Ecologia
PUBLICADO POR ADRIANA GANDELMAN
Andando na contramão de
certas empresas ocidentais que simplesmente despejam seus detritos indesejáveis
na costa do continente africano, a Suécia está importando lixo de outros
países. Dizem que uma das formas de medir o atraso de um país é olhando para o
seu lixo. Que o exemplo sueco nos sirva de inspiração.
Andando na contramão de certas empresas
ocidentais que simplesmente despejam seus detritos indesejáveis na costa do
continente africano, a Suécia está importando lixo de outros países.
Isso mesmo. O que costuma ser um enorme
problema para a maioria das nações é a solução para a Suécia. Apenas 4% do lixo
doméstico sueco vai parar em depósitos. O resto é reciclado ou usado como
combustível em usinas que transformam estes resíduos em energia. A queima do
lixo é responsável por fornecer 20% do sistema de aquecimento do país, além de
fornecer energia para 250 mil residências. O problema é justamente que o
sistema de aproveitamento de lixo na Suécia é tão eficiente que a capacidade de
processamento deles supera a capacidade de produção. Assim, eles começaram a
importar 800 mil toneladas de lixo por ano de seus vizinhos europeus. Alguns
países, como a Romênia e a Bulgária, não possuem usinas de processamento de
lixo nem reciclagem; eles o depositam em grandes aterros que funcionam como
depósitos. Com isso a Suécia pretende resolver o seu próprio problema e o de
outros países.
É um caso a se pensar. Com o incrível
desenvolvimento da tecnologia de forma a facilitar a vida moderna, a quantidade
de lixo produzida no mundo tem aumentado de forma assustadora. No mundo todo,
produzimos cerca de 3.5 milhões de toneladas de lixo por dia. A perspectiva é
de que até 2025 esta quantidade seja dobrada e até 2100 ela será triplicada.
E os países mais desenvolvidos, que deveriam
estar dando o exemplo, não o fazem. Em 2009, uma investigação conduzida pelo
jornal inglês “The Independent” em parceria com o “Greenpeace”, descobriu que
toneladas de lixo tóxico estavam sendo enviadas do Reino Unido para a costa da
África, numa tentativa de se livrar de televisores, computadores e outros
aparelhos obsoletos. Estas empresas se aproveitaram de uma legislação que
permite a exportação de equipamentos que potencialmente funcionem para países
em desenvolvimento, e que apenas proíbe que produtos eletrônicos quebrados
saiam dos países da Comunidade Europeia. O pretexto das empresas inglesas é de
que estes equipamentos poderiam ser reaproveitados, mas a verdade é que eles
estão sendo abandonados por não terem nenhuma utilidade. Os órgãos ambientais
classificaram este tipo de lixo como sendo muito tóxico e prejudicial à saúde e
que nunca deveria ter deixado a costa do Reino Unido. Muitos países da África
sofreram com este problema, como a Costa do Marfim em 2006, após o despejo de
produtos químicos e tóxicos incluindo soda cáustica, que causou a morte e a
intoxicação de milhares de habitantes.
No Brasil, nós jogamos fora 76 milhões de
toneladas de lixo por ano. Mas apenas 3% é reciclado, embora 1/3 deste lixo
seja potencialmente reciclável. Com o novo Plano Nacional de Resíduos Sólidos,
que entrou em vigor no ano passado, algumas pequenas mudanças foram
implantadas. Este plano determina que os lixões devem ser erradicados e
substituídos por aterros sanitários. Mas ainda estamos longe da meta. Temos um
longo caminho a percorrer no nosso país, sobretudo em termos de conscientização
da população, de mudanças comportamentais do cidadão comum e de conduta das
empresas, que deveriam estar buscando soluções mais sustentáveis. Dizem que uma
das formas de medir o atraso de um país é olhando para o seu lixo. Que o
exemplo sueco nos sirva de inspiração.
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