Curiosidade
científica
Ella
DaviesBBC Earth
O
motivo: além de poder ter vários metros de comprimento, elas são feitas de uma
seda mais forte que o kevlar, a fibra sintética usada em coletes à prova de
balas.
As
teias de aranha têm várias formas e tamanhos diferentes. Mas se alguém lhe
pedir para desenhar uma teia clássica, você provavelmente colocaria no papel
uma esférica.
Esse é
o nome que se dá a teias com um padrão circular em espiral, com fios
interconectados. Dentro de uma teia esférica há diferentes tipos de seda: as
linhas mais fortes da estrutura e as linhas adesivas que capturam as presas.
Não é
surpresa o fato de as teias esféricas serem as mais familiares para nós, já que
muitas aranhas fazem as suas assim. Esse grupo inclui as quase 3 mil espécies
da família Araneidae, terceiro maior grupo desses animais no planeta.
No
hemisfério norte, as espécies mais comuns costumam fazer teias de até 40
centímetros de diâmetro. Elas são construídas à noite, prontas para um dia de
captura de insetos que vivem em jardins, como moscas, vespas e borboletas.
Elas
são particularmente mais comuns no outono, quando as folhagens do verão começam
a secar. A nova geração de aranhas chega à maturidade nessa estação.
Mas em
regiões mais quentes do mundo, tanto as aranhas quanto as teias tendem a ser
maiores.
As
maiores teias na Austrália pertencem às aranhas do gênero Nephila. Alcançam
até um metro de diâmetro e podem ficar penduradas entre árvores ou postes.
As
próprias aranhas podem abraçar uma mão humana com suas pernas. Suas teias são
bastante fortes, e há registros de aranhas especialmente grandes se alimentando
de pássaros presos nelas.
A
fêmea da espécie Nephila komaci, apresentada em 2009 por cientistas como
a maior do gênero, tem um corpo de até quatro centímetros e pernas de mais de
dez centímetros de comprimento. Elas são capazes de tecer teias que alcançam
mais de um metro de diâmetro.
Essa
espécie é muito rara, encontrada apenas em duas localidades em Madagascar e na
África do Sul.
Em
2010, uma equipe internacional de biólogos anunciou a descoberta das maiores
teias de aranha do mundo em Madagascar. A espécie responsável por elas foi
oficialmente descrita no 150º aniversário da publicação de A Origem das Espécies,
de Charles Darwin, e recebeu o nome de Caerostris darwini, ou aranha da casca de árvore de
Darwin.
É
difícil imaginar como ninguém havia descoberto essas aranhas antes. Uma única
teia pode cobrir um rio de 25 metros de largura.
Para
tecê-la, a fêmea solta uma linha contínua de seda de uma margem do rio, e as
correntes de ar a levam para a outra margem para formar uma ponte. No centro da
ponte, a aranha constrói uma teia esférica que pode chegar a três metros de
diâmetro.
A
criadora dessa teia colossal, no entanto, não é nenhuma gigante.
“As
fêmeas de Caerostris darwini têm
corpo com cerca de 1,5 centímetro e pesam cerca de meio grama, enquanto os
machos são muito menores, com um décimo do tamanho”, diz Matjaž Gregorič, da
Academia Eslovena de Ciências e Artes, de Liubliana, que vem pesquisando a
espécie desde sua descoberta.
Image copyright Matjaz Gregoric Image caption
Como
essas aranhas pequenas conseguem produzir a enorme quantidade de seda
necessária para suas superteias?
“Essa
é uma boa questão, para a qual ainda não temos uma resposta definitiva”,
comenta Gregorič.
Para
descobrir isso, ele e seus colegas vêm pesquisando as relações evolutivas entre
as aranhas, que podem trazer alguma luz sobre como a capacidade de tecer teias
evoluiu.
“Todo
o gênero Caerostris parece
ter uma seda mais forte que a de outras aranhas, além de um comportamento na
tecelagem bastante particular”, diz ele. Enquanto as aranhas Nephila tecem teias com padrões mais densos e
com uma seda de menor qualidade, as Caerostris criam
teias mais esparsas e com uma seda mais resistente.
Ambas
as técnicas resultam em teias fortes, capazes de capturar as presas. Mas ao
posicionar suas teias diretamente acima do leito de rios, as Caerostris darwiniconseguem
capturar dezenas de libélulas e outros insetos ricos em energia que vivem na
água.
“Nossa
hipótese é de que essa combinação era uma predisposição da aranha em ser capaz
de dominar esse habitat particular. Nenhuma outra aranha usa a coluna de ar
sobre as águas abertas, então provavelmente o tamanho da teia e as propriedades
do material serviram à adaptação ao habitat”, diz Gregorič.
Para
descobrir se essa tese está correta, os biólogos estão estudando as aranhas e
sua seda. Para testar as propriedades da seda, eles usam uma máquina de tensão,
descrita por Gregorič como “uma máquina que agarra o fio nas duas extremidades
e vai puxando até que o material rompa, medindo a força quando isso ocorre”.
Com esse
método, eles descobriram que a seda é mais forte que o aço. Ela também já foi
descrita como o material biológico mais resistente já conhecido.
Os
dois conceitos podem parecer similares, mas há uma diferença entre resistência
e força. Os materiais fortes são resistentes à pressão, mas os materiais
resistentes são maleáveis, o que significa que são capazes de absorver mais
energia antes de romper.
Isso é
essencial em uma teia de aranha, já que cada filamento precisa resistir ao
impacto e aos movimentos das presas se debatendo sem prejudicar o resto da
estrutura.
A
combinação de força e resistência é altamente desejada por engenheiros que desenvolvem
novos materiais, que vão de coletes à prova de balas a redes de pesca. Muitos
cientistas já estão de olho em como criar as “fibras do futuro” a partir da
seda de aranhas, e não há nenhum objeto de desejo maior que a das Caerostris darwini.
Leia a versão original desta reportagem em inglês no
site BBC Earth.
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