Ciência
Laura
PlittDa BBC Mundo
O estudo mostra que o
reflorestamento pode ter grandes consequências em um e que precisa ser
analisado com cautela
Um dos inúmeros benefícios
que as árvores prestam à humanidade é o de absorver parte do dióxido de carbono
da atmosfera.
E, com a ameaça do aquecimento global causado pelo homem com a emissão
em grandes quantidades de gases do efeito estufa, plantar árvores parece ser a
"estratégia perfeita": mais árvores significam mais absorção de CO2
que, por sua vez, geram menos aquecimento.
Mas alguns pesquisadores alertam para a importância de se observar o
ecossistema de cada região antes de optar pelo plantio desenfreado de árvores.
Em uma região da Patagônia, no Sul da Argentina, por exemplo, as formigas
desapareceram justamente por causa de um desequilíbrio no sistema causado pelo
florestamento (plantio de árvores em região em que não havia floresta).
"Nas zonas áridas, onde substituíram a vegetação de estepe pelo
plantio de árvores, observamos que os artrópodes do solo diminuíram",
disse Adelia González Arzac, bióloga e doutora em Ciência Agropecuária.
No sul da Argentina, a poucos quilômetros de San Martín de los Andes, na
província de Neuquén, foram plantadas árvores tanto em lugares áridos, como em
úmidos. Esse tipo de florestamento não planejado permitiu a Amy Austin,
pesquisadora do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas da
Universidade de Buenos Aires, e a sua equipe estudar o impacto disso em
ecossistemas a longo prazo.
"O que vimos é que plantar espécies exóticas tem um efeito sobre
todos os aspectos do funcionamento dos ecossistemas", disse a
pesquisadora.
"Vimos mudanças na produtividade primária (isto é, no crescimento
das plantas nativas), alterações na abundância da fauna do solo, nas cadeias
alimentares, na decomposição e reciclagem do carbono, e não sabemos quais serão
as consequências dessas mudanças", completou.
O que Austin e Arzac conseguiram observar nesse tempo foi uma diminuição
considerável da presença de formigas nesta região da Patagônia.
Na Patagônia argentina foram reflorestados cerca de 70 mil
hectares
"Diminuiu abruptamente a abundância desses organismos (artrópodes)
nessas regiões de reflorestamento e quase desapareceram alguns grupos
específicos como os solifugae, que são artrópodes predadores, e as
formigas", explicou Arzac.
"Esse tipo de plantações geralmente traz formigas mais exóticas que
vivem com essas espécies e acabam invadindo e dominando a biodiversidade
natural."
"Mas aqui aconteceu o contrário e não sabemos por quê. Pode ser que
tenha sido por causa da sombra que as árvores criam ou pelas mudanças na
química do solo. Isso é algo que ainda vamos estudar", diz.
Importância
O desaparecimento das formigas pode parecer algo pouco relevante, mas
elas cumprem funções essenciais nos ecossistemas - como a reciclagem de
nutrientes, segundo as pesquisadoras. "Além disso, elas afetam a dinâmica
da vegetação, dispersando as sementes e ainda ajudam a regular outras
populações de insetos", diz Arzac.
Fazendo uma análise mais cautelosa, Austin classifica esses efeitos como
indesejados – em vez de negativos – já que ainda não houve estudo mais profundo
sobre o verdadeiro impacto dessa florestamento.
No caso da Patagônia argentina, os programas de florestamento foram
iniciados nos anos 1970. Naquele momento, o Estado estimulava essa atividade
para aumentar a produção de celulose e papel.
As folhas do pinheiro não se decompõem tão fácil na terra
E ainda que as árvores analisadas pelo grupo de Austin não tenham sido
plantadas com a intenção de captar CO2, elas representam um bom caso de estudo,
justamente por sua idade de quase quatro décadas. Nesse período, elas passaram
por diferentes experiências de precipitações, já que algumas foram plantadas em
zonas áridas, tais como pastagens, e outras em lugares de floresta nativa.
Cautela
Nesse sentido, Austin põe em xeque a estratégia do plantio de árvores
com o objetivo de reduzir o CO2 da atmosfera. Ao menos no caso da Patagônia,
onde houve florestamento com pinheiros espaçados por onde não havia árvores.
"Como estratégia para diminuir o carbono, a ação não teve muito
sucesso, pelo menos nesse ecossistema local", explica a cientista.
O problema dos pinheiros é que eles soltam muitas pinhas e essas folhas
secas têm muitos compostos que não se dão com os organismos que vivem no solo.
Assim, as folhas demoram mais para se decompor na terra.
Isso significa que esse acabou não sendo o mecanismo mais eficiente na
hora de tirar o carbono da atmosfera. Por isso, no caso da implementação dessa
estratégia na Patagônia, "os custos superam os benefícios."
Amy Austin e sua equipe trabalhando na região da Patagônia
Mas o que aconteceria se essas árvores fossem cortadas? "Ainda não
sabemos se os ecossistemas poderiam voltar ao que eram antes", disseram as
pesquisadoras.
"Não quero dizer categoricamente que reflorestar é bom ou ruim, mas
a minha mensagem é que quando o foco disso é centrado unicamente em diminuir a
quantidade de carbono no ecossistema, perde-se a perspectiva sobre os efeitos
colaterais disso", diz Austin.
Se a ideia é plantar árvores com esse fim, é uma estratégia que precisa
ser implementada com cuidado, alerta a pesquisadora.
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