Cidade asiática
Quatro estações
Fundada em 1690 pela Companhia
Inglesa das Índias Orientais, tendo sido a capital da Índia
britânica de 1833 a 1912, a
economia de Calcutá entrou em declínio após a independência indiana, em 1947,
embora tenha voltado a crescer a partir dos anos 2000. A exemplo de outras
grandes cidades de países em desenvolvimento, Calcutá apresenta problemas
urbanísticos tais como pobreza, poluição, crime e congestão de
tráfego.
Em 2001, o governo local repudiou a versão oficial inglesa do nome da
cidade (Calcutta) em favor da forma oficial bengali কলকাতা, transliterada como Kolkata.
Apesar dos problemas urbanos ainda persistentes no cotidiano da cidade, Kolkata
é hoje, um dos maiores e mais importantes centros urbanos e financeiros da
Índia, e, consequentemente, um dos mais desenvolvidos da Ásia.
A zona sobre a qual atualmente se assenta a cidade de Calcutá é objeto
de ocupação humana há mais de 2 000 anos, segundo testemunham os sítios
arqueológicos encontrados.
A casa do Governo em Calcutá, quadro de James Moffat (1775-1815).
Em 1690, a Companhia
Britânica das Índias Orientais, que estabelecera a primeira sede dos seus negócios no Golfo de Bengala e na própria Bengala em 1608 na localidade de Surate, optou por
transladar a sede dos seus negócios para Calcutá, dando assim começo à grande
expansão da cidade, que administrava, bem como ao restante das suas posses,
como se se tratasse de um estado praticamente soberano.
Tradicionalmente, pois, a data de 1690 é considerada como a da fundação
da cidade, vista como obra de Job Charnock, um administrador da companhia, sobre a
anterior aldeia de Kalikata, embora
esta teoria seja contestada pela moderna historiografia.
Em 1699, o Reino Unido completou a construção do Forte William, cuja missão era servir de base
militar para o estabelecimento das tropas do Exército
britânico destinadas
à região. Pouco depois, em 1756, motivados pelos confrontos com França pelo controlo da Índia, os britânicos
efetuaram a ampliação e modernização das fortificações da cidade. O nababo de Bengala, Siraj-Ud-Daulah,
protestou contra tais obras e, ao não ver atendidas as suas reclamações, atacou
o forte, tomando-o. Durante a sua conquista, foram assassinados vários
britânicos, o que marcou o imaginário coletivo do Reino Unido, que refere os
fatos como A noite do buraco
negro.
No ano seguinte, 1757, Fort William e Calcutá foram reconquistados por uma força mista
formada por sipais ao serviço da Companhia
Britânica das Índias Orientais e por soldados
regulares do Exército britânico, posta sob comando do geral Robert Clive, um antigo
empregado (como escrevente) da Companhia. A ação decisiva da campanha foi a batalha de
Plassey, que
teve lugar a 23 de junho na própria Bengala, nas cercanias de Calcutá, e que Robert Clive ganhou
mais à base de subornos e de promessas de vantagens comerciais do que de
combate militar.
Calcutá em 1850.
Em 1772, a cidade foi designada capital da Índia britânica (o chamado Raj britânico), distinção que
conservaria até 1911. Foi a partir deste momento que se empreenderam obras de saneamento
para a cidade, consistentes na drenagem das zonas de marisma que rodeavam a cidade, assim como se construiu à beira do rio Hoogli uma zona
residencial e de oficinas governamentais. Foi Richard Wellesley, governador entre 1797 e 1805, quem deu destacado impulso às obras na cidade.
Em princípios do século XIX, houve a divisão
interna da cidade em dois setores diferenciados: um europeu e outro reservado
para a população indiana, zona conhecida como "cidade negra".
A partir dos anos 1850, ocorreu um
processo de industrialização na cidade, especialmente relativa ao setor têxtil e à indústria da juta. Isso, pela sua vez, fez com que o governo britânico investisse no
setor de comunicações, especialmente na ferrovia e no telégrafo. Como resultado
da bonança econômica e do contato entre as sociedades britânica e a indiana,
surgiu na cidade uma nova classe social, a dos babu, grupo de auxiliares de escritório e burocratas de estirpe
frequentemente anglo-indiana e relacionados na maioria dos casos com as castas superiores da
Índia.
Desde finais do século XIX, ocorreu na Índia um processo gradual de
tomada de consciência nacionalista, que acaba por cristalizar nas ânsias de
independência, assumindo Calcutá neste processo um lugar destacado. Assim, já
em 1883 foi organizada na
cidade uma conferência nacional por parte de Surendranath Banerjea, sendo a
primeira com estas características que aconteceu na Índia.
Em 1905, George Curzon, que na ocasião
era governador-geral
da Índia,
decidiu partir a região de Bengala em dois distritos diferentes, o que agiu como estopim para uma série de
distúrbios que se sucederam na cidade, que incluiu até mesmo o boicote indiano às mercadorias de origem britânica.
Richshaw em Calcutá
O clima de agitação fez com que os britânicos tomassem em 1911 a decisão de mover
a capital do Raj britânico para Nova Deli, já que ademais
se considerava que esta cidade ocupava uma melhor situação estratégica na
Índia.
Durante a Segunda Guerra
Mundial, o porto de Calcutá foi bombardeado
em duas ocasiões pelos japoneses. Em 1943 ocorreu na cidade
uma grave crise de subsistência, que degenerou numa fome que provocou numerosas
vítimas, e que os nacionalistas indianos consideraram que se produziu como
consequência do açambarcamento de provisões destinadas aos exércitos dos Aliados.
Em 1946 ocorreram fortes
distúrbios na cidade, devido à petição para criação de um estado separado para
os indianos de religião muçulmana, o que provocou uma luta aberta com mais de 2
000 vítimas.
A principal avenida de
Calcutá, Chowringhee Avenue, em 1945.
Calcutá foi um centro importante no comércio e exportação da juta, mas em 1947, quando teve lugar a partição da
Índia,
viu-se invadida por ondas de emigrantes procedentes de áreas onde a luta pela
independência ocasionara grande violência, e da própria Calcutá partiam
emigrantes de confissão muçulmana para o recém-criado Paquistão
Oriental (hoje independente
sob o nome de Bangladeche). Ademais, as
terras em que se cultivava a juta que abastecia a indústria de Calcutá ficaram
do outro lado da nova fronteira. Tudo isso provocou um período de estancamento
econômico.
Nos anos 1960 e 1970, uma série de graves avarias no setor elétrico,
seguidas por greves e pela atividade
de uma guerrilha de ideologia maoísta, os najalitas,
continuou gerando instabilidade econômica na cidade.
Em 1971, a guerra
indo-paquistanesa de 1971, que provocou a criação do Bangladeche como Estado independente, originou novas ondas de refugiados que, unidos
aos que haviam ocasionado três secas sucessivas, obrigaram as pessoas do campo
a migrar para a cidade. O acréscimo
populacional consequente à explosão demográfica após a guerra converteu Calcutá
num fervedouro humano onde as imagens de amontoamento, decrepitude, doença e
morte, são habituais. Calcutá é a cidade do mundo com maior número de população
de rua e o maior número de leprosos.
A partir de 1977, a cidade é governada pelo Partido
Comunista da Índia (Marxista).
Imagem satélite coloreada de
Calcutá, tomada pelo Landsat 7 da NASA.
Calcutá encontra-se no delta do rio Ganges, no leste da Índia, ao longo do rio
Hooghly, a uma altura dentre 1,5 e 9 metros altura acima do nível do mar.
Estende-se à beira do rio Hugly em direção norte-sul, a uns 154 km do golfo de Bengala para o interior do continente. A maior parte do terreno sobre o que se
assenta a cidade compunha-se de pântanos, gradualmente
aterrados para acomodar a crescente população. A zona úmida remanescente,
conhecida como Umedais ocidentais de Calcutá ou East Calcutta
Wetlands foram designados
como "zona úmida de importância internacional" pelo Convênio de
Ramsar a 19 de agosto de 2002.
Como na maioria das planícies do Indo-Ganges, o tipo de solo predominante é o de aluviões. A cidade
assenta-se sobre solos quaternários consistentes em várias camadas de
sedimentos de argila, lama e grava. Estes sedimentos encontram-se
Kolkata
compreendidos entre dois leitos de argila, a inferior com uma profundeza
entre os 250 e 650 metros, e a superior com uma grossura entre 10 e 40 metros. Segundo o Bureau of Indian Standards, a
população assenta-se sobre uma zona sísmica de grau III numa escala de I a V
(segundo a propensão da zona a sofrer um terramoto), enquanto a zona é considerada de um
"muito alto risco de danos" por vento e ciclones segundo o Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento.
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