Ecologia
Fernando Alcoforado*
A humanidade
se defronta com uma fronteira temporal que não é 2100, mas bem mais cedo, 2030!
Esta data não é arbitrária. Em 2030, viveremos em um planeta que terá cerca de
9 bilhões de habitantes dos quais dois terços vivendo em uma Terra saturada de
poluição e dejetos já afetada por uma alta sensível de temperaturas. Em 2030,
estaremos entrando em uma fase de penúria em relação ao petróleo e de forte
tensão sobre outros combustíveis fósseis, em um contexto de redução dos
recursos naturais e empobrecimento de terras cultiváveis. A concentração de gás
carbônico na atmosfera que era de 280 ppm (partículas por milhão) em volume no
início da era industrial poderá alcançar no século XXI valores entre 540 e 970
ppm. Este aumento da concentração de gás carbônico é responsável por 70% do
aquecimento global em curso. O mundo está diante de um desafio que é o de não permitir
o aquecimento global no século XXI superior a dois graus centígrados sem o qual
terá que arcar com as consequências catastróficas resultantes das mudanças
climáticas. Para evitar que o aquecimento global ultrapasse 2ºC será preciso
uma radical descarbonização da economia mundial. Trata-se de uma tarefa de
difícil realização, mas ainda possível. Neste sentido, o mundo precisa limitar
todas as emissões de gás carbônico (CO) a um trilhão de toneladas.
Um
compromisso global objetivando limitar o aumento do aquecimento global a 2ºC
deverá ser firmado em dezembro deste ano, na Conferência do Clima de Paris, a
COP 21. Os estudos do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas) da ONU recomendam a redução de emissões de gases do efeito estufa responsáveis
pelo aquecimento global da ordem de 60% a 70% até meados deste século. Em
outras palavras, as emissões per capita devem convergir para não mais do que
duas toneladas de CO equivalente (COe) em 2050. Para alcançar este objetivo
terá que haver em todos os países do mundo um gigantesco esforço no sentido de
diminuir drasticamente as emissões de gases do efeito estufa. Até outubro, os países apresentaram propostas
de corte de emissões, conhecidas como INDCs (da sigla em inglês Contribuições
Pretendidas Nacionalmente Determinadas). 2 Este objetivo só será alcançado se a
COP 21 adotar políticas que contribuam para: 1) reformar os setores de energia
e transportes; 2) promover o uso de fontes energéticas renováveis; 3) eliminar
mecanismos financeiros e de mercado inapropriados aos fins da Convenção; 4)
limitar as emissões de gases do efeito estufa no gerenciamento de resíduos e
dos sistemas energéticos; e, 5) proteger florestas e outros sumidouros de
carbono. Considerando o fato de que os principais responsáveis pelas emissões
de gases do efeito estufa no mundo são: 1) a geração de energia elétrica de
usinas termelétricas com o uso de combustíveis fósseis com 22% das emissões de
gases do efeito estufa; 2) o desmatamento com 18%; 3) a agricultura e pecuária
com 14%; 4) a indústria com 14%; 5) os automóveis e aviões por 13%; 6) o uso
residencial e comercial de combustíveis com 11%; 7) a decomposição do lixo com
4%; e, 8) as refinarias por 4%, o esforço da comunidade internacional deve ser
concentrada na adoção de medidas que contribuam para a eliminação ou redução
nesses setores da emissão dos gases do efeito estufa na atmosfera.
Para
exemplificar, as usinas termelétricas com o uso de combustíveis fósseis devem
ser substituídas por fontes renováveis de energia (solar, eólica e biomassa) e,
em última instância por usinas nucleares e o desmatamento deve ser combatido
com uma fiscalização adequada de áreas florestais e com a punição exemplar dos
desmatadores. Deve-se incentivar a substituição do óleo diesel utilizado na
agricultura pelo biodiesel, a redução do tamanho da população bovina
responsável pela emissão de metano para a atmosfera, a substituição do óleo
combustível utilizado pela indústria pelo gás natural menos poluente, o uso do
etanol pelos automóveis em substituição à gasolina e a fabricação de carros
elétricos em substituição aos veículos movidos com combustíveis fósseis.
Deve-se promover a substituição do GLP utilizado nas residências e no comércio
pelo gás natural menos poluente. A emissão de gases do efeito estufa resultante
da decomposição do lixo pode ser evitada com o uso do metano produzido nos
aterros sanitários na geração de energia elétrica, bem como na produção de
adubo. Nas refinarias, deferia haver um esforço no sentido de reduzir a produção
de derivados de petróleo paralelamente à adoção de medidas voltadas para a
redução do consumo de derivados de petróleo. As refinarias deveriam estar
voltadas fundamentalmente para a produção de derivados de petróleo de uso mais
nobre ou menos poluente.
Portanto,
para eliminar ou reduzir as emissões de gases do efeito estufa e impedir as
mudanças climáticas catastróficas em nosso planeta, urge reduzir o consumo de
petróleo com a adoção de políticas visando a execução de programas que
contribuam para sua substituição por outros recursos energéticos. Neste
sentido, é preciso efetuar a: 1) geração de energia elétrica com o uso de
fontes renováveis de energia (solar, eólica e biomassa); 2) substituição da
gasolina pelo etanol e do diesel pelo biodiesel em curto prazo no setor de
transporte; 3) substituição da gasolina e do diesel pelo hidrogênio a médio e
longo prazo no setor de transporte; 4) substituição do óleo combustível pelo
gás natural e biomassa na indústria; 5) substituição do carvão mineral pelo gás
natural na indústria; 6) substituição do óleo diesel pela biomassa e gás
natural no setor energético; e, 7) substituição do GLP pelo gás natural no
setor residencial e de serviços. Adicionalmente, é imprescindível a adoção de
políticas energéticas visando a execução de programas que contribuam para
redução do consumo de petróleo através de ações de economia de energia.
As políticas
de economia de energia consistiriam no seguinte: 1) produzir vapor e
eletricidade na indústria com o uso de sistemas de cogeração; 2) incentivar as
3 montadoras de automóveis e caminhões no sentido de elevar a eficiência dos
veículos automotores para reduzir o consumo de combustíveis; 3) expandir os
sistemas ferroviários e hidroviários para o transporte de carga em substituição
aos caminhões; 4) expandir o sistema de transporte coletivo, sobretudo o
transporte de massa de alta capacidade como o metrô ou VLT para reduzir o uso
de automóveis nas cidades; 5) restringir o uso de automóveis nos centros e em
outras áreas das cidades; 6) incentivar a fabricação de máquinas e equipamentos
de maior eficiência para economizar energia e de veículos elétricos; e, 7)
utilizar derivados de petróleo principalmente para fins não energéticos,
sobretudo como matéria prima industrial.
Recentemente,
encontro realizado em Lima no Peru delineou os elementos principais do próximo
acordo global do clima, a ser assinado em Paris. O texto final,
"Chamamento de Lima para a Ação sobre o Clima", aponta os elementos
principais do próximo acordo global do clima visando a redução de emissões de
gases de efeito-estufa no período pós- 2030. Espera-se que, em Paris, o mundo
chegue, finalmente, a um acordo. O objetivo é evitar que a temperatura média do
planeta não ultrapasse 2ºC fazendo as emissões de carbono pararem de crescer
nos próximos cinco ou dez anos e levá-las a zero em 2100. Além da redução dos
gases do efeito estufa, espera-se que em Paris seja dado início à formulação de
uma nova ordem mundial, uma nova civilização, a ser edificada que contribua
para organizar as relações entre os homens na face da Terra, bem como suas
relações com a natureza.
* Fernando
Alcoforado, 75, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona,
professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico,
planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas
energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997),
De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São
Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os
condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado.
Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003),
Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia-
Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era
Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic
and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento
Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010),
Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento
global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os
Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV,
Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no BrasilEnergia e Mudança Climática
Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015).
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