Arte cinematográfica
Publicado por Vitor Dirami,
“a beleza está além
do olhar”.
Canções de amor, de
tristeza, de saudade. Histórias felizes, tristes. Dramas ou comédias. Grandes
vozes. Em se tratando de musicais, quase tudo é possível. Desde as maiores
excentricidades, até as produções mais suteis. Escolha o seu preferido, e
embarque nesta viagem sentimental.
Musicais são parte integrante da memória
afetiva de qualquer pessoa. Talvez, os musicais sejam o gênero de filme que
mais nos transmitam emoções, sejam elas de alegria ou saudade. Canções tristes
ou de amor, ficam gravadas na cabeça, e as imagens nos acompanham até a hora de
dormir. Crianças, adultos e jovens, todos se deixam tocar pela mágica mistura
da música e do cinema. Quem não tem seu musical preferido? Desde o inesquecível
clássico Cantando na Chuva, até os mais recentes Chicago e Moulin
Rouge, passando pelo desenho animado da Disney A Bela e a Fera.
Todo mundo tem seu musical preferido. Nesta lista, escolhi - alguns - dos meus
prediletos, que também pode ser o do leitor, ou não, mas, ficam aqui cinco
maravilhosas sugestões. Assim como diz aquele ditado, que "gosto musical,
cada um tem o seu", em se falando de musicais não é diferente. Musical,
cada um tem o seu!
1º - Nasce uma Estrela (A
Star is Born, 1954)
Provavelmente, Judy Garland tenha sido a
maior atriz/cantora de musicais da era de ouro de Hollywood. Sua brilhante
participação em O Mágico de Oz (The Wizard of Oz,
1939); entre outros filmes, tornaram-na uma lenda. Mas, em Nasce uma
Estrela, Garland supera toda e qualquer expectativa. Era o seu retorno às
telas, após quatro anos de ausência do cinema, no primeiro musical e também o
primeiro filme colorido do "diretor das estrelas" - George Cukor.
Nesta superprodução, Judy dá vida à Esther Blodgett, uma sonhadora cantora que
deseja o estrelato. Ela conhece e ajuda Norman Maine (James Mason), um astro do
cinema decadente e alcoólatra, os dois se apaixonam e ele a ajuda a se tornar
uma grande estrela. Os dois se casam, e agora ela é uma grande artista, que
atende pelo nome de Vicky Lester. Mas, o que parecia perfeito começa a
degringolar. Norman não consegue assistir à sua decadência e o triunfo de
Esther. Ele se afunda cada vez mais, enquanto abala a carreira dela, o que
acabará arruinando a vida do casal.
Mais segura de si e disposta a retomar sua
carreira no cinema, Judy Garland reluz no papel de uma atriz em ascensão, indo
com maestria da diversão ao drama. Segunda versão da clássica história - a
primeira foi levada ao cinema em 1937 com Janet Gaynor interpretando a
protagonista, o filme faz uma crítica sútil ao star-system hollywoodiano
e as engrenagens de uma indústria que criava astros da noite para o dia, assim
como os destruía na mesma velocidade.
Outro destaque vai para a trilha sonora
composta de canções da dupla Harold Arlen e Ira Gershwin, na voz de Judy
Garland. O filme lançou verdadeiros clássicos como "Gotta Have Me Go With
You", "Lose That Long Face", "Someone at Last" e
"It's a New World", entre outros, incluindo a inesquecível "The
Man That Got Away", uma das mais populares canções de jazz de todos os
tempos. A direção de arte do filme também é soberba, - fotografia, figurino,
maquiagem - tudo é muito caprichado. Por ser um ator decadente, o papel de
Norman Maine foi recusado por Humphrey Bogart, Gary Cooper, Marlon Brando,
Montgomery Clift e Cary Grant, até finalmente ser aceito pelo inglês James
Mason, em uma de suas melhores aparições no cinema.
Nasceu uma Estrela diverte, entretém e comove. Foi
indicado à seis estatuetas do Oscar, incluindo Melhor Ator e Atriz. Judy
Garland e James Mason venceram o Globo de Ouro em Melhor Atriz e Ator -
Comédia/Musical.
2º - Os Homens Preferem as Loiras (Gentlemen
Prefer Blondes, 1953)
Se há um fato sobre a carreira de Marilyn
Monroe, é o de que a loura tinha uma aptidão admirável para a comédia, e também
para o canto, este último, infelizmente, poderia ter sido mais explorado, já
que ela tinha uma voz doce e um timbre muito agradável, como podemos observar
nas canções que registrou. No filme de Howard Hawks, Os Homens Preferem
as Louras, um dos mais emblemáticos dos anos 50, Monroe divide a cena com
outra beldade - Jane Russell. A trama narra as peripécias da dupla de
dançarinas Lorelei Lee (Marilyn Monroe) e Dorothy Shaw (Jane Russell). À
convite do noivo de Lorelei, que é um milionário, elas embarcam num cruzeiro
rumo a Paris. O pai do noivo, crente que Lorelei não passa de uma caça-dotes,
contrata um detetive para segui-las e conseguir provas da infidelidade da
futura nora. Consequentemente, a dupla vai viver altas confusões em alto-mar.
Além dos ótimos momentos da dupla Monroe-Russell, Os
Homens Preferem as Loiras se tornou célebre por trazer o luxuoso
número musical "Diamond's Are a Girl's Best Friend", interpretado por
Marilyn Monroe. Exaustivamente copiado e citado em diversas produções até os
dias de hoje. Na parte musical, o destaque também vai para os duetos da
impagável dupla em "When Love Goes Wrong" e "Two Little Girls
From Little Rock". À despeito do título, Marilyn Monroe teve de rebolar
para negociar o seu salário. Ela era uma estrela bem mais "barata"
que Jane Russell, cujo salário girava em torno de 100.000 dólares, enquanto a
pobre Marilyn só ganhou cerca de 18.000 dólares para atuar naquele filme.
A 20th Century Fox investiu caro na produção,
bastante requintada, que teve de reproduzir em estúdio um transatlântico e lugares
de Paris. Os cenários bastante caprichados e o belíssimo figurino assinado por
William Travilla, ajudaram o filme a ser um retumbante sucesso. Os
Homens Preferem as Louras atingiu a posição de sexta maior bilheteria
de 1953, e consolidou definitivamente Marilyn Monroe entre os grandes astros de
Hollywood, como a estrela mais rentável da 20th Century Fox.
3º - Entre a Loura e a Morena (The
Gang's All Here, 1953)
Um dos mais grandiosos musicais
hollywoodianos do período da II Guerra Mundial, Entre a Loura e a
Morena, dirigido e coreografado pelo prestigiado Busby Berkeley, é
considerado um camp classic - termo usado para designar filmes
cuja característica principal é o estilo kitsch, exagerado. Para
começar, o filme já abre com "Aquarela do Brasil", de Ary Barroso, na
voz do cantor e compositor Nestor Amaral. Nada neste filme pode ser chamado de
convencional - a não ser a trama - do tipo "garoto conhece uma
garota", de uma simplicidade quase franciscana.
O filme narra as desventuras do romance entre
o soldado Andy Mason (James Ellison) e a showgirl Edie Allen (Alice Faye). Eles
se conhecem no Club New Yorker e se apaixonam a primeira vista, mas o que ela
não sabe é que ele tem um compromisso de longa data com a jovem Vivian Potter
(Sheila Ryan) e que ele tem de partir para uma missão no pacífico, durante a II
Guerra Mundial. Quando ele volta condecorado do combate, seu pai Andrew Mason
(Eugene Pallette) decide fazer uma grande comemoração, e chama o grupo do Club
New Yorker para protagonizar um espetáculo na casa de seu amigos, o senhor e a
senhora Peyton Potter (Edward Everett Horton e Charlotte Greenwood), pais de
Vivian. Assim, Edie e sua exótica amiga Dorita (Carmen Miranda) descobrem que
Andy tem um compromisso com a filha de Potter. Ao chegar, Andy se vê obrigado a
desfazer o mal entendido, o que dá origem a hilárias confusões.
Um dos mais famosos e memoráveis trabalhos de
Busby Berkeley, Entre a Loura e a Morena também é apontado por
muitos como a melhor aparição de Carmen Miranda no cinema, que brilha e rouba a
cena dos companheiros com muitas doses de humor. Aqui, os fabulosos números
musicais se sobrepõem totalmente à história, principalmente o famoso "The
Lady in The Tutti-Frutti Hat", interpretado por Carmen Miranda vestindo um
figurino assinado por Yvonne Wood, com bananas e morangos na cabeça. O número
quase foi vetado pela rígida censura norte-americana, e por causa da insinuação
sexual - dezenas de garotas seminuas, para a época, segurando enormes bananas,
o filme acabou tendo sua exibição proibida em Portugal, terra natal de Carmen,
na época de sua estreia.
Entre outros destaques, estão a loira Alice
Faye, que nos brinda com sua beleza, charme e elegância, cantando "A
Journey to a Star", "No Love, No Nothing" e o número final - o
surreal "The Polka-Dot Polka", com as coristas vestindo figurinos
futurísticos e segurando grandes aros fosforescentes, formando vários
caleidoscópios psicodélicos. Outro ponto alto da produção, é a participação
especial de Benny Goodman e sua orquestra, que acompanham Carmen Miranda na
música "Paducah". A excelente fotografia, música, os cenários e o
figurino, renderam ao filme uma indicação ao Oscar, na categoria de Melhor
Direção de Arte.
4º - Funny Girl - Uma Garota Genial (Funny
Girl, 1968)
Considerada por muitos como sucessora de Judy
Garland, Barbra Streisand tornou-se uma das artistas mais emblemáticas dos anos
60 ao estrelar este drama musical do diretor ganhador do Oscar, William Wyler.
Em Funny Girl, ela repete nas telas o papel que já havia encenado
na Broadway com muito louvor. O filme conta a história cheia de altos e baixos
da comediante Fanny Brice (Barbra Streisand), desde o início no Lower East Side
em Nova Iorque, até atingir o estrelato no espetáculo de Florenz Ziegfeld
(Walter Pidgeon), Ziegfeld Follies. Passando pelo fracassado
casamento da atriz com um jogador inveterado - Nicki Arnstein (Omar Sharif).
O filme apresenta várias inconsistências ao
fantasiar demais os fatos da vida de Fanny Brice, a maioria, romantizados em
demasia. Mas, compensa em dobro pela arrebatadora interpretação de Barbra
Streisand, que encarna de corpo e alma a incrível carreira da comediante, em
uma performance lendária. A química com Omar Sharif é um dos pontos altos do
filme, o que contribuiu para dar realismo à vida conjugal do casal, que se
amavam demais, mas que estavam sempre à beira da destruição, e do fracasso de
si próprios.
Barbra domina os 151 minutos de projeção, e
os fazem parecer apenas 15 minutos. O grande destaque vai para trilha-sonora
assinada por Jule Styne e Bob Merrill, que lançou grandes sucessos como
"I'm The Greatest Star", "His Love Makes Me Beautiful",
"The Swan", "Don't Rain On My Parade", cujas interpretações
de Barbra tornaram-se clássicos, e por fim, a devastadora "My Man",
considerada uma das mais emocionantes performances musicais da história do
cinema. Não há muito o que falar, basta assistir a interpretação fenomenal de
Streisand e constatar a grande estrela que ela é, que soube como nenhuma outra,
mostrar os dois lados de ser uma grande atriz. A edição caprichosa, a trilha
sonora, o figurino, cabelo, maquiagem e cenários, absolutamente tudo é
impecável, e ajuda a compor uma história de amor e música.
A fabulosa atuação de Streisand, rendeu-lhe o
Oscar de Melhor Atriz da Academia, dividido naquele ano com outra diva
insuperável, Katharine Hepburn, ganhadora por Adivinhe Quem Veio Para o
Jantar (Guess Who's Coming to Dinner, 1968). O filme foi
indicado à outras seis categorias. Streisand ainda levaria um Globo de Ouro em
Melhor Atriz - Comédia/Musical, e um David di Donatello de Melhor Atriz
Estrangeira, junto com Mia Farrow, que ganhou por O Bebê de Rosemary (Rosemary's
Baby, 1968).
5º - Ama-me ou Esquece-me (Love
Me or Leave Me, 1955)
Dirigido pelo conceituado Charles Vidor,
autor de outros clássicos do porte de Gilda (1946), o drama
musical Ama-me ou Esquece-me narra a história ficcional da
trajetória real da cantora e atriz Ruth Etting (Doris Day), que alcançou o
estrelato nos anos 20 e 30. Desde o seu começo, como dançarina de boate na
velha Chicago, até atingir a fama no cinema. Passando pelo seu tempestuoso
casamento com o gângster Martin Snyder (James Cagney), que impulsionara sua
carreira e a ajudara a se tornar uma grande estrela, e o seu envolvimento com o
pianista Johnny Alderman (Cameron Mitchell).
A adorável Doris Day, uma das poucas divas da
Era de Ouro de Hollywood ainda vivas, está no auge de sua beleza e poder vocal
em Ama-me ou Esquece-me. Possivelmente, também, em sua melhor
atuação no cinema. James Cagney, também está em ótima forma, na pele de um
gângster sombrio, mas amoroso, que faz de tudo para ver sua amada brilhar.
Charles Vidor também acertou em retratar com ironia e realismo o ambiente
soturno e criminal do mafioso interpretado por Cagney, contrastando com a
persona amável e luminosa de Doris Day.
os executivos da MGM queriam Ava Gardner para
o papel de Ruth Etting, que também foi oferecido à Jane Russell. Mas, James
Cagney persuadiu
os produtores do filme a contratar Doris Day. A trilha sonora
do filme, foi composta majoritariamente por sucessos dos anos 30, gravados
originalmente por Ruth Etting. O filme traz excelentes performances. Entre as
músicas, encontram-se clássicos do Jazz como "Mean To Me", "Love
Me or Leave Me", "You Made Me Love You" e "Everybody Loves
My Baby" (But My Baby Don't Love Nobody But Me), interpretadas
magistralmente por Doris Day. Apenas outras duas canções foram compostas
especialmente para o musical - "Never Look Back" e "I'll Never
Stop Loving You".
A produção reconstituiu com capricho o
ambiente festivo e borbulhante do show business da Chicago dos anos 30, e o
figurino assinado por Helen Rose é deslumbrante. Love Me or Leave Me foi
ganhador do Oscar na categoria de Melhor História Original, e indicado à outras
cinco estatuetas, incluindo Melhor Ator (James Cagney), Melhor Canção Original
("I'll Never Stop Loving You") e Melhor Trilha Sonora.
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