Literatura
Publicado por Patricia Abilio,
sou culta, fajuta, sou rasa.
História, arte, literatura, cinema e música
O vampiro é um ser
lendário que tem sido temido por pessoas ao redor do mundo por muitos e muitos
séculos. De acordo com a diferença geográfica e temporal a cultura do vampiro
adquiriu características peculiares. Os contos, lendas, crenças, superstições
de épocas e culturas distintas - (Índia, Roma, Grécia, China, Malásia, Leste
Europeu, África, Mesopotâmia).
O imaginário da vampiro como ser
sobrenatural, está vinculada a crença no retorno dos mortos parar afligir e se
alimentar dos vivos. O lugar comum do mito está vinculado a um tempo medieval,
que predominava a magia, a crença nas criaturas sobrenaturais e fantásticas.
Durante séculos a imagem do vampiro é associada a um ser que vaga pelo nosso
mundo, criatura imortal. A partir do século XVIII o mito toma forma até chegar
a Drácula, através da literatura, que até então tinha cunho popular, passa a
ter uma mentalidade voltada para ciência. Desde então, o século XX propaga em
grande quantidade através do cinema, da literatura dentre outras maneiras o
mito do vampiro se populariza na sociedade. Numa sociedade burguesa vitoriana,
nasce o cientificismo.
Nesse sentido, o vampiro nasce com os caninos
na literatura gótica e fantástica, Drácula de Bram Stoker, 1847. É importante
salientar que, o vampiro como tal conhecemos na ficção é fruto de uma criação
específica: Europa, nos países eslavos século XVIII, a lenda se passa em torno
da vida real do príncipe Vlad (1431-1476) – o empalador. “Era um Cavaleiro
Cristão que combateu a invasão islâmica na Europa. Sádico, ele empalava os seus
inimigos, mas ao mesmo tempo erguia conventos. Morreu lutando contra os turcos,
foi decapitado e sua cabeça enviada a Constantinopla. Foi enterrado em
Bucareste. Mais tarde, em 1931, arqueólogos encontraram o túmulo, mas o corpo
de Drácula desapareceu. O imaginário do vampiro é associado a: vida, morte,
imortalidade, sedução, sexo, salvação e perdição, violência, terror e prazer.
São seres belos e atraentes."
Evidentemente o mito é responsável por
questionar os paradigmas essencialmente humanos. O medo da noite, das trevas e
suas criaturas perversas: vampiros, bruxas, lobisomens. O vampirismo surge em
meio a crença popular, alguns lugares deveriam ser evitados a noite como o
cemitério, encruzilhadas e lugares abandonados. O homem precisava ser protegido
contra seres sobrenaturais que ameaçavam sua vida. O personagem do vampiro,
tornou-se estereotipado, pálido, com caninos protuberantes, bebedor de sangue e
que teme a luz do dia, crucifixos, alho e estacas de madeira apesar da sua
imortalidade moderna, existem formas de caçar e matar os vampiros.
Durante a Idade Média, o uso do crucifixo e a
agua benta eram usados como amuleto contra o mal, foram utilizados por muito
tempo e posteriormente esses objetos simbólicos foram associados ao personagem.
A figura do vampiro está desde então condicionada as mudanças temporais e
culturais, mas de fato a obra de Bram Stoker, enfatizou a natureza do mito
moderno, com a dualidade eminente: ciência e religião presente na sociedade
medieval, personificada na figura do cientista Van Heinsing.
Anne Rice em “Entrevista com o vampiro” 1976,
recria o mito do vampiro por sua vez, através de uma entrevista concedida pelo
próprio personagem, da história de sua vida. Contudo os vampiros saem da
Transilvânia e passam a viver nos EUA em cidades como Louisiana, Mississipi,
Nova Orleans.
“Então, gostaria de lhe contar a história de
minha vida. Gostaria muitíssimo de fazê-lo. — Ótimo — disse o jovem. E tirou
rapidamente o pequeno gravador da maleta, testando a fita e as pilhas. — Estou
realmente ansioso por saber por que você acredita nisso, por que... — Não —
disse o vampiro rispidamente. — Não podemos começar desse jeito. Seu
equipamento já está pronto?”
O confronto posto no livro é da dualidade do
ser, bem e mal, personificados pelos personagens Louis e Lestat. Questionam a
origem do mal numa perspectiva filosófica, os vampiros são atormentados por sua
essência. Louis um vampiro romântico que não conseguiu se desvincular da sua
antiga natureza humana, se questiona sobre o que ele é, no que se tornou. Já
Lestat, extremamente racional, afirma que nada de humano ou seja, sensível
habita nele. A natureza do vampiro é matar. O estilo novamente é reinventado,
cabelos longos e encaracolados, olhos claros, pele pálida, são vampiros
fashions, se vestem elegantemente conforme a moda em Paris. Não temem porém os
amuletos e podem ver seu reflexo no espelho. Nas obras citadas, notamos que há
uma perda da sexualidade nos vampiros, substituída pelo prazer oral, na forma
dos dentes caninos sugadores de sangue.
Apesar da erotização dos corpos vampiresco no
cinema e na tv, há uma diversidade de filmes e séries que exploram a temática:
homônimos dos filmes acima, entre obras adaptadas de outros livros.
Ambientado numa cidade na Nova Inglaterra
“Salem” de Stephen King, 1975 publicado anteriormente como (A hora do Vampiro)
– conta a história de um escritor Bem Mears, que retorna a cidade de
Jerusalem’s lot em busca de respostas. Após a chegada do escritor, coincide com
a chegada de dois forasteiros e alguns fatos inexplicáveis começam a acontecer,
uma criança é encontrada morta e outras desaparecem. O mito do vampiro é
novamente modificado por King, que através do mistério e assombrações da Casa
Marsten, conhecemos o vampiro, com direito a caixão, mortes e transformações
vampirescas de humanos.
O cenário agora é a Suécia, em ‘Deixa Ela
Entrar” de John Ajvide Lindqvist, 2004 – a história narra o cotidiano do garoto
Oskar, que mora nos subúrbios de uma Estocolmo de 1980. Oskar tem que lidar com
alguns conflitos familiares, pois seus pais são separados e com o bullying que
sofre na escola. Mas tudo muda neste cenário assim que a jovem Eli e seu
suposto pai se mudam para o apartamento ao lado. Eli é um vampiro preso no
corpo de uma menina de 12 anos, nessa perspectiva, a sexualidade é novamente
reinventada. Isso fica evidente quando o vampiro pergunta a Oskar se ele
ficaria com ela mesmo se ela não fosse uma menina. O casal protege um ao outro
e a vampira ataca aqueles que fazem mal para Oskar. Os elementos como a estaca
e a exposição ao sol, são irrelevantes para Eli, predadora nata. Aqui o vampiro
é convidado a entrar, do contrário é impedido de cometer o ataque dentro do
lugar privado. A partir de então a vizinhança é assolada por uma série de
mortes misteriosas Tendo como pano de fundo a pedofilia, prostituição,
empalamento e outros tipos de violência incrementam a narrativa pesada e
gélida, numa perspectiva nua e crua dos medos reais e sobrenaturais.
“O garoto estava a caminho do treino de
handebol na quadra de Vällingby e nunca chegou lá. O treino começava às cinco e
meia. O menino provavelmente saiu de casa perto das cinco horas. Mais ou menos
nesse intervalo. Oskar sentiu de repente uma tontura. Batia certinho. E o
garoto tinha sido assassinado no bosque. Será que é isso? Sou eu quem… Uma
garota de dezesseis anos tinha encontrado o corpo por volta das oito da noite e
chamado a polícia de Vällingby. Ela estava agora “muito chocada” e sob cuidados
médicos. Nada sobre o estado do corpo. Mas o fato de a garota estar “muito
chocada” significava que o corpo havia sido mutilado de alguma maneira. Do
contrário, só escreveriam ‘chocada’. “
O mito do vampiro se legitima através da
crença, certamente não pode ser estudado apenas como um fenômeno mitológico, há
explicações científicas e sociais sobre o fenômeno. Com o advento do Darwinismo
social, a medicina estudava através das autópsias os corpos, pois o surto de
vampirismo na Europa foi preocupante. Práticas como a necrofilia, sentir
satisfação erótica através da mutilação de um cadáver e ainda o desejo não
natural por sangue, foram veemente condenadas e pouco explicadas.
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