Internacional
Arcebispo da cidade discorda de
parte da mensagem reformista de Francisco
JOAN FAUS Filadélfia
El País – o Jornal Global, Facebook
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Com a aproximação da visita de
Francisco à Filadélfia, cresceu a especulação sobre se o Papa manteria um bom relacionamento
com o arcebispo da cidade, Charles Chaput. O pontífice tem uma visão reformista
da Igreja católica. O arcebispo, entretanto, é um dos principais nomes da
corrente mais conservadora do catolicismo norte-americano.
Chaput se esforçou nos últimos
meses para negar qualquer divergência com o Papa. E Jorge Mario Bergoglio fez o
mesmo no sábado: se mostrou sorridente com Chaput em uma missa na catedral e
depois, ao chegarem juntos a um seminário, pediu que cantassem parabéns pelo
aniversário de 71 anos do arcebispo.
Chaput reflete uma realidade dos
EUA, que têm a quarta maior população católica do mundo. 20,8% dos
norte-americanos (80 milhões) são católicos, contra 25,4% de evangélicos
protestantes, segundo dados do centro de pesquisas Pew. O arcebispo simboliza o
ceticismo – visível também nos círculos políticos mais conservadores do país –
causado pela retórica progressista do Papa em parte da Igreja norte-americana.
O arcebispo, com um discurso inflamado, ao contrário da fala calma de
Francisco, é um defensor dos valores tradicionais.
O melhor exemplo do contraste é o
casamento homossexual. Frente à mensagem do Papa de “quem sou
eu para julgar” os homossexuais, Chaput manifesta publicamente seu repúdio. O
arcebispo da Filadélfia, a sexta maior arquidiocese dos EUA, lembrou
recentemente, caso houvesse alguma dúvida, de que a Igreja católica continua
opondo-se ao casamento homossexual e defendeu uma escola católica local que
decidiu demitir uma popular educadora religiosa por ser casada com outra
mulher.
No final do ano passado, o Papa
organizou um encontro de debates sobre como a Igreja poderia acolher os católicos
divorciados e homossexuais. Chaput não compareceu à reunião e a criticou
abertamente. Ele se declarou “muito perturbado” por esse debate. “Acredito que
a confusão é coisa do diabo, e acredito que a imagem pública transmitida [por
esse debate] foi a de confusão”, disse o arcebispo. Após criar uma polêmica,
minimizou suas declarações e disse que não pretende desautorizar o ex-cardeal
de Buenos Aires, de 78 anos.
86% dos católicos
norte-americanos avaliam Francisco favoravelmente, de acordo com uma pesquisa
de junho de 2015 do centro de pesquisas Pew. Destes, 69% consideram que o Papa
trouxe uma mudança positiva grande na Igreja.
O apoio a Bergoglio é quase o mesmo de 2014 (85%) e de março de 2013
(84%), quando foi nomeado pontífice. É uma avaliação melhor que a de seu
predecessor, Bento XVI, cujo apoio nos EUA oscilou entre 67% e 83%; mas pior
que o antecessor de Bento, João Paulo II, cuja aprovação chegou aos 93%.
Nas ruas da Filadélfia, que
abriga o Encontro Mundial das Famílias, o apoio a Francisco é visível. Centenas
de milhares de pessoas são esperadas no discurso que será feito pelo Papa na
tarde de sábado em uma avenida da cidade e em uma missa pública a ser oficiada
no domingo. A Filadélfia está tomada pelas forças de segurança, incluindo o
Exército, que instalou barricadas e pesadas medidas de segurança, que, se não
fosse pelo constante desfile de pessoas, faria dela uma cidade fantasma.
A Filadélfia está tomada pelas forças de segurança
depois da chegada de centenas de milhares de pessoas
“A mensagem do Papa é valiosa”,
disse John Shaddy, norte-americano de cinquenta anos de Nova Jersey, enquanto
enfrentava uma longa fila para entrar no perímetro de segurança da área onde
são realizados os principais atos de Francisco na Filadélfia. John, com sua
mulher Susie, são membros do coro que cantará na missa de domingo. Conseguiram
um lugar após uma longa disputa com outras igrejas da região.
Entre diversos vendedores
ambulantes de todo tipo de produtos relacionados ao Papa, Shaddy explica que
considera “única” a crítica do pontífice aos excessos do capitalismo na
quinta-feira no Congresso dos EUA, em Washington. E afirma que a “maioria” dos católicos
norte-americanos está de acordo com a mensagem de tolerância do Papa em relação
ao casamento homossexual.
A poucos metros de distância, Mike Principato
exibia um sorriso constante. Tem 16 anos e é estudante de uma escola jesuíta na
Filadélfia. Ele se diz “muito emocionado” com a possibilidade de ver o Papa no
festival musical que se iniciaria em poucas horas no Encontro Mundial das
Famílias. “Gosto do fato de Francisco viver de acordo com o que fala”, afirma
Principato sobre a atitude humilde do pontífice. “Dá para ver que tem os pés no
chão”.
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