Escreveu o poeta no seu livro Pingos d’Água, de 1918: “ O autor deste livro
não é ( nem foi, nem será nunca) – sócio da mui conspícua e numerosa Confraria (Academia de Letras) do Elogio
Mútuo, do Rio de Janeiro.”
Trabalho de pesquisa de LUIZ CARLOS FACÓ
“No texto abaixo, foi
preservada a ortografia da época”
“Eurico Facó - Nasceu na villa do Beberibe a 13 de
Abril de 1879. Estudante ainda de português no “Pantheou Cearense”, iniciou no
Diário do Ceará uma secção, Quadros, explorando a fabula, género literário que
passa despercebido aos poetas cearenses.
Foi collaborador da Republica, escreveu no Ceará e no
Estado e foi director literário do Jornal, orgam do povo, sob a direcção de
José Martiniano P. de Alencar. (Vide este nome).
Em 1900 publicou seu livro de estréa Poemetos,
76 pp.> Typ. Moderna, Ateliers Louis, Ceará. Divide-se em duas partes,
íntimos e Soltos, precedendo á l.a a poesia Minha Mãe.
No Diário Popular de S. Paulo, secção Livros
novos, fez Garcia Redondo a critica dos Poemetos comparando a musa do autor á
do Catalão Bastrina e á de H. Heine, e Cunha Mendes na Revista do Brazil, n.o
1.o anno 3.o, transcrevendo O espelho, O Tempo, A rema e luz, As flores, D.
Branca diz que poderiam ser assignadas por João de Deus ou Fagundes Varella.
São seus paes João Balthasar Ferreira Facó e D.a
Francisca Campa, filha de José de Paula Ferreira Campa.
Fonte:Diccionário Bio-bibliográfico Cearense-Barão de
Studart.”
ALGUMAS POESIAS DE EURICO FACÓ
Hereditariedade
I
Transmite o ser, que gera, ao ser gerado
As suas qualidades; e se o fio
Deste se parte, deve-se o desvio
A defeito de algum antepassado.
II
O exame de verdades tão profundas
Despertou-me esta duvida insoffrida:
- Uma abelha fecunda não dá vida
A milhares de abelhas infecundas?
III
De onde teve (pergunto) procedência
Esta infecundidade, que perdura?
- Terá a abelha neutra, porventura,
Alguma abelha neutra na ascendência?
Sábios e loucos
I
Um sábio, grande sábio, que tem sede
De sciencia e de renome,
Estudando um besoiro, que á parede
De casa, armou seu ninho, se consome.
II
Uma louca, maníaca porfiosa
Cuja paciência me comove e espanta,
Tecendo a primorosa
Trama de um veo de noiva, alegre
canta.
III
Quem, diante destes quadros, de
improviso,
Comsigo discorrendo,
Não dirá vendo a louca: - Que juízo?
- Que louco! não dirá, o sábio vendo?
IV
Deste engano comum que se commentte,
A cada passo, infere a mente minha
Que entre a sciencia e a loucura não
se mette
O espaço de uma linha.
Reflexos
A beleza, que te enche de vaidade,
Lembra a gotta de orvalho, que
figura,
Á luz do sol radiante, a claridade
Da perola mais pura.
Não te illudas, portanto, que a
belleza
Mais não é que uma gotta d’agua,
accesa
Pelo radiante sol da mocidade.
O Silêncio
O silencio que tanto te aborrece,
Não mostra que minh’alma te repilla,
- Quanto mais fundo o rio, mais tranquila,
Mais tranquilla a corrente nos
parece.
Súplica
Deus não te dê amarguras,
Mas te permita encontrar
Alguem, que, ao ver-te chorar,
Te enxugue as lagrimas puras.
Amor
Não te maldigas, vendo-te enganada,
Pois o amor mais profundo, e mais
perfeito,
Mal fica satisfeito
O desejo, procura outra pousada.
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