Literatura
Publicado por Patricia Abilio,
história, arte, literatura, cinema e música.
Analisando alguns textos
e contos da literatura infantil, nos deparamos com uma quantidade excessiva de
histórias que elegem os personagens masculinos como heróis em contrapartida os
femininos como submissos, narcisistas, dotados de um cuidado excessivo pela
beleza exterior e quando são representadas como rebeldes, com tendência a não
se submeter são pejorativamente bruxas ou criaturas mitológicas.
O eterno mal estar em face à figura feminina
está diretamente relacionado em nossa sociedade desde mitos da criação do
mundo. Quando os personagens femininos não ganham destaque são a causa do
problema. Evidentemente os autores dos livros infantis se limitam a enfatizar
estereótipos sexistas, quando oferecem os mesmos modelos padronizados pelo
ambiente social, questão de gênero e sexualidade é um tema extremamente
polêmico e quando abordado causa estranheza. A literatura infantil está a
desserviço da transmissão cultural, será ela um poderoso coro sem voz? A
ambivalência dos personagens feminismos é nítida, quando uma protagonista
mulher é dotada de força, coragem, poder e virtudes masculinas, parece
contraditório e pouco verossímil. Sendo então mais aconselhável o papel a essa
personagem feminina de vilã, bruxa, ogra, dragão, animal, besta. Os autores que
tendem a inventar nossas propostas e abordagens sociais, pois essas já foram
superadas. Existem livros destinados para meninos, meninas e para ambos, porém
com métodos que continuam idealizar um sistema padronizado costumeiro e poucos
variados. Falha necessariamente na sua função de romper os valores. Os
personagens femininos são por característica, são frágeis, incapacitados, que
buscam auto afirmação na figura masculina.
A cristalização de conteúdos anacrônicos,
anti-históricos, discriminatórios, preconceituosos são comuns. A temática
misógina é apresentada de maneira sutil ou não. Os personagens femininos são
tristes, se cuidam da casa, da família e trabalham fora, não se divertem
parecem condicionados a ficarem quietas, desempenhando as funções destinadas a
ela. As funções domésticas são encaradas pela mãe como algo que não causa
esforço, quase como uma obrigação, a própria não tem consciência da exploração,
dócil, passiva faz tudo por “amor”. A menina é excluída da parte excitante da
história, quando não participa de brincadeiras que são considerados de
“meninos”, cabe a ela ficar “limpa”, arrumada” e “penteada”. Busquemos novas
abordagens que proponham figuras novas, tanto femininas e masculinas, no campo
da literatura infantil contemporânea. Com novas reflexões sobre si mesmas,
sobre o próprio corpo, sobre as relações sociais.
Esses paradigmas precisam ser discutidos, o
machismo arraigado transparece nos livros e não só na literatura infantil. As
metas das mulheres para felicidade inevitavelmente tem a ver com o casamento, a
busca do homem ideal, o príncipe encantado, enquanto os homens buscam
profissões, outros sonhos e realizações. Em meio a Brancas de neve,
Chapeuzinhos Vermelhos, Belas Adormecidas e Peles de Asnos, a literatura
apresenta as personagens femininos sempre passivo e incapazes, sem objetivos e
sonhos, se contentando com pouco sem questionar. Ou distorcendo, numa
personagem não completamente passiva, dotada de atributos masculinos, como vilã
da história, muitas vezes representada como uma mulher ou menina fora dos
padrões de beleza. Como se inteligência, coragem, poder fosse motivo de feiura.
Ao compararmos as velhas histórias infantis, percebemos que ao longo da
história pouca coisa se modificou. Na sociedade contemporânea tecnológica as
crianças aprendem com a TV, INTERNET e mídias de modo geral, mas a tradição desses
contos é difundida desde então. Contextualizando a forma como os contos de
fadas surgem em vilarejos medievais, suas histórias serviam para educar e
disciplinar as crianças, por isso o moralismo é evidente. O próprio conceito de
“criança”, muda ao longo da história.
Chapeuzinho Vermelho, é uma menina que vai
levar um cesto de bolos na casa a avó, a mando da mãe, que no auge da
ingenuidade manda a filha sozinha para a floresta. A menina decide desviar o
caminho, mesmo alertada dos perigos eminentes, conversa com um “estranho”,
representado pelo personagem masculino “lobo mau”. É o que acontece com meninas
que estão desacompanhadas. Lembrando que o conto de Charles Perrault, tem
canibalismo, violência, até mesmo a erotização do corpo e relação sexual. A personagem
da Branca de Neve é outra “bobinha”, aceita uma maçã de uma estranha (a bruxa
má) – mesmo sendo advertida dos perigos. Ao ser salva pelos anões, em troca de
abrigo ela arruma a casa enquanto eles trabalham duro. Suas preocupações são
encontrar o príncipe encantado e sua qualidade é a beleza, a passividade. A
bruxa no conto, comete assassinato, canibalismo e sofre tortura. Gata
Borralheira é o protótipo da paciência, humildade, portanto figura extremamente
servil e dotada de talentos domésticos. Obrigada a desempenhar essas funções
pelo madrasta e suas filhas, ela fica confinada em casa, enquanto se submete
sem se rebelar. Sua perspectiva, no entanto é (novamente) – se casar com o
príncipe encantado e ser feliz para sempre.
Portanto as personagens femininos das
histórias infantis são classificadas em duas categorias: as boas e incapazes e
as malvadas, rebeldes. Nos contos dos irmãos Grimm, sendo versões mais atuais
desses contos de fadas, 80% das personagens negativas são mulheres. A ausência
de personagens autênticos, reforçam velhos modelos que deveriam ser
abandonados. Cabe aos pais, educadores, professores, imaginar um novo tipo de
literatura infantil que problematize nuances ultrapassadas.
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