Operação Lava-Jato
Empresário foi preso em operação batizada de
Passe Livre, por seu livre acesso ao Planalto
(CAI O MAIS PRÓXIMO AMIGO DE LULA)
AFONSO BENITES Brasília
Para EL PAÍS – O JORNAL GLOBAL
A Polícia
Federal prendeu na manhã desta terça-feira o pecuarista José Carlos Bumlai em
decorrência da 21ª fase da operação Lava Jato, que investiga os desvios bilionários da Petrobras. Apontado como amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Bumlai é acusado de fazer
tráfico de influência usando o nome do ex-presidente Lula e até de seus
parentes. Batizada de Passe Livre, essa nova fase da Lava Jato levou esse nome
porque Bumlai tinha livre acesso ao Palácio do Planalto.
O pecuarista
estava hospedado em um hotel de luxo em Brasília, cidade onde estava para
prestar depoimento para a Comissão Parlamentar de Inquérito do Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social, a CPI do BNDES. Segundo a PF, ele foi
preso momentos antes de tomar seu café da manhã.
A prisão de
Bumlai aproxima as investigações do nome do ex-presidente. Em depoimento à Polícia
Federal, o lobista e delator da Lava Jato Fernando Soares, o Baiano, disse que
uma das empresas que ele representava, a OSX, tinha interesse em participar de
uma concorrência da Petrobras. Para isso, tentou se aproximar do ex-ministro da
Casa Civil, Antonio Palocci, que teria feito essa aproximação foi Bumlai. Em
troca, o empresário pediu o pagamento de dois milhões de reais que, de acordo
com Baiano, seriam destinados para uma nora do ex-presidente pagar parte de um
imóvel adquirido por ela.
O doleiro não especificou qual nora seria. Em entrevista ao O
Estado de São Paulo dias depois do depoimento de Baiano vir a público,
Bumlai disse que não havia usado o nome de ninguém e que havia pedido dinheiro
para ele mesmo, pois suas empresas estavam em dificuldade. O pecuarista disse
que pegou 1,5 milhão de reais emprestados de Baiano, mas que os recursos foram
usados para pagar salários de funcionários de uma de suas empresas e teria como
provar isso. “Não paguei conta de nora de Lula, apartamento, nada a ver. Não
tenho nada a ver com isso”, afirmou na ocasião.
Em nota, a
polícia disse que “complexas medidas de engenharia financeira foram utilizadas
pelos investigados com o objetivo de ocultar a real destinação dos valores
indevidos pagos a agentes públicos e diretores” da Petrobras. O pagamento a
Bumlai teria sido feito por meio da simulação de um contrato falso de locação
de equipamentos. Baiano relatou aos investigadores que o negócio com o
navio-sonda não prosperou, mas que o pecuarista não devolveu o dinheiro que
teria recebido. Tanto Lula, por meio de seu instituto, quanto Bumlai negam as
irregularidades.
A PF informou
que além da prisão do pecuarista, foram cumpridos 25 mandados de busca e
apreensão e seis de condução coercitiva nas cidades de São Paulo, Lins,
Sorocaba, Dourados, Campo Grande, Rio de Janeiro e Brasília.
Natural de
Corumbá, no Mato Grosso do Sul, Bumlai se aproximou de Lula na campanha
eleitoral de 2002, quando o petista venceu o pleito. Naquele ano, o fazendeiro
cedeu sua propriedade para o petista gravar parte de seu programa eleitoral.
Desde então, ele é visto como um dos principais aliados do ex-presidente e o
empresariado brasileiro, e já foi até chamado de o conselheiro rural de Lula.
Agora, Bumlai será transferido
para a sede da superintendência da PF de Curitiba, onde se juntará a parte dos
outros megaempresários detidos pelo esquema de corrupção na Petrobras.
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