Diplomacia
ANGELA MERKEL COBRA QUE
BRASIL ZERE DESMATAMENTO NA AMZÔNIA ATÉ 2030
Em encontro com Rousseff, a
chanceler alemã citou a importância da parceria com o Brasil e que vai se
empenhar para acelerar acordos entre Mercosul e União Europeia
AFONSO BENITES, Brasília 20 AGO 2015 -
A chanceler
alemã, Angela Merkel, cobrou que o Governo brasileiro cumpra até o ano
de 2030 a meta de zerar o desmatamento ilegal da Amazônia. Em visita oficial a
Brasília, Merkel tratou do assunto em conversas com a presidenta Dilma Rousseff nesta quinta-feira. Como
resposta, ouviu que o Brasil caminha para essa redução e que nos últimos anos
conseguiu diminuir em 83% o desmate ilegal. “Na década de 1990 fui ministra do
meio ambiente e, naquele tempo, era impossível imaginar um desafio como esse.
Mas hoje já é”, afirmou a chanceler.
A alemã chegou ao Brasil na noite de quarta-feira acompanhada de 12 ministros e vice-ministros. Foi uma visita-relâmpago, que durou menos de 24 horas. Na agenda, uma série de reuniões entre autoridades dos dois países para debater, entre outros assuntos, os compromissos a serem apresentados na Convenção sobre Mudanças Climáticas (COP-21) que ocorrerá em Paris, em dezembro. Na declaração conjunta à imprensa, Rousseff e Merkel reforçaram a intenção dos dois países de liderarem os processos voltados para a preservação ambiental e de redução da emissão de gases de efeito estufa.
Um dia antes da reunião entre as duas mandatárias, representantes dos
dois ministérios do Meio Ambiente assinaram um acordo de cooperação para a conservação
florestal e a regularização ambiental de imóveis rurais na Amazônia e no Cerrado brasileiro. O compromisso prevê que agricultores
familiares dos Estados do Mato Grosso, Pará e Rondônia tenham suas terras
regularizadas e recebam apoio financeiro para reverter o passivo ambiental das
áreas que deveriam ser preservadas. A expectativa é que o Governo alemão
invista até 183 milhões de reais nesses projetos por meio de financiamentos em
parceria com o banco brasileiro Caixa.
Em sua
declaração pós-encontro, a chanceler anunciou que seu país criará um fundo de
500 milhões de euros para financiar projetos ambientais pelo mundo e que os
empresários de seu país têm o interesse em investir na área de energia
renovável. Esse último ponto coincidiu com a fala da presidenta brasileira.
Rousseff também convidou os alemães a participarem das concorrências públicas
dentro de seu bilionário programa de investimento em logística.
A vinda de
Merkel ao Brasil animou o Governo brasileiro, que viu o encontro como uma
demonstração de apoio e confiança na economia local, que enfrenta uma grave
crise, com o aumento do desemprego e queda de confiança do mercado global.
“Neste cenário de incertezas na economia internacional, sabemos o quanto é
importante essa parceria”, disse Rousseff. Nos últimos meses, ela se deparou
com crises política e econômica que resultaram em ao menos 11 pedidos oficiais
de impeachment no Congresso Nacional e de multitudinárias manifestações contra
a sua gestão.
Mercosul e ciberdefesa
Outros dois
temas tratados no encontro bilateral foram a implementação do acordo entre o
Mercosul e a União Europeia e os investimentos em ciberdefesa. Merkel se
comprometeu a até o fim deste ano apresentar as propostas para acelerar as
negociações entre os dois blocos econômicos. A chanceler caracterizou o
Mercosul como um grupo “heterogêneo”, mas que ela confia na liderança do Brasil
para concretizar tudo o que for acertado.
As duas
disseram que a reunião servia também para incrementar o comércio bilateral.
Atualmente, cerca de 1.600 empresas germânicas estão em solo brasileiro. A
Alemanha é o principal parceiro europeu do Brasil, eles movimentam entre si
cerca de 20,4 bilhões de reais por ano.
Na questão
cibernética, Merkel e Rousseff citaram a importância de reforçarem a segurança
dos dados pessoais. As duas foram, nos últimos anos, vítimas de espionagem da
agência de segurança dos Estados Unidos (NSA). Sem dar detalhes sobre esse
tema, os representantes de Defesa dos dois países, Jaques Wagner e Ralf
Brauksiepe, informaram que assinaram um termo em que concordaram em cooperar em
áreas como Segurança Defesa Cibernética e Operações de Paz.
Um dos
pontos de destaque na área de ciência e tecnologia foi a declaração conjunta
que prevê o fortalecimento das pesquisas para o fornecimento de minerais e
produtos químicos como nióbio, tântalo e terras-raras. Esse último trata-se de
uma série de elementos voltados para a fabricação de produtos como smartphones,
aparelhos de ressonância magnética, tablets, carros híbridos, turbinas de
energia eólica e catalisadores para refino de petróleo. Atualmente, a China é
responsável por 90% da produção mundial. O objetivo da Alemanha é diversificar
esse mercado e o Brasil seria um dos possíveis fornecedores.
Elas também
reforçaram a necessidade de lutar pela reforma do Conselho de Segurança da
Organização das Nações Unidas. Os dois países, junto com o Japão e a Índia
tentam garantir assentos permanentes dentro do conselho. Atualmente, ele é composto
de maneira permanente apenas pelos Estados Unidos, Rússia, China, França e
Reino Unido.
O encontro entre Rousseff e
Merkel é o primeiro de uma série que deve ocorrer a cada dois anos, dentro de
um mecanismo denominado Consultas de Alto Nível Brasil-Alemanha. Trata-se de um
status diferenciado garantido pelos alemães a apenas sete países, incluindo
Espanha, França, China e Índia. Em 2017, é a vez da presidenta ir a Berlim.
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