Colaboração de Fernando Alcoforado*
Outro grande
problema ambiental existente na Amazônia diz respeito à implantação de rodovias
que tem transformado profundamente sua organização regional até então definida
em torno dos rios. Passou-se de uma Amazônia estruturada em função das vias
navegáveis, drenando os fluxos para o Leste, a uma região dominada pelas estradas
que levam ao Sul-Sudeste. As estradas permitem abertura de áreas da Amazônia
que estão inacessíveis hoje e promovem uma migração dos focos de desmatamento.
Além disso, está prevista a implantação de várias hidrelétricas na Amazônia,
destacando-se, entre elas, a de Belo Monte, no rio Xingu no Pará, Jirau e Santo
Antônio no Rio Madeira em Rondônia, Estreito e várias outras no rio Tocantins
no Maranhão com consequências irreversíveis para numerosos povos indígenas da
Amazônia, entre eles povos sem contato com a sociedade brasileira, que alteram
substancialmente as condições de vida da região.
A Floresta
Amazônica está ameaçada de destruição, portanto, devido ao desmatamento e
queimadas resultantes da expansão da atividade agropecuária e madeireira, à exploração
mineral que vem deixando um legado de pobreza e sérios impactos
socioambientais, à implantação de rodovias que veem causando grandes impactos
ambientais na Amazônia e às hidroelétricas cujos reservatórios planejados vão
provocar tantos impactos negativos ao meio ambiente que a sua construção não é
recomendável. Associe-se a tudo isto, o processo de urbanização na Amazônia que
não obedece a qualquer consideração ambiental. As áreas urbanizadas da Amazônia
carecem de serviços para atendimento à população e a moradia está desprovida de
qualquer sistema de infraestrutura, de saneamento e de equipamento urbano.
Certamente, esse problema não é apenas da Amazônia. É oportuno observar que, de
todos os problemas ambientais da Amazônia, os desmatamentos e queimadas são os
mais danosos porque são responsáveis pela destruição da vegetação, de
“habitat”, da morte de animais, da extinção local de espécies, da perda de
matéria orgânica no solo e da sua exposição à erosão. Além disso, contribuem
também para o efeito estufa com a liberação de grandes quantidades de CO2.
De todos os
problemas ambientais existentes na Amazônia, o principal deles é o que diz
respeito aos desmatamentos e queimadas dos quais resultam a emissão de CO2 para
a atmosfera. O IPAM- Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia informa no
artigo 2 Qual a contribuição do Brasil para as mudanças climáticas? E qual o
perfil das emissões brasileiras?, publicado no website , que, em 2005, o Brasil
emitiu aproximadamente 2,2 bilhões de toneladas de CO2, das quais cerca de 61%
resultaram de mudança no uso do solo e florestas. A maior parte das emissões do
Brasil (362 milhões de toneladas de carbono) é resultado de atividades de uso
do solo, tais como o desmatamento e as queimadas. Deste total, 67% ocorrem na
Amazônia e 22% no Cerrado. Devido ao desmatamento, somente na região Amazônica,
o Brasil emite por ano cerca de 200 milhões de toneladas de carbono (média do
período de 1996 a 2005). Tais estimativas colocam o Brasil entre os cinco
países mais poluidores do mundo. Isto sem contar as emissões resultantes dos
incêndios florestais amazônicos, as quais não estão sendo consideradas e nem
foram incluídas no Inventário de Emissões Brasileiras.
O combate ao
desmatamento ilegal está no centro da estratégia do governo brasileiro de
enfrentamento das mudanças do clima. O principal instrumento do governo
brasileiro para combater o problema é o Plano de Ação para a Prevenção e
Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAM), lançado em 2004. Um dos
pilares do PPCDAM é o sistema de monitoramento por satélite, que subsidia as
operações de fiscalização na Amazônia. O INPE utiliza vários mecanismos, entre
eles o PRODES (Programa de Cálculo de Desflorestamento da Amazônia), um dos
mais avançados do mundo para identificação e quantificação de processos de
desmatamento em áreas florestais e o DETER, um levantamento rápido feito
quinzenalmente pelo INPE. Em 2009, o desmatamento na Amazônia chegou aos níveis
mais baixos das duas últimas décadas, representando uma redução de 75% em
relação às taxas registradas em 2004. No entanto, a gestão ambiental atual da
Amazônia poderia alcançar elevada eficácia na eliminação dos problemas acima
descritos se existisse nesta região uma estrutura organizacional capaz de
congregar todos os órgãos públicos e privados na busca do desenvolvimento
sustentável.
Para evitar a devastação da Floresta Amazônica
e assegurar que os recursos naturais existentes na Amazônia sejam utilizados
racionalmente em benefício da grande maioria da população nela residente e do
progresso econômico e social do Brasil, bem como no combate ao aquecimento
global, é imprescindível que haja uma gestão ambiental eficaz com base em uma
estrutura em rede que integre as ações de todos os órgãos públicos e privados
que atuam na Amazônia. Esta foi a conclusão que extraímos de nossa pesquisa
sobre a Amazônia cujos resultados estão apresentados em nossa obra Amazônia
Sustentável (Santa Cruz do Rio Pardo: Editora Viena, 2010). O principal
objetivo da estrutura em rede é contribuir para viabilizar uma gestão ambiental
integrada da Amazônia com base na qual todos os órgãos públicos e privados que
atuam na região operem de forma articulada para promover seu desenvolvimento
sustentável. A articulação entre todos os órgãos públicos e privados requer que
sua operação seja realizada com base em estratégias previamente estabelecidas
em conjunto por todos os atores públicos e privados e que, periodicamente, as
estratégias estabelecidas sejam revistas em conjunto por todos os participantes
da rede levando em conta a evolução dos acontecimentos.
A
implantação de uma gestão ambiental integrada da Amazônia para promover seu
desenvolvimento sustentável deveria ser o principal projeto a ser apresentado
pelo 3 Brasil na 21ª Conferência do Clima (COP 21) a ser realizada em Paris em
dezembro deste ano que tem como objetivo limitar os efeitos das mudanças
climáticas a 2°C para entrar em vigor em 2020. Esta iniciativa do governo
brasileiro teria por objetivo eliminar os desmatamentos e queimadas que são os
principais responsáveis pelas emissões de CO2 para a atmosfera do Brasil. Na
COP 21, será celebrado novo acordo para conter o aquecimento global que deverá
substituir o Protocolo de Kyoto, de 1997, que expirou em 2012 e teve resultados
decepcionantes.
* Fernando
Alcoforado, 75, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de
Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento
estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de
sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora
Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo,
2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de
doutorado. Universidade de Barcelona,
http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e
Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do
Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA,
Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social
Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft
& Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe
Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável-
Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e
Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes
do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012) e Energia
no Mundo e no BrasilEnergia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI
(Editora CRV, Curitiba, 2015).
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