Corrupção
LAVA JATO MUDA A JUSTIÇA E A
ADVOCACIA
Enviado por Antonio Abreu a título
de colaboração
Por JOAQUIM FALCÃO, 71 anos, é mestre
em direito pela Universidade Harvard (EUA) e doutor em educação pela Universidade
de Genebra, é professor da FGV Direito Rio RJ
A Justiça penal não
será a mesma depois do mensalão e da Operação Lava-Jato. Tanto a prática de
juízes, delegados, procuradores e advogados como nas doutrinas e tribunais.
Tudo começa a mudar. Que mudanças são essas?
Mudança geracional.
Juízes, procuradores, delegados são mais jovens. Fizeram concurso mais cedo.
Vivem na liberdade de imprensa, na decadência dos partidos e na indignante
apropriação privada dos bens públicos. E não têm passado a proteger ou a temer.
Dão mais prioridade
aos fatos que às doutrinas. Mais pragmatismo e menos bacharelismo. Mais a
evidência dos autos–documentos, e-mails, planilhas, testemunhos, registros– do
que a lições de manuais estrangeiros ou relacionamento de advogados com tribunais.
Erram aqui e acolá. Às
vezes, extrapolam, mas passaram por duro aprendizado institucional com
Banestado, Castelo de Areia, Furacão e outras operações. Atentos, buscam evitar
nulidades processuais. O juiz, e não mais os advogados, conduz o processo.
Usam de múltiplas
estratégias. Jurídica, política e comunicativa. Valorizam a força das imagens,
que entram, via internet, televisão, lares e ruas, nos autos e tribunais.
São informados e
cosmopolitas. Organizam cooperação internacional com Suíça, Holanda e Estados
Unidos. É difícil para a tradicional advocacia individual enfrentar essa
complexa articulação entre instituições. Usam com desenvoltura a tecnologia.
Extraem inteligência de "big data" (análise de grandes volumes de
informação). Aplicam-se em finanças e contabilidade.
As consequências para
a advocacia são várias. Plantar nulidades para colher prescrição –o juiz não
seria competente, a defesa foi cerceada, o delegado extrapolou poder
investigatório etc.– é estratégia agora arriscada. Tribunais superiores não
suportam mais serem "engavetadores" de casos que chegam quase
prescritos. Diminuem-se diante do olhar da opinião pública.
Apostar que juízes,
procuradores e delegados agem com arbítrio, ferem direitos fundamentais dos
réus, sem clara e fundamentada evidência, é protesto que se dissolve no ar.
Algumas defesas tentam
politizar o julgamento. Juízes, delegados e procuradores agiriam a serviço do
governo ou dos políticos envolvidos. Colocam suas fichas que no Supremo
Tribunal Federal tudo se resolveria politicamente. É tentativa possível. Nunca
deixará de ser. Mas hoje o sucesso é menos provável.
O invisível ministro
Teori Zavascki não dá mostras de vergar. Até agora não se conseguiu colocar
Curitiba contra Brasília. Nem vice-versa.
Neste cenário, como em
todos os países, a defesa preferencial dos réus tem sido a minimizadora de
riscos. Contabilizar perdas e danos.
Por isso aceitam a
delação. Amortecem as condenações individuais dos executivos, oferecendo o
apoio empresarial às famílias. Fazem acordo de leniência. Pagam alguns bilhões
via Controladoria Geral da União. Vendem ou remodelam as empresas. Assim o país
se encontra com nova Justiça e advocacia penal no Estado democrático de
Direito.
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