Luis
FajardoEnviado da BBC Mundo a The Villages, na Flórida
A cidade que mais cresce nos Estados
Unidos não está cheia de edifícios altos nem viadutos - e o mais provável é que
você nunca tenha ouvido falar dela.
The
Villages, para muitos, reflete como será a realidade futura americana, uma
sociedade com presença cada vez mais marcante de pessoas idosas. Aqui há mais
carros de golfe do que automóveis, os restaurantes fecham cedo e ter 55 anos é
requisito indispensável para ser morador.
Localizada
na região central da Flórida, a cidade tem crescido desenfreadamente desde sua
criação, em 1972, como um vilarejo residencial exclusivamente para aposentados.
Mark
Woodland trabalhou como DJ na Filadélfia por 35 anos. Há alguns anos vive em
The Villages.
A
BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC, encontrou-o logo de manhã em um dos
extensos campos de esporte da cidade, com dezenas de amigos, todos orgulhosos
membros do clube de aeromodelismo.
Image copyrightBBC MundoImage captionMuitos aposentados vêm para cidade para aproveitar 'anos dourados'
"A
gente aqui é muito amigável. Trabalhamos muito a vida toda e estamos aqui para
relaxar, dedicar tempo para nós mesmos", diz, enquanto opera um
sofisticado avião de controle remoto.
O
barulho da frota de aeronaves em miniatura é o único que se ouve nesta cidade
de grama minimamente cortada e aparência quase antisséptica.
Carros,
aqui, só os de golfe, o meio de transporte quase universal para seus moradores.
The Villages é o maior concessionário deste tipo de veículo nos EUA - e
possivelmente no mundo. Cada um custa entre US$ 10 mil e US$ 20 mil.
"Vendemos
cerca de 3 mil ao ano", disse Joe Morreale, gerente de vendas do local.
"De 2009 para cá, dobramos nossas vendas".
Não
é barato viver aqui. E a composição demográfica indica que quase não há negros
e latinos entre os moradores.
Até o futuro
The
Villages é a área metropolitana com a maior expansão populacional nos EUA,
segundo o censo. Cresce a uma taxa anual de 5,4%, quase o dobro de Myrtle
Beach, na Carolina do Sul, que tem o segundo maior ritmo de crescimento no
país.
Sua
população é de 114 mil pessoas. Há 25 anos era praticamente um pântano deserto.
Se
manter a tendência atual, deverá crescer exponencialmente nas próximas décadas,
com o avanço do envelhecimento do país.
Todos
os dias, 10 mil pessoas chegam à idade de aposentadoria, de 65 anos, nos EUA. E
vender casas em cidades para aposentados tornou-se um negócio espetacular.
O
empresário Gary Morse, o cérebro atrás da ideia de The Villages, ficou rico com
esta "Disney para idosos". Sua fortuna era estimada em mais de US$ 2
bilhões em 2014, ano de sua morte.
A
cidade atrai pessoas de todo o país - e seus moradores parecem estar contentes
nesta utopia urbana para aposentados. Não há mendigos, lixo, pobres nem gente
jovem nas ruas.
"Adoro,
é um sonho para os extrovertidos", disse Mary Landholt enquanto ensaiava
para um baile nostálgico dos anos 40.
Originalmente
de Omaha, no Estado do Nebraska, ela passa seu tempo em um clube de danças na
cidade. Diverte-se ao som de samba ou música típica americana com dezenas de
amigas.
Política ou não?
Não
há prefeito nem governo eleito - The Village é uma propriedade privada.
A
empresa que construiu a cidade supervisiona todos os aspectos cívicos - alguns
críticos dizem que ela também tenta influenciar a vida política. A
administração negou pedido de entrevista da BBC Mundo.
Morse,
seu fundador, era um conhecido simpatizante e doador a causas do Partido
Republicano. E The Villages é parada obrigatória para qualquer aspirante do
partido à Casa Branca, devido aos milhares de eleitores num Estado crucial como
a Flórida.
Por
outro lado, a imprensa local cita alguns democratas que se dizem não aceitos
quando expressam publicamente suas preferências ideológicas nesta comunidade
conservadora.
Em
todo caso, é provável que muitos de seus moradores não tenham tempo para pensar
em política em meio às centenas de atividades recreativas organizados pela
empresa ou por eles mesmos para aproveitar os "anos dourados".
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