Julie
Griffiths Repórter de Negócios da BBC
Como tantas boas
ideias, aquela inspiração chegou para um grupo de amigos após algumas cervejas.
Naquela época, os três atuais sócios da MorphCostumes tinham carreiras de
sucesso no mundo corporativo. Ainda assim, a ideia de abrir um negócio de
fantasias de lycra pareceu um bom plano.
Egressos da Universidade de Edimburgo, Gregor Lawson, 36 anos, e os
irmãos Fraser, 36, e Ali Smeaton, 34, criaram a empresa de fantasias
Morphsuits, atual MorphCostumes (um jogo de palavras entre metamorfose,
"morph", e fantasias, "costumes").
Embalado pelo álcool ou não, o instinto estava certo: a firma vendeu US$
1,8 milhão (cerca de R$ 7 milhões, em valores atuais) no primeiro ano, 2009.
O primeiro plano de negócios registrou a meta de vender 20 mil trajes
porque os sócios achavam que esse era o número máximo de interessados.
Eles estavam errados. Até hoje, já venderam 2,5 milhões de fantasias.
O que atraiu primeiro a atenção do trio foram os trajes - hoje batizados
de "morphsuits" porque quem os usa se transforma numa versão mais
divertida de si.
Um amigo apareceu numa festinha com uma fantasia de lycra que havia
comprado na internet.
E quando o rapaz usou o traje nas ruas de Dublin, na Irlanda, o sucesso
foi tanto que artistas de rua perdiam público enquanto ele passava.
"Centenas de pessoas queriam uma foto e até
pagavam drinques para ele", conta Fraser.
Interessados em reproduzir toda aquela atenção, Fraser, Ali e Gregor
compraram seus próprios trajes na internet. Mas descobriram que o material era
muito grosso, o que dificultava enxergar alguma coisa. E depois da noitada em
janeiro de 2009, eles decidiram que poderiam melhorar o desenho das peças e
vendê-las.
"Pensamos: 'Podemos tentar isso. Será um pouco de diversão fora do
trabalho - vamos ver quantos conseguimos vender", relembrou Fraser.
O grupo começou a trabalhar em um protótipo logo em seguida. Lançaram um
pedido no Alibaba, um site que conecta pequenas empresas a fábricas pelo mundo,
e encontraram um fornecedor na China. As fantasias são feitas por lá até hoje.
Eles aperfeiçoaram o traje de modo a permitir a visão do usuário - até
um drinque é possível com o rosto escondido atrás do tecido. Um detalhe
importante foi deixar o nome da marca na parte de trás da fantasia, para que
interessados pudessem procurar e comprar as suas.
Cada sócio entrou com o equivalente a R$ 6 mil, e o trio encomendou 200
macacões em seis cores, que ocuparam um terço do quarto de Fraser.
"Gregor lia os endereços e eu escrevia nos envelopes", conta
Fraser. "Eu levava as encomendas ao trabalho numa sacola enorme e postava
tudo na hora do almoço. Claro que isso era insustentável, então logo
encontramos um depósito."
O boom
O primeiro site da empresa custou R$ 4,1 mil, e os amigos usaram o
Facebook para divulgar o negócio. Em maio de 2009, venderam o primeiro
"morphsuit". O estoque esgotou em duas semanas e eles encomendaram
mais 2,5 mil fantasias.
A ficha do sucesso caiu na época do Halloween. Embora a empresa tivesse
apenas alguns meses, eles quase não conseguiam suprir a demanda.
"Colocamos o novo estoque à venda no final da tarde de uma
segunda-feira e vendemos 5 mil libras (cerca de R$ 30 mil) numa noite e 25 mil
libras (R$ 150 mil) no outro dia. E pensamos: 'Uau!", afirma Fraser.
Um ano após a ideia de boteco, em janeiro de 2010, a companhia se tornou
global após anunciar no Facebook na Austrália e nos Estados Unidos.
O sucesso era animador, mas o trabalho era duro. Os três ainda mantinham
carreiras estáveis. Fraser era chefe de marketing na empresa de tecnologia BT
Broadband, Gregor era gerente de marca na Procter & Gamble, e Ali era
contador no banco Barclays.
"Todos trabalhávamos em período integral em empregos corporativos,
chegando em casa às 19h30, trabalhando no nosso negócio até 2h, acordando e
fazendo tudo de novo", diz Fraser.
Na metade de 2010, ficou claro para os amigos que eles já podiam largar
os empregos para se dedicar à sociedade.
Consolidação
Os três descobriram que embora a ideia fosse de nicho, havia um enorme
espaço para ela. O mercado de fantasias movimenta US$ 2 bilhões (R$ 7,7
bilhões) nos EUA, e a MorphCostumes gira 10 milhões de libras (cerca de R$ 60
milhões) por ano.
Hoje Fraser é executivo-chefe, Gregor é diretor de marketing e Ali é
diretor de operações, funções definidas de acordo com suas especialidades nas
áreas comercial, criativa e financeira. Independentemente do posto, cada um tem
uma fatia igual da companhia. Eles ainda controlam o negócio, e investidores e
outros funcionários possuem partes menores.
Trabalhar com amigos, contudo, nem sempre é fácil.
"Há diferenças de opinião sobre estratégias a seguir, mas sempre
conseguimos ter uma boa discussão e concordar sobre um rumo sem criar longas
discórdias", afirma Fraser. "Um bom debate é importante porque
assegura que você realmente pensou naquilo."
Jogo da imitação
Eles têm a patente do nome Morphsuits, mas não podem evitar a ação de
piratas.
As primeiras cópias apareceram três meses após o início da empresa.
Fraser estima que 50 empresas já tenham copiado seus modelos.
"No começo ficamos revoltados, mas depois percebemos que todo novo
produto traz competidores. Isso nos força a continuar criando melhores produtos
para manter a dianteira", afirma o executivo-chefe.
A vendeu mais de 2,5 milhões de trajes
MorphCostumes tem filiais em Edimburgo, na Escócia,
e em Londres. Emprega 29 pessoas e vende a 29 países - os EUA são o maior
mercado. A fantasia mais popular é a preta, mas trajes especiais são populares,
como o dos Stormtroopers da saga Star Wars.
Truques digitais
Em 2012, um aporte de 4,2 milhões de libras (R$ 25 milhões) do Business
Growth Fund permitiu ao trio entrar no mercado mais tradicional de fantasias de
tecidos comuns.
Um ano depois, eles começaram a introduzir apetrechos digitais nas
fantasias. Isso só foi possível após a compra de uma firma de fantasias
desenvolvida por um cientista da Nasa (a agência especial americana), a Digital
Dudz. No ano passado, eles relançaram a marca e se tornaram MorphCostumes, para
refletir o cardápio mais amplo de produtos à venda.
O plano agora é manter o ritmo de crescimento, e boa parte dos lucros
vem sendo reinvestida no negócio com esse objetivo. Nada mau para uma ideia que
começou depois de algumas despretensiosas cervejas.
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