MAMEDE PAES MENDONÇA (CENTENÁRIO)
HISTÓRIA BONITA
(A propósito do seu centenário, uma homenagem do seu filho José )
Colaboração de JOSÉ MENDONÇA
é empresário, político, cronista.
Mamede Paes Mendonça, filho de Elisiário e
Maria da Conceição, criança, trabalhava no sítio do pai, distrito Serra do
Machado, município Ribeirópolis, Sergipe. Quebra um braço, impedido de
trabalhar com a enxada, foi para a sede do município, passou a estudar e vender
os produtos do sítio na feira descobriu seu espírito comercial.
Com o
irmão Euclides Paes Mendonça, fundou uma padaria, logo abriram grande armazém
em uma das cidades bonitas do estado de Sergipe, Itabaiana.
Abriram
filial em Aracaju, mas houve desencontro de opinião entre os irmãos, meu tio
queria que Antônio Andrade, irmão de minha mãe, Lindaura Andrade Mendonça,
continuasse em Itabaiana, não houve consenso.
Comprou
em Salvador uma carga de arame farpado, viajou no próprio caminhão, quando
chegou em Aracaju não tinha mais o arame, tinha vendido no trajeto.
Antônio
Andrade, quando criança, vendeu pão às 5h da manhã no ponto do ônibus que fazia
linha Ribeirópolis – Aracaju. Muito capaz, jovem, passou a participar da
sociedade. Sr. Mamede o tinha como um filho.
Um
momento diferenciado: Sr. Mamede, fazendo pão pela madrugada na padaria, chegou
Lampião com seu grupo: “Estou precisando de alimento”. Pediu a Lampião para
liberar pessoas de seu grupo para desmanchar mais farinha. Lampião ficou
satisfeito com a atenção, queria pagar, Sr. Mamede disse não, ficaram amigos
naquele momento.
Sempre
muito família, ao abrir filial em Salvador convidou para a sociedade mais dois
cunhados, Manoel Andrade e João Andrade. Passou a ser empresário de dimensão
nacional, atacadista, importador, supermercadista.
Os baianos compravam em mercearia a
prazo, que anotava em caderneta. Passou a ser admirado pelo preço diferenciado.
Quando falava em aumento de margem de lucro, dizia: “dessa forma todo mundo
pode vender”.
Abriu
hipermercado em São Paulo e Rio de Janeiro, a empresa cresceu muito. Era
admirado por empresários de países produtores de arame farpado, vinho e outros
produtos. Apaixonado pela Bahia, mas dizia que São Paulo era um país.
Sabia
comprar em quantidade, vender bem, ganhava no volume de venda. Dizia, “o
negócio só é bom, quando é bom para os dois lados”. Não admitia duas
contabilidades, gostava de pagar impostos, proporcionar bom salário e gratificar
os funcionários. Antes de deixar o mundo já pensava na participação do
funcionário no lucro da empresa.
Quando
do governo do presidente Jânio Quadros houve escassez de produtos de alimentos
no Brasil, suas lojas pouco sentiram. Nasceu para comprar e vender buscava
prazo maior para pagamento e vinculava ao estoque.
Não
fazia pesquisa de preço em Salvador, sim em São Paulo e Rio, ele próprio
visitava supermercados. Não admitia vender mais caro para não abrir espaço para
o concorrente.
Aconteceu a compra da rede de
Supermercados Disco, Rio de Janeiro, mau negócio, já não tinha mais na empresa
Antônio Andrade, faltou assessoria, não souberam fazer levantamento do passivo
e ativo da mesma.
Recebia
empresários e banqueiros com satisfação, da mesma forma recebia funcionários,
dos mais humildes aos mais graduados e os ouvia. Quando cumprimentava uma
criança, um jovem, dizia: “estude, estude, estude”. Admirava o bom
administrador público.
Quando
jovem gaguejava, depois se estabilizou empresarialmente, deixou de gaguejar.
Gostava de boa residência, mas não fazia questão de usar carro de luxo. De
manhã cedo, deixava o hotel Praia Mar, onde residiu algum tempo, e andava nas
areias do Porto da Barra.
Gostava
de ir às lojas conversar com os funcionários e clientes. Em São Paulo gostava
de almoçar no Rubaiyat Figueira, amigo da diretoria, foi assim que nasceu o
Babybeef em Salvador, gostava de estar no Babybeef para cumprimentar as
pessoas, oferecia o vinho que estava promovendo.
Tinha
o espírito de sua mãe, dona Conceição, pessoa especial. Gostava de viajar,
visitar as empresas fornecedoras. Nas viagens aéreas tornou-se conhecido das
tripulações, passava um cartão convidando para almoçar no Babybeef e dava
caderneta de anotações. Cumprimentava uma pessoa, estendia a conversa, gostava,
já convidava para trabalhar.
Expressões
que saíam de seu coração, acompanhavam seu sentimento progressista: “Abrir loja
é bom, gera emprego”. Sr. Mamede, admirável, cultura comercial e empresarial
que chamou a atenção nas universidades. Sua sensibilidade social era igual à de
minha mãe. Esteve sempre com Dr. Norberto Odebrecht e Dr. Ângelo Calmon de Sá
apoiando o trabalho de Irmã Dulce. Tinha admiração pelo jornal A Tarde e
relacionamento com Dr. Jorge Calmon.
Costumava
dizer que quem fuma não presta, quando deveria dizer que o fumo não presta.
Orientava os filhos a não fumar e beber só socialmente.
Quando
a empresa passou por dificuldade, ventilaram concordata. Antônio Andrade disse:
“Mamede jamais pensará numa concordata”. Coincidiu, disse: “vendo todo o
patrimônio, mas não darei prejuízo aos fornecedores”.
A
vida tem seus obstáculos, indispensável saber administrar. Mesmo com o
desencontro com o irmão Euclides Paes Mendonça, demonstrou que o tinha no coração,
quando do adeus de seus pais, o cumprimentou, estava presente, vi a emoção.
Passava com tio Euclides em frente à loja do Forte de São Pedro e o mesmo
comentou, com admiração, o crescimento da empresa.
Sempre
se fazia presente nas solenidades, principalmente missas de pessoas de família
de seu relacionamento que deixavam o mundo. Católico. Quando não assistia à
missa num domingo, no outro assistia duas. Escolhia a igreja que o padre
celebrava as missas sem prolongar o tempo.
Gostei
de ser seu funcionário, aprendi, grande escola. Não esqueço o dia que entrei em
sua sala penteando o cabelo, disse: “falta de educação”. O que mais faz lembrar
Sr. Mamede é a internet, gostava de ser informado de tudo. Como administrador,
tolerava demais o funcionário que gostava de conversar no lugar de trabalhar.
Cheguei
a pensar que Sr. Mamede era um gênio. Lendo a biografia de Assis Chateaubriand,
vi que gênio era Chateaubriand. Sr. Mamede tinha visão incomum, comerciante
nato, alcançava à frente, determinado, trabalhador e ousado. Durante a semana,
à noite, sentava na cama lendo as faturas de importação. Não abria mão de
trabalhar sábado à tarde. Aos domingos percorria a cidade para ver terrenos
para construir supermercados.
Há
pessoas que criam fantasia e folclore com Sr. Mamede, mas não tinha nem
fantasia, nem folclore, tinha visão e cordialidade com as pessoas.
Cem
anos, vinte no outro mundo de Deus. Não estarei presente na comemoração, nunca
me acostumei com determinadas pessoas, não quero ver pessoas da família que
atrapalharam a empresa.
foi meu patrão, ainda trago comigo muito orgulho e admiração desse que foi um grande homem lembro-me quando visitava a loja da rede, questão fazia de bater um papo com cada um dos funcionários para saber como estávamos, sempre se mostrava muito amoroso com cada um. Desde então carrego comigo o seu exemplo o seu amor