Ciência/Astronomia
Estrela com objetos orbitando à
sua volta levanta especulações de vida inteligente
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País – O JORNAL GLOBAL - Facebook
KIC 8462852
é uma estrela estranha, ou pelo menos é o que parece agora. Está a 1.480 anos
luz, muito longe, mas em nossa própria galáxia. O Telescópio Espacial Kepler,
apesar da distância, recolheu informações que nos contam que à sua volta orbita
uma série de objetos que não parecem exoplanetas. O Kepler, que já descobriu
mais de 4.000 mundos fora do Sistema Solar, é capaz de detectar minúsculas
variações no brilho de estrelas remotas. Se um escurecimento que ocorre em
intervalos regulares é observado, é possível interpretar que um planeta passou
na frente da estrela. Depois, uma medição precisa da piscada permite realizar
estimativas sobre o tamanho do objeto.
No caso da
KIC 8462852, as oscilações da luz sugerem que à sua volta não orbitam um ou
vários planetas normais. Mais do que isso, parece que seu entorno é uma
confusão de objetos de vários tamanhos, que viajam a diferentes velocidades e
que não fazem isso em um plano mais ou menos fixo, como nos sistemas
planetários comuns.
As notícias
trazidas pelo Kepler sobre essa estrela singular teriam uma explicação
relativamente simples se se tratasse de um astro jovem. Quando um sistema solar
está em formação e a força de atração da estrela ainda não colocou em órbita a
matéria que se acumula à sua volta para organizá-la na forma de planetas, é
possível esperar uma desordem como a observada. No entanto, as medições de
radiação infravermelha são menores do que o esperado em uma estrela jovem. Esta
é uma das hipóteses descartadas por um grupo de astrônomos em um artigo publicado há um mês. Nele, vão elencando várias
explicações para justificar as peculiaridades da KIC 8462852 e ficam com uma que,
ainda que tenha limitações, consideram a mais plausível. Se for verdadeira, os
objetos desorganizados vistos naquele sistema planetário seriam uma família de
cometas empurrados para a estrela a pela força da gravidade de um segundo astro
próximo.
Toda esta informação, fruto do trabalho de voluntários integrantes
do projeto Planet Hunters, teve uma segunda explicação
mais improvável, mas que causou muito mais comoção. Segundo um artigo desta
semana publicado na revista The Atlantic, em breve Jason Wright, um jovem
astrônomo da Universidade Penn State, publicará uma interpretação alternativa
às piscadelas encontradas pelos voluntários nas imagens captadas pelo Kepler.
De seu ponto de vista, as observações poderiam ser explicadas pela presenta de
megas-infraestruturas criadas por algum tipo de civilização para aproveitar a
energia da estrela. Além disso, tanto Wright como Tabetha Boyajian, a
pesquisadora da Universidade de Yale responsável pelo Planet Hunters, querem
solicitar o uso do grande rádio-telescópio VLA, no Novo México (EUA) para
buscar ondas de rádio originadas de algum objeto criado por seres inteligentes.
Para David Barrado, pesquisador do CSIC e
especialista em mundos extra-solares, a proposta parece “um exercício intelectual
interessante”. No entanto, acredita que é muito pouco provável que essa
explicação corresponda à realidade. “As observações de Kepler são muito
delicadas e, ainda que não sejam precisas, a análise é complicada e pode haver
muitos erros”, explica. “Por exemplo, sempre se assume que as estrelas
observadas em princípio têm uma forma esférica, ou que não têm manchas, ou que
os planetas à sua volta também são esféricos”, acrescenta. Todas essas
limitações tornam necessário muito trabalho de análise para interpretar bem os
dados.
Barrado propõe também outra
pergunta interessante. De onde aquela suposta civilização extraterrestre
tiraria a quantidade de matéria necessária para construir uma usina de energia
solar orbital grande o suficiente para ser vista a quase mil e quinhentos
anos-luz de distância? Como lembra o investigador do CSIC, se fôssemos capazes
de coletar toda a massa acumulada no cinturão de asteroides, o total só corresponderia
a cerca de 3% da massa da Lua. Depois de converter a matéria em uma
infraestrutura descomunal, seria preciso colocá-la em órbita, algo que exige
quantidades imensas de energia, e depois ter certeza de que os efeitos
gravitacionais da estrela ou de outros planetas não fizessem soçobrar tal
construção.
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