quinta-feira, 22 de outubro de 2015

EXPEDIÇÃO TENTA ALCANÇAR LUGAR MAIS INCESSÍVEL DO MUNDO'

Ciência


Camila RuzBBC News Magazine






No centro do Oceano Ártico ainda há um polo a ser conquistado. E agora uma equipe britânica planeja uma viagem de mais de 1.000 km para ser a primeira a atingir o lugar mais remoto do mundo.
O Ártico pode ser um lugar cruel, sobretudo em seu ponto mais distante. O Polo Norte ou Ártico de Inacessibilidade marca o lugar mais difícil de alcançar. É o ponto mais afastado de qualquer porção de terra, a cerca de 450 km do Polo Norte geográfico.
Chega-se a esse ponto cruzando uma camada espessa de gelo que cobre um oceano de até 5,5 km de profundidade. As temperaturas podem atingir -50Cº no inverno e é escuro de outubro a março.
A expedição do próximo ano será a terceira tentativa de Jim McNeill's nesse polo. As duas viagens anteriores do explorador não saíram como planejadas. Na primeira vez, uma infecção por uma bactéria comedora de carne o manteve no acampamento base.

Na segunda tentativa, em 2006, ele caiu no gelo depois de uma tempestade. "Os três dias seguintes foram horríveis", ele diz. "A camada de gelo de três metros e meio estava quebrando de forma contínua, e dormir se tornou um problema real."
McNeill chegou a 270 km da última porção de terra, mas com o chão se desintegrando, foi obrigado a interromper a jornada.
Antártica
Na outra extremidade da Terra, na Antártida, também há o ponto mais distante da costa. Por causa de discordâncias sobre o local em que a costa acaba, exploradores viajaram a diferentes locais em busca do Polo Sul de Inacessibilidade.

  

Image copyrightrImage captionJim  McNeill é da expedição que deve partir em 2016
A tradição diz que esse ponto foi atingido pela primeira vez no final dos anos 1950, por uma expedição russa. A equipe montou uma estação de pesquisa no local, com um busto do líder comunista Vladimir Lênin (1870-1924). Quando o local foi revisitado em 2007, a cabana estava soterrada e apenas a estátua aparecia em meio à neve.
Enquanto outras equipes alcançaram o Polo Sul de Inacessibilidade, o Polo Ártico se mostra mais difícil de alcançar. Considerava-se que o explorador polar australiano Hubert Wilkins havia sobrevoado o ponto em 1927.


Image copyrightuteImage caption Um busto de Lênin marca o Polo Sul de Inacessibilidade
O explorador britânico Wally Herbert pensou ter alcançado o local a pé durante sua jornada de 5,9 mil km pelo Oceano Ártico congelado nos anos 1960. Mas o polo estava no lugar errado.
McNeill foi o primeiro a suspeitar que as coordenadas estavam erradas. Um grupo de cientistas seguiu suas pistas, usando dados de satélite para obter um panorama mais nítido da área.
"Acredite ou não, mas a linha da costa do Ártico até o final dos anos 1990 e começo dos anos 2000 ainda tinha grandes erros por causa de mapeamentos incorretos de longa data", afirma Ted Scambos, do Centro Nacional de Neve e Gelo dos EUA, que participou do estudo. 


Image copyrightrImage caption Grupo irá usar qajaqs - um misto de trenó e canoa
Eles descobriram que o Polo Norte de Inacessibilidade estava a 214 km de distância do ponto antigo. Deveria ter sido um erro simples de detectar, diz Gareth Rees, do Instituto de Pesquisa Polar Scott, na Inglaterra, que ajudou a calcular a nova localização.
Se você imaginar o maior círculo possível de desenhar em qualquer oceano, o polo de inacessibilidade está no centro, diz Rees. Ele tocará a terra em três pontos, e esses locais definem o polo. No entanto, os velhos mapas apenas mostravam dois pontos, então estavam errados. "É um mistério que não resolvemos."
A Conquista do Polo Norte



Image copyright Getty
O americano Robert Peary (1856-1920) reivindicou a descoberta do Polo Norte em 1909 (foto), mas hoje muitos questionam a precisão de sua navegação.
A primeira jornada comprovada foi feita pelo norueguês Roald Amundsen e pelo americano Lincoln Ellsworth; eles sobrevoaram o polo em 1926.
Os primeiros exploradores a alcançarem o polo integravam uma expedição soviética de 24 pessoas em 1948.
A primeira conquista comprovada do Polo Norte foi realizada por uma equipe britânica liderada por Wally Herbert (1934-2007) em 1969.
As novas coordenadas do Polo Norte de Inacessibilidade foram anunciadas em 2013. Ninguém até hoje atingiu o local de forma deliberada. A escala do desafio pode ser desconcertante para muitos.
"O gelo pode formar grandes montanhas", diz Nick Cox, da operação britânica da Antártica e gerente da estação ártica do Reino Unido. "Sempre há a possibilidade de cair por entre o gelo."
As jornadas até os polos extremos são diferentes. "Na Antártica é uma longa e gelada jornada de ski cross-country, mas no Ártico é como uma corrida de obstáculos", explica Scambos.
Nova jornada
Isso não desanimou McNeill a planejar sua terceira tentativa. Em 2016, um time de voluntários em seu projeto Ice Warrior (Guerreiro do Gelo) irá dar a largada em seus qajaqs - um misto de trenó e canoa.



Image copyright Image caption Jornada pelos confins do Oceano Ártico se assemelha a uma corrida de obstáculos, dizem especialistas
Se tudo correr bem, eles levarão 80 dias para atingir o objetivo. Eles medirão o gelo no caminho para colher dados sobre como ele está se desfazendo. Também registrarão a presença de ursos polares, embora ainda não saibam quantos aparecerão na rota.
"Eu não chamaria a região de um lugar inóspito", diz Donatella Zona, uma ecologista especializada no Ártico da Universidade de Sheffield. Mas não há conhecimento suficiente sobre a biodiversidade do Ártico, em parte pela dificuldade de realizar pesquisas de campo. "É muito duro. São meses de escuridão completa e temperaturas de -40Cº a -50Cº", ela diz.
A corrida para estudar o Ártico em meio a mudanças climáticas está se tornando mais urgente. Há quem diga que o Polo de Inacessibilidade não será inatingível por muito tempo. Há diferentes previsões sobre quando não haverá mais gelo de verão no Oceano Ártico, tornando a navegação na região mais fácil.
  

Image copyrightcImage caption A camada de gelo do Ártico está ficando mais fina e o terreno, mais instável.
Mas as mudanças no gelo também tornam o polo mais difícil de alcançar a pé. A camada de gelo está ficando mais fina e o terreno, mais instável. "Cada vez mais eu penso que as pessoas não irão nem tentar fazer coisas como cruzar o Ártico", afirma Scambos.
McNeill e sua equipe irão começar a jornada durante o inverno no hemisfério norte, e esperaram conseguir cruzar o gelo antes que ele comece a quebrar. Mas precisarão se apressar no meio da escuridão, porque a rota até o Polo de Inacessibilidade está derretendo.

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