguns países do Terceiro Mundo, como Cuba.
Aliás, a Revolução Socialista na Ilha Caribenha foi pretexto para o apoio dos
Estados Unidos a sangrentas ditaduras militares de direita na América Latina.
Regimes estes que manteriam tais nações na esfera de influência ianque e livres
da “ameaça vermelha”.
Duas
alianças militares caracterizaram a Guerra Fria: OTAN – EUA e países da Europa
Ocidental – e Pacto de Varsóvia – URSS e países do Leste Europeu. Outros fatos
que marcaram a Guerra Frua foram a corrida armamentista e espacial, a
propaganda ideológica, as disputas esportivas, a divisão do mundo em zonas de
influência capitalista e socialista, a hostilidade mútua entre soviéticos e
americanos e a descolonização afro-asiática.
Apesar de
não ter ocorrido um confronto direto entre Estados Unidos e União Soviética (o
que quase veio a acontecer no acontecimento conhecido como Crise dos Mísseis),
as duas superpotências, conforme o mencionado anteriormente, disputaram várias
áreas de influência em todo o planeta.
Em uma
dessas empreitadas militares, o exército soviético invadiu o Afeganistão, em
1979. Por sua vez, o governo estadunidense apoiou a resistência afegã. Entre os
resistentes estavam Osama Bin Laden e o Talibã. Por mais incongruente que possa
parecer, Bin Laden foi armado e treinado pela CIA. Anos mais tarde, por uma
dessas ironias da vida, “o feitiço viraria contra o feiticeiro” e o milionário
saudita organizaria o “maior atentado terrorista da História” em 11 de setembro
de 2001.
Nesse mesmo
ano de 1979, ocorria no Irã a Revolução Islâmica comandada pelo aiatolá
Khomeini. Temerosos que o “mau exemplo” xiita iraniano se difundisse por todo o
mundo muçulmano, os EUA e seus aliados ocidentais incentivaram o Iraque do
sunita Saddan Hussein a começar um conflito com o vizinho persa.
Como se
sabe, Bin Laden e Saddan Hussein foram mortos pelo Governo de Washington em sua
“Guerra ao Terror”. Em geopolítica, o aliado de ontem pode ser o inimigo de
hoje, e vice-versa.
Problemas
políticos (em decorrência de uma pesada burocracia estatal), econômicos
(agravadas por uma economia fechada) e conflitos étnicos (inúmeras
nacionalidades e culturas em um mesmo território) contribuíram para o colapso
da URSS em 1991. Este fato histórico também representou o término da Guerra
Fria.
É
importante ressaltar que a primeira nação socialista do planeta não promoveu a
almejada sociedade igualitária. Muito pelo contrário: só veio a aumentar a
exploração do homem pelo homem, sustentar um aparelho estatal extremamente
centralizado e burocratizado, oprimir liberdades individuais e promover vastos
genocídios contra minorias étnicas em seu território. O Estado soviético foi
uma poderosa máquina de extermínio que matou mais de 20 milhões de pessoas.
Sendo
assim, o fenecer do “socialismo real” foi utilizado por muitos autores como
argumento para justificar a impossibilidade de regimes voltados para melhorias
e reformas sociais.
Para
Francis Fukuyama, o capitalismo e a democracia burguesa enfim triunfaram, e a
humanidade havia atingido o estágio final de sua evolução. Segundo Thomas
Friedman, o término da Guerra Fria “inclinou a balança do poder mundial para o
lado dos defensores da governança democrática, consensual, voltada para o livre
mercado, em detrimento dos adeptos do governo autoritário, com economias de
planejamento centralizado”.
Os Estados
Unidos realmente “venceram” a Guerra Fria? O sistema capitalista é realmente a
única saída para a humanidade? Estaríamos fadados a viver em uma sociedade cada
vez mais voltada para o consumo?
Talvez
Fukuyama e Friedman tenham sido atingidos pelo calor dos fatos; é extremamente
complicado e controverso realizar determinada análise histórica sem o
distanciamento temporal necessário. O fracasso do socialismo soviético não
significa necessariamente que o modelo capitalista tenha sido bem sucedido.
Como bem
lembrou Bruno Latour no livro Jamais Fomos Modernos, o “triunfo capitalista”
foi efêmero. Concomitante à queda do socialismo no Leste Europeu e na União
Soviética, as primeiras conferências sobre o estado ambiental do planeta
frustraram as esperanças capitalistas de conquista ilimitada sobre a natureza.
Segundo o
historiador Eric Hobsbawm, no princípio da década de 1990, o mundo capitalista
“viu-se novamente às voltas com os problemas da época do entreguerras que a Era
de Ouro parecia ter eliminado: desemprego em massa, depressões cíclicas
severas, contraposição cada vez mais espetacular de mendigos sem teto a luxo
abundante”.
Também é
importante salientar que a atual crise econômica capitalista, iniciada com o
estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos, evidenciou um sistema não tão
sólido quanto aparenta.
Assim como
os socialistas ficaram constrangidos com o colapso soviético; atualmente os
capitalistas precisam explicar uma crise econômica provocada justamente pelo
excesso de liberdade do mercado. A crença de Adam Smith em um mercado
autorregulável que promove o bem estar dos homens é tão falaciosa quanto a
sociedade comunista de Marx.
Tanto o
“socialismo real” quanto o sistema capitalista não conseguirem resolver as
mazelas que afligem a humanidade. Dessa forma, fomentar um sistema
político-econômico que possa conciliar liberdade individual e igualdade social
surge como um grande desafio neste início de século XXI.
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