segunda-feira, 14 de setembro de 2015

UM NOTÁVEL POETA E EPIGRAMISTA CEARENSE: EURICO FACÓ



Escreveu o poeta no seu livro  Pingos d’Água, de 1918: “ O autor deste livro não é ( nem foi, nem será nunca) – sócio da mui conspícua e numerosa Confraria (Academia de Letras) do Elogio Mútuo, do Rio de Janeiro.”





Trabalho de pesquisa de LUIZ CARLOS FACÓ

“No texto abaixo, foi preservada a ortografia da época”

“Eurico Facó - Nasceu na villa do Beberibe a 13 de Abril de 1879. Estudante ainda de português no “Pantheou Cearense”, iniciou no Diário do Ceará uma secção, Quadros, explorando a fabula, género literário que passa despercebido aos poetas cearenses.



Matriculou-se a 15 de Abril de 1896 na Escola Militar donde foi desligado a 23 de Junho do anno seguinte devido a um telegramma que a referida Escola passara ao Ministro da Guerra se declarando solidaria com a sua collega do Rio de Janeiro. Deu baixa em 1898 continuando os estudos civilmente.

Foi collaborador da Republica, escreveu no Ceará e no Estado e foi director literário do Jornal, orgam do povo, sob a direcção de José Martiniano P. de Alencar. (Vide este nome).

Em 1900 publicou seu livro de estréa Poemetos, 76 pp.> Typ. Moderna, Ateliers Louis, Ceará. Divide-se em duas partes, íntimos e Soltos, precedendo á l.a a poesia Minha Mãe.
No Diário Popular de S. Paulo, secção Livros novos, fez Garcia Redondo a critica dos Poemetos comparando a musa do autor á do Catalão Bastrina e á de H. Heine, e Cunha Mendes na Revista do Brazil, n.o 1.o anno 3.o, transcrevendo O espelho, O Tempo, A rema e luz, As flores, D. Branca diz que poderiam ser assignadas por João de Deus ou Fagundes Varella.

São seus paes João Balthasar Ferreira Facó e D.a Francisca Campa, filha de José de Paula Ferreira Campa.
Fonte:Diccionário Bio-bibliográfico Cearense-Barão de Studart.”

ALGUMAS POESIAS DE EURICO FACÓ

Hereditariedade

I
Transmite o ser, que gera, ao ser gerado
As suas qualidades; e se o fio
Deste se parte, deve-se o desvio
A defeito de algum antepassado.

II
O exame de verdades tão profundas
Despertou-me esta duvida insoffrida:
- Uma abelha fecunda não dá vida
A milhares de abelhas infecundas?

III
De onde teve (pergunto) procedência
Esta infecundidade, que perdura?
- Terá a abelha neutra, porventura,
Alguma abelha neutra na ascendência?

Sábios e loucos

I
Um sábio, grande sábio, que tem sede
De sciencia e de renome,
Estudando um besoiro, que á parede
De casa, armou seu ninho, se consome.

II
Uma louca, maníaca porfiosa
Cuja paciência me comove e espanta,
Tecendo a primorosa
Trama de um veo de noiva, alegre canta.

III
Quem, diante destes quadros, de improviso,
Comsigo discorrendo,
Não dirá vendo a louca: - Que juízo?
- Que louco! não dirá, o sábio vendo?

IV
Deste engano comum que se commentte,
A cada passo, infere a mente minha
Que entre a sciencia e a loucura não se mette
O espaço de uma linha.

Reflexos
A beleza, que te enche de vaidade,
Lembra a gotta de orvalho, que figura,
Á luz do sol radiante, a claridade
Da perola mais pura.

Não te illudas, portanto, que a belleza
Mais não é que uma gotta d’agua, accesa
Pelo radiante sol da mocidade.

O Silêncio
O silencio que tanto te aborrece,
Não mostra que minh’alma te repilla,
- Quanto mais fundo o rio, mais tranquila,
Mais tranquilla a corrente nos parece.

Súplica
Deus não te dê amarguras,
Mas te permita encontrar
Alguem, que, ao ver-te chorar,
Te enxugue as lagrimas puras.

Amor
Não te maldigas, vendo-te enganada,
Pois o amor mais profundo, e mais perfeito,
Mal fica satisfeito
O desejo, procura outra pousada.





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