Colaboração de
Joaci Góes
O autor é empresário, escritor (ensaísta) e
político festejado.
Graças à
globalização, somada à velocidade dos meios de comunicação e ao ambiente
democrático criado no Brasil, a partir da Carta Magna de 1988, vivemos um
momento caracterizado pela força sem precedentes da Opinião Pública, ou do consensus
populi, como queriam os romanos. As sociedades que não são capazes de
ensejar a formação de opiniões públicas vigorosas sucumbem diante dos grandes
desafios gestados pelas inter-relações humanas e, até, pelas grandes tragédias
naturais. Da crença nessa força nasceu o conhecido aforismo “Vox populi, vox
dei”. Em seu estado de maior intensidade, a opinião pública atinge o
patamar de clamor público.
Refletindo o atual momento do
estado de espírito dos brasileiros, recente pesquisa Datafolha, veiculada nas
redes sociais, evidencia o maior índice de descrença nos poderes da
República, nos últimos 10 anos, encolhendo o prestígio do Executivo de 31% para
19%, enquanto o Legislativo subiu de 17% para 42% no desapreço popular. O
Judiciário só não apareceu no mesmo patamar de repúdio social, graças aos ecos
de sua atuação no Mensalão e ao hercúleo e heroico trabalho do juiz Sérgio
Moro, em sua exemplar atuação no escândalo da Operação Lava-Jato. Mesmo assim,
o Judiciário não saiu incólume neste panorama de frustração geral.
Em face do
vulcânico ambiente político, social, econômico e moral que estamos vivendo,
delineia-se um horizonte próximo em que dois desfechos, diametralmente opostos,
figuram como focos potencialmente ricos de felicidade cívica, de um lado, ou de
imensurável decepção coletiva no polo oposto.
Na primeira
hipótese, a Lei se imporá isonomicamente a todos, sem distinção de qualquer natureza,
alcançando cada uma de quantas personalidades de relevo foram apanhadas com a longa
manus enfiada, fundo, no Erário, em violência aos mais caros valores
republicanos. Na segunda, como resultante de um mega acordo espúrio, hoje
inimaginável, teríamos chegado ao fim da linha de nossa capacidade de apanhar
os peixes mais graúdos, que ainda não caíram na rede da punibilidade.
A verdade é que, não obstante maiores ou menores divergências, a
Presidente Dilma, o ex-presidente Lula, e os presidentes da Câmara e do Senado,
Eduardo Cunha e Renan Calheiros, irmanam-se num autêntico abraço de afogados,
dispostos a tudo fazer ou ceder, se esse for o preço a pagar para libertá-los
do naufrágio iminente. Agarrados às pernas dessas personalidades centrais, encontram-se, na
mesma situação de desespero, vários deputados e senadores, alguns deles
notórios ladrões do dinheiro público. A dar consistência de viabilidade, ao
potencial êxito dessa temida empreitada lesa-pátria, estima-se que alguns
integrantes dos tribunais superiores já teriam suas biografias comprometidas
para esse desiderato.
O único obstáculo a esse potencial bloqueio do
esforço coletivo para moralizar o País reside na força da Opinião Pública
Nacional, a ser testada agora, em seu vigor, como nunca em nossa história.
Os pessimistas temem um acordo de
cúpula, atentatório à dignidade das instituições, a partir do desenvolvimento
de um caráter brasileiro, essencialmente corrupto, receptivo, portanto, à
tolerância com os malfeitos. Alegam que invadimos sinais de trânsito, pagamos
propinas a agentes públicos, fraudamos as declarações de impostos, forjamos
atestados médicos, compramos produtos piratas e de contrabando, sem qualquer
sentimento de culpa. O próprio jeitinho brasileiro nada mais é do que um modo de
relativização da decência ou da meritocracia.
O célebre dilema posto por
Shakespeare aos homens aplica-se, à perfeição, aos povos:
“To be or
not to be, that is the question” (Ser ou não ser, eis a questão!).
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