Literatura
Publicado por João Lopes,
“O ideal
seria um mundo de canteiros, certamente teríamos mais jardins.”
Alguma tristeza no fim do ano? Muitas pessoas
dizem sentir uma tristeza, aparentemente, inexplicável no final do ano. Será
que essa tristeza não quer nos dizer algo?
Foto da internet
Não são poucas as pessoas que dizem sentir
uma espécie de tristeza inexplicável quando chegam as festas de fim de ano. Nas
lojas, nos escritórios, nos grandes shoppings e avenidas, as
decorações se levantam em um espetáculo de luzes a nos avisar: o Natal chegou.
Os sentimentos bons devem reinar em nome de um dia, e os votos retomam a
família e todo tipo de coisas boas. Há muito o Natal deixou de ser apenas um
dia no calendário cristão, em que se recordaria o nascimento de Jesus, para ser
um dia exaustivamente comercial – o que também não é novidade.
Mas nada disso pode responder à
pergunta: de onde vem a tristeza que experimentamos? E mesmo
que tentássemos definir isto ou aquilo, na verdade, em cada um deve haver um
motivo específico, mesmo que desconhecido, para que esse sentimento seja assim
tão latente. Algumas coisas, no entanto, são verdades que preferíamos, quem
sabe, não saber. Nossa geração infelizmente entregou-se à superficialidade
extrema, a pouca reflexão e ao sabor da vida de consumo, e quanto a isso também
parece haver total consenso entre todas as pessoas e os pensadores
contemporâneos.
Em outras palavras, por mais difícil que seja
concordar, as festas de fim de ano tornaram-se, apenas, momentos
pré-estabelecidos para presentearmos, obrigatoriamente, talvez, nos reunirmos
em família, e fazermos algumas reflexões que, durante a ligeireza de
cada ano, não conseguimos fazer. Nessa época é inevitável não pensarmos, por
exemplo, no valor da família, no sentido da fé, ou mesmo no valor das pessoas
que amamos. Aos que se dedicam um pouco mais à reflexão certamente se lembrarão
daqueles que, sem a presença deles, não teriam conseguido muita coisa.
Retomamos assim sentimentos que tantas vezes,
ao longo do ano, não podemos expressar, por falta de tempo ou porque
simplesmente nos esquecemos. A gratidão, a generosidade, a gentileza etc.,
estão na pauta para serem lembradas, e será que não ficamos em dívida com
alguém? De outro lado, o balanço de como foi o nosso ano, sob a fúria do homem
contemporâneo por superar a si mesmo o tempo todo, pode também trazer grande
frustração. Resultados são tudo que se espera ao balancear a vida, como se ela
pudesse ser equacionada em índices de qualidade inventados por
outras pessoas que sequer nos conhecem.
Na verdade, será que a tristeza sentida pelas
pessoas nessa época não seria alguma – mesmo que pequena – crise de
consciência? Não que sejamos maus, não, mas por termos perdido oportunidades de
sermos pessoas melhores ao longo de todo o ano, e o Natal, assim como o Réveillon,
são épocas a nos mostrar que os homens, ironicamente, também são humanos. Estas
são épocas que urgem estejamos juntos - não separados -, em que é inevitável
nos reunirmos para celebrar nossa humanidade.
Será que nos esquecemos de que somos humanos?
Pois humanos sentem e precisam de outros humanos o tempo inteiro, não apenas ao
final dos anos. Se alguém duvida disso, mesmo aqueles que veneram o isolamento
e a solidão, certamente não conseguiriam sequer pensar como seria viver no
mundo sem outro semelhante – seria irreal. A própria arte tem nela essa
capacidade urgente de lembrar ao homem que ele é homem, portanto dotado de
sensibilidade.
Com certeza, se durante cada ano, olhássemos
constantemente para dentro de nós, essa coisa que não tem nome, que é o famoso
"quem sou eu", aquilo que está no íntimo do ser humano, que sente e,
por isso, considera o outro como alguém que também sente, sem dúvida, ao final
do ano, ao fazermos qualquer balanço ou reflexão sobre como agimos, poderíamos
em lugar de alguma tristeza inexplicável sentirmos alguma alegria consciente,
de um ano bem vivido, de sentimentos bem vividos.
Se nos resta algum consolo certamente são os
próximos dias do ano que está prestes a começar. São infinitas oportunidades de
fazer com que a vida não seja apenas um fluxo, uma invenção de vida feliz
ditada por outros ou por lógicas como o progresso e o consumo, mas que ela seja
algo fascinante que, ao se refletir sobre, nos faça querer tragá-la uma vez
mais, uma vez mais, uma vez mais...
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