História
Publicado por Luís Pereira
Franz Joseph I, imperador da
Áustria-Hungria, teve um reinado marcado pela longevidade, pelas crueldades
sofridas e pela sua demonstração de força - que resultou numa das guerras com
mais vítimas mortais na história da Humanidade. À época, era um dos eixos do
equilíbrio europeu. Acabou por ser ultrapassado pelos acontecimentos.
Um político da velha Europa O seu reinado de 68 anos foi um dos mais
longos da história ocidental e o último a cair da velha monarquia europeia.
Pertencente à família nobre de Habsburgo, Franz Joseph viveu entre 1830 e 1916.
Foi imperador da Áustria a partir de 1848 (ano da vaga europeia de revoluções
conhecida como "Primavera dos Povos") e rei da Hungria a partir de
1867, ambos até à sua morte. Casou com uma prima, a duquesa Isabel da Baviera
(a célebre Sissi) e, com ou sem influência exterior, cumpriu até ao fim o lema
que lhe fazia todo o sentido: "Viribus Unitis" ou "União das
Forças".
Para manter a união dos cerca de 50 milhões
de súbditos de 11 nacionalidades diferentes, teve que conjugar a sua política
autoritária e centralizadora com medidas liberais, num equilíbrio instável que
a qualquer momento poderia pender para qualquer um dos lados.
"Ninguém previu a dimensão da
guerra"
A partir do início do século XX, as potências
europeias mantiveram um cenário de suposta paz entre si. Mas no Verão de 1914
um atentado em Sarajevo vitimou Franz Ferdinand, sobrinho de Franz Joseph e
herdeiro da coroa. Este foi o despertar de uma guerra que se pretendia
localizada, rápida e eficaz e que, na verdade, não começara aqui: tinha raízes nas
várias nacionalidades do império austro-húngaro, que reclamavam autonomia. Isto
ao mesmo tempo que se davam movimentos separatistas e nacionalistas na Europa.
Ecos do exterior que tiveram influência interna.
A luta armada era vista na altura como algo "normal,
legítimo, honroso e necessário", e em parte desejada. Segundo o presidente
americano Theodore Roosevelt, a guerra faria parte das "leis da luta pela
vida", usada também para promover a coesão de um país contra inimigos
externos. "Num primeiro tempo, uma onda de unanimidade varre as disputas,
anula as dissensões", refere o historiador René Rémond.
As negociações e cedências que Franz Joseph I
fez durante o reinado acalmaram algumas hostes (por exemplo, húngaras) mas não
a dos defensores de uma "Grande Sérvia". Em visita à capital da
Bósnia, o herdeiro Franz Ferdinand e a mulher foram assassinados por Gavrilo
Princip, jovem terrorista membro da "Mão Negra". A Áustria-Hungria
lançou um ultimato à Sérvia com várias exigências que foram aceites, exceto uma
que feria a soberania deste país. Numa jogada político-militar lógica, Franz
Joseph declarou, por isso, guerra.
Tudo levava a crer que esta em nada seria
diferente das anteriores guerras balcânicas de 1912 e 1913, no seu carácter
limitado. Mas o contexto era diferente e as diversas alianças militares
preparadas em "paz armada" foram desencadeadas, qual dominó,
envolvendo as grandes nações europeias da época. O jogo diplomático de Franz
Joseph I teria em mente explorar o episódio do atentado para infligir uma
"lição militar" à Sérvia. Mas o ultimato demorou demasiado tempo,
permitindo uma maior preparação do adversário.
Franz Joseph, o "velho monarca",
simbolizou um regime a decair em aceitação popular, com toques cruéis: seu
irmão Maximiliano, imperador do México, fuzilado; seu filho Rudolfo, único
herdeiro, suicidou-se; sua esposa assassinada por um anarquista e seu sobrinho
e herdeiro, Franz Ferdinand, morto por um nacionalista sérvio. Aos 84 anos,
coberto de desgraças, de lutos e decepções, já não lhe cabe dirigir os
acontecimentos. Morreu em 1916, não chegando a ver o fim da guerra que
começara, nem a Europa que nasceu após o fim dos impérios.
Nenhum comentário:
Postar um comentário