FALTA ALGUÉM EM NUREMBERG
JOACI GÓES
O título
acima nada tem de original. Foi usado, inicialmente, pelo combativo e talentoso
jornalista David Nasser, em título de livro destinado a condenar as torturas
praticadas durante a ditadura de Getúlio Vargas, entre os anos de 1937 e 1945,
através de seu chefe de polícia Filinto Müller, morto em acidente de avião nos
arredores de Paris, na década de 1970. Como se sabe, foi na cidade alemã de
Nuremberg que se instalou um tribunal internacional dedicado a julgar aqueles
que participaram do Holocausto, genocídio que atingiu vários povos,
particularmente o judeu.
Durante o
julgamento do Mensalão, alguns jornalistas recorreram ao mesmo título, para
dizer que faltava alguém no banco dos réus, ao lado de Marcos Valério e de
quantos participaram do famigerado assalto ao Erário e à dignidade nacional.
Registre-se que o processo do Mensalão veio à tona a partir de uma entrevista
dada à TV Bandeirantes, pelo ex-guerrilheiro Cézar Benjamin, sociólogo e
professor, coordenador das duas primeiras campanhas de Lula, em 1989 e 1994.
Sob a inicial incredulidade geral, no início do primeiro governo Lula, Cézar
Benjamin denunciou o processo de corrupção concebido, para assegurar a
continuidade do poder nas mãos do seu ex-partido, o PT.
Contou César Benjamin, que a nomeação do professor primário, Delúbio Soares, por Lula, em 1993, para representar a CUT no conselho do FAT, Fundo de Assistência ao Trabalhador, detentor de cerca de 30 bilhões de reais do FGTS, teve o propósito de angariar recursos para a campanha presidencial, no ano seguinte, ferida e perdida contra Fernando Henrique Cardoso. Os recursos do FAT eram manipulados pela dupla Lula x José Dirceu, irmãos siameses, politicamente. Por discordar do desvio criminoso de recursos pertencentes aos trabalhadores, Benjamin decidiu deixar o PT, afirmando, profético, que aquele desvio de conduta era o “Ovo da serpente” que viria a destruí-lo.
Observe-se
que, tão logo denunciado, não foram poucos os que sustentaram que o Mensalão nada
mais seria do que a ponta do iceberg do pântano moral em que se transformara o
Brasil, denunciando o caráter metastático da roubalheira montada em
praticamente todas as áreas de atuação do governo federal. Licitações
sistematicamente fraudadas, obras fictícias, umas, inacabadas, muitas,
superfaturadas, todas, desvios de recursos públicos em todo o País, partidos
políticos da base do governo comprados, para silenciar.
É verdade
que nem o ficcionista mais delirante poderia supor que os quadrilheiros pudessem,
sequer, tangenciar a audácia do esquema delituoso que se veio a organizar, a
ponto de levar à lona as expectativas fundadas no mais sólido otimismo de
fazermos do Brasil uma grande nação.
A operação
Lava Jato terminou por demonstrar que eram ainda mais graves as piores
suposições sobre o despudorado projeto de poder em curso, apoiado na corrupção
e na permanente submissão de almas serviçais aos detentores do mando.
Desgraçadamente,
a corrupção, associada à ausência de critérios meritocráticos na escolha dos
ocupantes de postos de todos os níveis, interrompeu nossa caminhada na direção
do futuro. O resultado é o que aí está, à vista do mundo: a Petrobrás
combalida, o promissor sistema energético brasileiro, abalado, as agências
reguladoras, entre atônitas e sob suspeição, o BNDES operando à guisa de
tesoureiro da bolivariana aventura pirata/político/afro/caribenha. E o
Brasil à beira do descrédito universal, pelo rebaixamento de seu cadastro
econômico/financeiro internacional.
A verdade é
que a montanha de dinheiro desviado para propinar os agentes do Governo
representa muito pouco, diante do imensurável prejuízo sofrido pela nação pelos
erros de má gestão, praticados pelos liderados da Presidente, notoriamente
incapazes, além de corruptos. Erros que cobrarão um pesado preço do
contribuinte, ricos, remediados e pobres.
Enquanto o
povo brasileiro se rejubila com o destemor da imprensa, da Polícia Federal, do
Ministério Público e do Poder Judiciário, que avança no desvendamento dos
crimes e na punição dos culpados, o interesse popular aguarda com crescente
ansiedade o anúncio do nome que, todos sabemos, é o inspirador da gatunagem
colossal.
Diferentemente
do que ocorreu no Mensalão, na Operação Lava Jato o chefe não pode faltar entre
os réus de Nuremberg.
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