Por
Vitor Hugo Soares,
É um dos maiores jornalista da
imprensa baiana
O ex-presidente do Uruguai esteve
no Brasil semana passada. São comoventes e exemplares algumas imagens que José
"Pepe" Mujica deixou no rastro da sua passagem. Somadas com atitudes
e palavras em atos e encontros durante a visita para não esquecer.
Os dois flagrantes fotográficos
são do diário espanhol El País (edição do Brasil). Ilustram o texto da
excelente reportagem assinada por Felipe Betim sobre o fim de semana,
brasileiro, de Mujica. A mais impressionante (e alentadora), mostra o
ex-dirigente uruguaio brilhando como um astro pop no Rio de Janeiro. Em época
de tanta desilusão política, quase 10 mil jovens lotaram a concha acústica da
UFRJ, para ver, ouvir e aplaudir o visitante.
Na outra fotografia, colhido em
São Paulo, durante um seminário internacional, aparece Lula agarrado na cintura
do ex-colega, enquanto Mujica o encara com ar que mistura surpresa e desalento.
A cena passa a inevitável mensagem de "abraço de afogado", que
constrange. Nas duas cenas, no entanto, Pepe Mujica é o foco estelar. Um
incrível senhor de 80 anos, tipo pacato, normal, que dá um show de sensatez,
decência e grandeza modelar de figura humana e homem público. No Brasil, faz
quase um sermão de avô, e a explicação para tamanho sucesso é tão simples
quanto sua figura e suas palavras (à parte, é claro, registra o jornal
espanhol, que ele regulamentou o uso da maconha em seu país): “Existem
determinados elementos do nosso cotidiano político que deixaram de ser naturais
e se tornaram insultantes".
Pelos padrões atuais da política
brasileira, em especial os do petismo no poder, o líder uruguaio e global tinha
tudo para não dar certo. Descreve o repórter Felipe Betim: "José
"Pepe" Mujica anda encurvado, devagar. Dirige um Fusca, veste um
terno meio surrado, não corta a unha do pé, possui uma pança imensa e evita a
todo o momento o contato visual. Sua fala é mansa, doce. Diz coisas óbvias,
sensatas, que qualquer outro velho camponês poderia dizer. A última no sábado
passado, ao lado do ex-presidente Lula: "Os políticos devem aprender a
viver como a maioria do país, não como a minoria". Na mosca!
Pego então um assento no avião da
memória, e vou parar na beira do Rio da Prata. Tantas foram, que perdi a conta
das vezes em que estive no Uruguai. Houve um tempo, quando trabalhava na
sucursal do Jornal do Brasil, em Salvador, que marcava férias sempre para 1º de
abril (reinavam ditaduras praticamente na América Latina inteira e a implacável
Operação Condor rondava solta). Sabia dos perigos e sobressaltos
políticos e pessoais a que estava sujeito então. Mas valia a pena, pelo
aprendizado do exemplo.
Na véspera do meu período de
descanso começar a correr oficialmente, eu pegava um avião para Porto Alegre. À
noite, na capital gaúcha, tomava o ônibus leito da "Puma" ou da
"TTL" e, bem cedinho, na manhã seguinte, com a alma aos pulos, descia
em Montevidéu: no histórico terminal bem no centro da capital sul-americana,
com lugar cativo para sempre no coração do jornalista desde a primeira chegada,
nos anos 70, sob um frio de rachar, na companhia do saudoso amigo e brilhante
advogado Pedro Milton de Brito, depois compadre e presidente da OAB-BA, além de
corajoso e destacado conselheiro federal da Ordem mais de uma vez, quando a OAB
era símbolo e razão de orgulho entre as entidades de resistência
democrática, sempre altiva e independente dos poderosos da vez .
A passagem me fez recordar das
idas e vindas ao Uruguai. Das ruas de Montevidéu, seu povo, seus líderes, seus
cafés povoados de exilados brasileiros (Brizola, Dagoberto Rodrigues, Paulo
Cavalcante Valente, entre tantos outros e a gente do lugar nas mesas em volta -
atenta, solidária, educada e generosa. Recordei também do amigo Pedro, um tipo
de quem o líder uruguaio seguramente iria gostar e admirar, se é que não se
bateram alguma vez em algum café, restaurante, bar ou calle na querida e
acolhedora cidade à beira do Prata.
Alguém de palavras que incomodam,
como um cisco no olho, acompanhadas de conduta pessoal que condiz com o que
prega. Virtudes que fizeram com que esse ex-guerrilheiro Tupamaro (Tupas como a
gente chamava então), tão normal e tão humano, alcançasse a presidência do
Uruguai em 2009 e o status de guru e filósofo internacional de toda uma
geração”. Que bom!
E quanta diferença do Brasil
deste setembro dos insensatos discursos e ininteligíveis entrevistas da
presidente Dilma. Ou do boneco inflado do ex-presidente Lula vestido de
presidiário que percorre o país e que faz tremer petistas só em pensar que o
espantalho pode ser a maior atração civil do 7 de Setembro em Brasília e no
resto do país, nos desfiles desta segunda-feira. A conferir.
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