sábado, 29 de agosto de 2015

COMO NASCE UM ESCRITOR






J. Domingues
Designer Gráfico por profissão. Ilustrador por vocação. Escritor por paixão pura!.


Publicado por José Domingues



Se você gosta de ler livros, nada o impede de escrever um. Que tal começar agora?


Há alguns anos, sempre que podia, eu me pegava datilografando numa pequena Olivetti Lettera 32, herdada de meu pai. Apesar viver na época dos computadores, dos tablets e laptops, eu datilografava apenas por capricho.
Mais do que uma máquina de escrever, tinha comigo uma verdadeira máquina do tempo. Cada teclada emitia um ruído característico, longe de ser desagradável, pois, dava um certo compasso no ato de escrever, e adorava aqueles sons, saídos de cada letra. Dava a impressão que, cada letra tinha uma nota musical e, dessa forma, a junção das palavras formavam músicas!
A incapacidade de voltar atrás, nos erros, era a principal diferença, pois, não existiam as teclas Ctrl+Z. Nos computadores, tal opção acomoda e nos dá a falsa segurança de que, podemos sempre corrigir nossos erros. Conceito inválido. Se fosse verdade não haveriam tantas falhas ortográficas na maioria dos textos, hoje em dia. A consciência de que não podíamos vacilar, na datilografia, consequentemente, afinava a nossa capacidade de atenção naquilo que escrevíamos, reduzindo, dessa forma, a incidência de palavras incorretas.


Foi vivenciando os prazeres dessa máquina do tempo que adquiri o hábito de escrever longos textos e, mais tarde, o interesse em narrar contos literários. Mas, tal inclinação não seria possível se, nas tardes chuvosas, não mergulhasse nas histórias de Marcos Rey e outros autores da Coleção Vaga-Lume. Se não viajasse no mundo de Monteiro Lobato e não aprendesse o sentido da palavra: “Pirlimpimpim” e, se não tivesse lido as inúmeras aventuras do belga Hercules Poirot, dos romances policiais da escritora inglesa, Agatha Christie.
Livros à parte, foi o hábito prazeroso da leitura que despertou minha paixão pelos romances e contos. Gostar de ler é um fator imprescindível que forma os escritores em geral. Não existem conceitos ou normas na atividade de ler. A voz que sai dos livros é silenciosa e, o grau de intensidade é ajustado de acordo com a emoção vivenciada no trama.
Com essa filosofia em mente, acabei escrevendo um romance despretensioso, porém, construído em cima de bases sólidas. A partir de uma matéria verídica, postada numa revista científica, que narrava um acontecimento curioso, ocorrido no Segundo Reinado, acabei elaborando uma teoria de conspiração que nos remete aos contos de Dan Brown, isso por aliar fatos reais à ficção.
No início achei bastante improvável romancear aquele acontecimento, porém, com o passar dos anos, a ideia floresceu, amadurecendo de forma bastante curiosa. Uma antiga máquina de escrever, aliada ao gosto pela leitura de bons livros, foram os principais ingredientes que me deram motivação para escrever algo. Modéstia à parte, ainda tenho muita caminhada pelo mundo das palavras e, não tenho pressa!
Sou brasileiro, nascido num país que não valoriza a leitura, onde apenas 24% da população possui o hábito de ler livros e, 85%, prefere a ociosidade diante da televisão!
A estatística acima é triste e, desanima qualquer aspirante a escritor, se for levado em consideração o retorno financeiro. Ser escritor, no Brasil é, pois, antes de tudo, uma atividade despretensiosa. É participar de uma corrente voluntária que contribui com letras e palavras, com a nobre intensão de entreter e alimentar o espírito das pessoas nesse mundo tão conturbado.
Ser escritor é gritar silenciosamente por meio de seus livros, buscando resgatar nas pessoas, o prazer de ler e, com a leitura, torná-las mais livres e, conscientes de sua humanidade. É tentar tirar nossos jovens das telas frias de seus computadores que, com seus turbilhões de informações fúteis, apenas aprisionam e escravizam a mente. Ler um livro é, sentir-se livre. Escrever é, portanto, viver essa liberdade!
“Sou de opinião que, quando um leitor mergulha no livro que um escritor escreveu, ele está enveredando por um território sem fronteiras; nunca sabe direito até onde está indo atrás da própria imaginação, ou em que ponto começou a seguir a imaginação do escritor.” (Lygia Bojunga)



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