sexta-feira, 27 de novembro de 2015

TEXTO DO LIVRO DE JOACI GÓES – A INVEJA NOSSA DE CADA DIA (CONTINUAÇÃO)

Livro; ensaio


A inveja nos esportes



Tênis 

“... Quando ganhou o US OPEN, em 1999, o tenista norte-americano, André Agassi, aos quase trinta anos, atingiu o pico da fama e do aplauso público.
Dois anos antes, em dezembro de 1977, chegara a cair para a 141ª posição no ranking mundial; a partir de quando iniciou um processo de recuperação que devolveu aos seus admiradores uma confiança esmorecida pela idade do carismático e simpático jogador, nascido em 1970. Vencendo o pessimismo de muitos, Agassi não parou de crescer, melhorando o seu desempenho a ponto de ganhar torneios.
Quando ganhou o Aberto da França, o Roland Garros, em 99, Agassi, que já tinha no seu currículo  uma vitória em cada um dos três outros torneios do Grand Slam, passou a ser o primeiro jogador a ganhar os quatro torneios, jogados em todos os diferentes pisos. Quando outro jogadores, como Roy Emerson e Rod Lever, os quatro torneios do Grand Slam, os pisos não tinham a variedade que hoje ostentam.



Jimmy Connors

A espetacular volta por cima de Agassi coincidia uma certa inapetência de Pete Sampras, aparentemente enfastiado com a exigente rotina de sua longa liderança.
A conquista pela segunda vez do US OPEN, em 99, deu a Agassi o seu quinto título do Grand Slam, o segundo do ano e consolidou sua liderança. Era natural, , portanto que se festejasse, com pompa e circunstância, o grande feito de um jogador que acabava de assumir a primeira colocação, soerguendo-se do fundo do poço, numa idade em que a maioria declina ou se aposenta, louvando-lhe os méritos, ainda que com eventuais surtos de excesso laudatório, próprios da emoção do momento. Palavras como ‘genial’, , “é o maior jogador de todos os tempos”, e coisas do gênero, faziam parte do entusiasmo dominante.
No melhor da festa, Jimmy Connors, uma legenda do esporte, declarou não encontrar apoio nos fatos para (justificar) toda aquela adjetivação louvaminheira a Agassi, um jogador que não reunia títulos para ser comparado aos grandes, dentre os quais ele próprio, obviamente, se incluía. E mencionou falta de liderança de Agassi em parâmetros tradicionais, como número do títulos de Grand Slam, tempo de permanência no primeiro lugar, número de torneios e etc...
O que teria levado o querido e admirado Jimmy Connors, reconhecido como cavalheiro, a um gesto tão antipático, num momento de festa de um colega dezoito anos mais jovem, sem a possibilidade de igualá-lo nas quadras, até por falta de horizonte etário? Inveja é a resposta.



André Agassi

Jimmy Connors é detentor de algumas marcas notáveis no tênis profissional, como número de torneios conquistados, inclusive onze do Grand Slam, e cinco anos de liderança do circuito. Para desagrado de Connors, Pete Sampras, em 1998, chegou ao fim do ano pela sexta vez consecutiva como o número um, derrubando, assim, seu recorde. em 99, ao vencer o torneio de Wimbledon, Sampras conquistou seu décimo segundo título do Grand Slam, igualando a marca de Roy Emerson e superando os onze títulos de Rod Lever, Borg e Connors.
Connors, um jogado que continuava a merecer o interesse do público, ao participar, com grade êxito, de torneios de veteranos, viu-se subtraído em curto espaço de tempo de galardões que lhe conferiam uma distinta primazia que supunha, com muita razão até, vitalícia. Todavia, o mérito do desempenho de Sampras era inquestionável. Para que sua liderança alcançasse luminosidade solar, faltava, apenas, o título de Roland Garros. Qualquer atitude destinada a minimizar suas conquistas seria prontamente identificada como oriunda da inveja. Fazer o que? Dizer o que?
Foi neste cenário que soaram as trombetas anunciando o novo ídolo, o ‘genial’, o ‘incomparável’,’ o melhor de todos os tempos’, André Agassi.
Era demais. O grito que sopitou na garganta, contra Sampras, Connors liberou contra Agassi. Muito humanamente.

Em janeiro de 2000, Agassi voltou a ganhar o ‘Australian Open’, seu sexto título de Grand Slam, e o terceiro das quatro finais seguidas que disputara. O que diria Connors agora? ...”     

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