Corrupção
Luís
Guilherme Barrucho, Enviado especial da BBC Brasil à Suécia e à Finlândia.
À primeira vista, as biografias de Dilma Rousseff e
de seu colega finlandês, Sauli Niinistö, não convergem: de esquerda, ela
participou da resistência à ditadura militar; de direita, ele abandonou o
escritório de advocacia que comandava para entrar na política e acabou eleito
com o apoio do empresariado do país.
Mas
há um ponto em comum no passado recente dos dois líderes que virou motivo de
piada entre jornalistas finlandeses: as campanhas de ambos à Presidência são
suspeitas de terem sido irrigadas com dinheiro de fontes irregulares.
Dilma
e Niinistö tiveram uma reunião privada nesta terça-feira em Helsinque, na
Finlândia, e, em seguida, fizeram um pronunciamento à imprensa. A presidente
está em visita oficial à Finlândia depois de passar pela Suécia. Ela chega ao
Brasil na manhã de quarta-feira.
"A
imprensa finlandesa brincou que Niinistö ganharia imediatamente a simpatia de
Dilma", afirmou uma jornalista finlandesa à BBC Brasil.
O
escândalo envolvendo o presidente finlandês dominou o noticiário local desta
terça-feira após a revelação de novas denúncias contra ele no principal
programa de TV do país, exibido na noite de segunda-feira.
A
campanha de Niinistö é acusada de ter se beneficiado de doações não
identificadas de empresários durante a corrida presidencial de 2006. Ele acabou
derrotado no pleito.
O
esquema teria voltado a acontecer nas eleições parlamentares do ano seguinte,
abastecendo as campanhas dos principais partidos de centro-direita da
Finlândia, inclusive o de Niinistö, o Partido de Coalizão Nacional.
Segundo
as denúncias, grandes empresas doavam a organizações sociais criadas pelos
próprios partidos que, por sua vez, encaminhavam o dinheiro em forma de doação
às campanhas. O objetivo era manter o sigilo dos doadores, que depois cobravam
favores dos parlamentares eleitos.
O
esquema teria movimentado cerca de 500 mil euros na época (R$ 2,2 milhões em
valores atualizados) e provocou uma mudança na lei de financiamento de campanha
na Finlândia, tornando-o mais rígido. As novas regras estipulam que as doações
têm de ser declaradas e apenas aquelas abaixo de 1,5 mil euros podem permanecer
anônimas.
A
triangulação guarda semelhanças com o suposto esquema que teria sido usado pelo
PT durante a última campanha de Dilma à Presidência, segundo denúncia em
delação premiada do empresário Ricardo Pessoa, dono da empreiteira UTC, em
depoimento durante as investigações da operação Lava Jato.
O
partido, no entanto, tem afirmado que as contribuições recebidas são
"todas legais e declaradas ao TSE".
'Quebra de confiança'
Segundo
jornalistas locais, o escândalo chocou a sociedade finlandesa, conhecida
mundialmente pelo alto nível de confiança nas instituições.
"O
finlandês não está acostumado a escândalos de corrupção. Há um ambiente de
confiança mútua", afirmaram.
"Em
alguns meios de transportes públicos, por exemplo, não há catracas e, mesmo sem
fiscalização, todo mundo paga passagem. Isso (o escândalo) de certa forma
chocou porque quebrou essa relação de confiança", acrescentaram.
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