História universal
Influenciou
a sociedade francesa durante o reinado de Luis XV
Dotada de inteligência, encanto, beleza, e ao mesmo
tempo uma mulher fria, em termos físicos e na alma, Madame de Pompadour via seu
papel como o de uma secretária confidencial do Rei.
Governava Versalhes, concedia audiências a embaixadores
e tomava decisões sobre todas as questões ligadas à concessão de favores, de
forma tão absoluta quanto qualquer monarca. Influenciando politicamente as decisões reais,
ela se tornou uma empreendedora, incentivando a fundação da fábrica de porcelanas de Sèvres.
Madame de Pompadour foi filha primogênita de
Louise-Madeleine de La Motte, casada com François Poisson. François Poisson,
possível pai de Madame de Pompadour trabalhava para pessoas muito ilustres na
Paris da Regência. Esses homens, quatro para ser exato, eram os quatro irmãos Paris,
banqueiros, entre outras coisas mais. Originalmente de Grenoble, tinham feito fortuna durante as constantes
guerras de Luis XIV, fornecendo alimentos, água, forragem e
munição aos exércitos franceses.
Quando Jeanne-Antoinette Poisson nasceu, a família
morava num bairro modesto perto da igreja de Saint-Eustache. Boatos da época atribuíam
à Madame Poisson, mãe de Madame de Pompadour, muitos amantes, e tais boatos
tornaram-se mais difundidos e obscenos nas tentativas futuras de denegrir o
nome de sua filha. Dezenas de homens foram ligados a ela, com ou nenhuma prova;
basta dizer que a maioria de seus contemporâneos e dos historiadores
posteriores recusou-se a aceitar o fato de que um funcionário de origem
humilde, como François Poisson, pudesse ser pai de Madame de Pompadour. E é
perfeitamente possível que o tenha sido, é claro. No entanto, uma das
alternativas mais razoáveis, a Poisson como pai de Jeanne-Antoinette, é Pâris
de Montmartel que foi seu padrinho de batismo e que conhecera muito bem Madame
Poisson nos Invalides, antes de ela se casar. O mais razoável
entretanto, é um chamado Charles Lenormand de Tournehem, coletor de impostos,
diretor da Companhia das Índias e
integrante da elite financeira de Paris, embora nem de longe fosse tão rico
quanto Montmartel. A pequena Jeanne-Antoinette vivia confortavelmente com os
pais, agora em condições muitos melhores na rue de Cléry, com criados e uma
carruagem. Em 1725, nasceu um menino, Abel-François, irmão de Jeanne. Este
estilo de vida confortável teve um abrupto fim em 1726, quando François Poisson
fugiu do país.
Madame de Pompadour
Foi acusado de especular com o trigo e de ser
parcialmente responsável por um doloroso período de fome em Paris daquele ano.
Seus patrões também foram acusados de condutas ilegais; Pâris-Duverney foi
mandado para a Bastilha, sob acusações de corrupção e desfalque. Com
a fuga do marido Madame Poisson sofreu, a princípio, um certo constrangimento.
Ela e os dois filhos foram obrigados a se mudarem para instalações modestas na
rue des Bons-Enfants, perto do Palais-Royal. Mas ela era uma valente e bem relacionada,
conservou a serenidade e se manteve firme. Talvez não tivesse o tu du
monde, como afirmou um contemporâneo, mas tinha inteligência e encanto,
ambição e coragem. Não se deixava derrotar facilmente, e ensinaria à filha a
necessidade da ambição e da flexibilidade num mundo imprevisível e perigoso.
Sua primeira preocupação, entretanto, foi encontrar para a menina de 5 anos uma
proteção contra as incertezas da época. Jeanne-Antoinette era uma criança afável
e gentil, ja conhecida pela família como "Reinette"("
rainhazinha").
O estilo de vida de madame Poisson não acolhia
facilmente a presença de crianças; seria melhor para todos os implicados que
sua filha fosse mandada para um ambiente mais saudável. Ela foi enviada para o
Convento das Ursulinas, em Poissy, a alguns quilômetros de Paris. As Ursulinas
tinham por missão educar as filhas da burguesia, e criavam as meninas colocadas
sob seus cuidados para serem esposas e mães bondosas e gentis, e respeitarem a
Deus, à família e ao rei. A menina permaneceu lá durante quase 3 anos, passando
esse período impressionável dos 5 aos 8 anos sob os olhares benevolentes das
freiras. Mas ela não era uma criança robusta. As freiras estavam sempre
escrevendo sobre sua saúde delicada e descrevendo os alimentos nutritivos que
lhe davam.
Em novembro de 1729, ela sofreu uma gripe e ficou
de cama por seis semanas. Essa doença marcou o fim de sua estada em Poissy. As
ideias de Madame Poisson sobre a criação de filhos eram bem diferentes das que
tinham as freiras. Mal sua filha retornou a Paris, ela foi levada com a mãe
para ver uma famosa cartomante, Madame Lebon. Certamente Madame Poisson
confiava mais na bola de cristal do que na Providência Divina. Mãe e filha
devem ter ficado impressionadas com a previsão de Madame Lebon, pois no testamento
da futura Madame de Pompadour, encontramos um algo que diz: "Seiscentas
libras para Madame Lebon, por ter-lhe dito, aos nove anos de idade, que um dia
seria amante de Luis XV."
Com nove anos de idade a pequena Jeanne-Antoinette
foi iniciada nos conhecimentos mundanos. Monsieur Charles Lenormand de
Tournehem foi quem patrocinou estes estudos; difícil pensar que esse tratamento
se diferenciasse do de um pai. Em 1736, François Poisson voltou à França e
encontrou sua filha já com quinze anos. Jeanne-Antoinette começara a ser a
exposta ao estilo de vida de alguns dos membros mais ricos e ilustres da alta
sociedade parisiense. Foi entre essas pessoas poderosas que a ainda jovem e
modesta parisiense começou a pensar em galgar uma posição parecida ou até
superior à de seus conhecidos, talvez ainda pensasse no que a cartomante lhe dissera, talvez, quem sabe, sonhasse com
o Rei... Mas a realidade era outra; tendo chegado aos 18 anos, chegava a hora
de casar-se. Tendo sua imagem bastante comprometida pela posição de seus pais,
a jovem Jeanne-Antoinnete, mesmo linda, culta e com dentes esplêndidos (raros
na época) teria de achar de um marido de posição similar. Faltava-lhe na
realidade um dote suficientemente alto para apagar os outros problemas ligados
ao nome de sua família. Mas ela não era uma grande herdeira. No entanto, tinha
seu tio Tournehem, que encontrou o marido adequado para ela. Seu único sobrinho
Charles-Guillaume Lenormand, filho do irmão de Tournehem, foi escolhido.
Existem fatos que indicam que Monsieur de Tournehem
viesse considerando essa união já há um certo tempo. Tendo ele mesmo cuidado do
futuro financeiro do sobrinho, tornando-o sócio minoritário em várias pequenas
empresas coletoras de impostos, e em 15 de dezembro de 1740 Tournehem deserdou
todos os outros parentes, fazendo deste único sobrinho seu herdeiro absoluto.
Assim sendo, em 9 de março de 1741, na igreja de Saint-Eustache,
Jeanne-Antoinette Poisson casou-se com Charles-Guillaume Lenormand, que acabou
por assumir o sobrenome d'Etioles, conforme a denominação da propriedade do
tio. Ambos se mudaram para a casa de Tournehem, e depois os três se mudaram
para a rue Croix-des-Petits-Champs, do outro lado dos jardins Palais-Royal.
Após o casamento, a jovem Jeanne-Antoinette ficou conhecida como Madame
d'Etioles.
Considerado o homem mais belo do reino,
provavelmente conheceu a ainda Madame d'Etioles em 1742, em
um baile onde ele a notou - como não notar aquela que era considerada uma das
mulheres mais belas de Paris? Inicialmente, aos 11 anos de idade, Luís XV ficou noivo de uma infanta espanhola, mas a infanta acabou sendo mandada
de volta para seu país. Logo depois ele ficou noivo da princesa polonesa Maria Leszczynska que vivera em exílio na Alemanha. Quando Maria Leczynska se casou com Luis, estava
ela com 22 anos e o rei com 15.
Luis XV foi fiel à sua esposa por 10 anos tendo,
nesses 10 anos, 10 filhos com a rainha, mas nem todos sobrevivendo à primeira
infância.
Antes de Jeanne-Antoinette ele teve outras amantes,
como por exemplo Louise-Julie de Mailly-Nelse, a condessa de Mailly. Não tardou muito, e Luís
demonstrou interesse por uma irmã da condessa de Mailly, Pauline, que veio a
falecer ao dar à luz um filho do rei. Devastado pela morte de sua segunda
amante, Luis deixou a corte por um mês. Mas, pouco tempo depois, para
incredulidade geral e consternação de toda a sociedade, Luis XV interessou-se
por mais uma irmã, a caçula das três, Marie-Anne, marquesa de La Tournelle. Essa última irmã Mailly, detentora de grande
força e ímpeto, foi sagrada duquesa de Châteauroux.
Depois de uma série de problemas envolvendo membros
do corpo político de Luis XV, Madame de la Tournelle, duquesa de Châteauroux,
morreu em delírio, aos 27 anos, consumida por sua loucura. Toda a sociedade
começou a comentar sobre as suspeitas de envenenamento. As suspeitas mais
pungentes recaíam sobre o conde de Maurepas, ministro da Marinha, que tinha
sido um de seus mais ferrenhos inimigos, sempre conspirando contra ela. Com a
morte da duquesa, todos sabiam: estava livre a vaga de maîtresse déclarée, ou
amante declarada. Todos sabiam que o Monarca não ficaria muito tempo sem uma
amante. Havia chegado a hora e a vez de Madame d'Etioles.
É praticamente impossível dizer exatamente como,
quando e onde Madame d'Etioles e Luis XV se conheceram, mais difícil ainda
seria definir a data de quando eles se tornaram amantes; muitas possibilidades
são consideradas por muitos autores de biografias da lendária amante de Luis
XV. No decorrer do tempo em que Luis XV ficou sem uma amante, surgiram os
primeiros boatos sobre seu romance com Jeanne-Antoinette. A aristocracia se
negava a acreditar que o rei fosse capaz de conspurcar os régios domínios da
corte com uma simples burguesa. O abismo intransponível que havia entre
burguesia e aristocracia era sempre ressaltado, e que nunca uma burguesa seria
o mesmo que uma marquesa ou duquesa.
Era inaceitável que Luis XV tomasse como amante uma
mulher que, embora rica, bela e culta, viesse da burguesia. Mas a decisão de
Luis XV já estava tomada. Jeanne-Antoinette Poisson, a outrora Madame
d'Etioles, seria apresentada à corte, mas para isso, era necessário antes de
mais nada, que ela obtivesse um título de nobreza. As investigações para a
obtenção do título recaíram sobre o marquesado de Pompadour, uma propriedade no Limousin,
cuja posse não era exata. Como os ajustes para a obtenção de seu título
correram bem, Jeanne-Antoinette, agora Marquesa de Pompadour, passaria o verão
em sua antiga propriedade, Etioles, aprendendo os estranhos e confusos hábitos
da corte de Versalhes, adquirindo o refinamento para alcançar tudo aquilo que
almejava e que lhe fora dado a acreditar desde tenra idade.
Voltaire foi um dos que ao longo deste aprendizado em
Etioles se tornaram seu amigo para a vida inteira, mesmo ele tendo deixado a
corte da França e rumado para a Prússia, para a corte de Frederico II da Prússia. Mas ainda havia muito o que aprender neste
período em que ela teve que aprender os títulos e nomes da famílias mais
importantes do reino, ela teve o auxílio do Abade de Bernis, de Voltaire e de
alguns outros interessados em se beneficiar da posição de Marquesa de Pompadour
e amante declarada do rei. Contra ou a favor da burguesa, agora enobrecida,
Jeanne-Antoinette, foi apresentada à corte do dia 14 de dezembro, no salão
Oiel-de-Boeuf. Trajando o obrigatório robe de cour negro,
coberta de joias, empoada e usando rouge,
estava, a partir daquele momento, assumindo seu lugar no mundo de intrigas de
Versalhes.
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