domingo, 13 de dezembro de 2015

ELIZABETH TAYLOR: A VIDA EM TONS DE VIOLETA



Cinema


Publicado por Vitor Dirami



Ela viveu "regida por suas paixões" e viu a vida em tons de violeta - a cor rara de seus belíssimos olhos. Casamentos, divórcios, amores, filmes, jóias, óscares, excesso. Conheça agora um pouco do mundo de Elizabeth Taylor.
                                      

                                       Elizabeth Taylor, (1942), (Wikicommons).
Nascida durante o inverno londrino, em Fevereiro de 1932, Elizabeth Taylor era filha de norte-americanos que voltaram para os Estados Unidos com o começo da II Guerra Mundial, em 1939.
Ela conheceu o sucesso muito cedo, participou de seu primeiro filme aos 10 anos de idade - There's One Born Every Minute (1942), seu único filme na Universal Pictures. Entre 1942 e 1950 foram quatorze filmes, o que a transformou numa estrela mirim e depois adolescente; alguns dos principais filmes desta fase foram A Força do Coração (Lassie Come Home, 1943) e A Coragem de Lassie (Courage of Lassie, 1946), cuja estrela principal não era Elizabeth, mas sim a famosíssima cachorra Lassie. Desde criança, "Liz" (como se tornou mundialmente conhecida, apesar de nunca ter gostado deste apelido), aparentava ter mais idade do que tinha, o rosto muito expressivo não lhe conferia aquele ar infantil.
Ao contrário de outros astros infantis, Taylor transitou facilmente para o status de atriz adulta. Seu papel de Angela Vickers no clássico Um Lugar ao Sol (A place in the Sun, 1951) foi um divisor de águas em sua carreira. Apesar de muito jovem, se saiu bem em um papel de tamanha envergadura. O filme foi um grande sucesso de crítica e público, que a tornou famosa internacionalmente. Durante as filmagens, construiu uma sólida amizade com seu co-protagonista Montgomery Clift - amizade que duraria até a morte dele em 1966; juntos atuariam em mais dois outros filmes: A Árvore da Vida (Raintree County, 1957) e De Repente, no Último Verão (Suddenly, Last Summer, 1959).
Em 1950, aos 18 anos, casou-se com Conrad "Nicky" Hilton, um casamento tão relâmpago e impulsivo que não durou nem um ano completo, divorciaram-se em janeiro do ano seguinte. Ao longo da vida, Elizabeth contraiu outros sete matrimônios, sendo dois com o mesmo homem - Richard Burton - seu grande amor.
 
Elizabeth Taylor apanha banhos de sol, (1955), (Wikicommons).
Mas, se ela não era contemplada com a sorte no amor, por muito menos tinha azar no jogo. O sucesso profissional era crescente (lançou quatro títulos em um único ano), e já era considerada uma das principais estrelas da constelação da MGM. Apesar de insatisfeita com os filmes para os quais era requisitada, e que nada contribuíam à sua carreira, uma das poucas exceções - deste período - foi o drama A Última Vez Que Vi Paris (The Last Time I Saw Paris, 1954). A situação mudaria depois de protagonizar o aclamado épico Assim Caminha a Humanidade (Giant, 1956) ao lado de Rock Hudson e James Dean. Sua excelente performance no insosso A Árvore da Vida lhe rendeu a primeira das quatro indicações ao Oscar de Melhor Atriz da Academia que ela recebeu consecutivamente. Gata em Teto de Zico Quente (Cat On a Hot Tin Roof, 1958) juntaria em cena os dois rostos mais belos de Hollywood à época: Elizabeth Taylor e Paul Newman - no único filme que protagonizaram juntos. Em De Repente, No Último Verão, a atriz brilhou absoluta no thriller psicológico dirigido por Joseph L. Mankiewicz e baseado na peça teatral homônima de Tennessee Williams, conquistando o Globo de Ouro de Melhor Atriz em Drama.
 
A atriz com Todd e Mike Todd, (1957), (Wikicommons).
Em março de 1958, o terceiro marido de Taylor, Mike Todd, faleceu em um desastre aéreo. Este acabou sendo o seu único casamento a terminar em viuvez. Eddie Fisher, melhor amigo de Todd, consolou-a, e os dois iniciaram um affair enquanto Fisher ainda era casado com Debbie Reynolds, o que resultou num escândalo, devido, em parte, ao divórcio público do casal. Taylor e Fisher casaram-se em maio de 1958. Fisher co-estrelou ao lado da esposa Disque Butterfield 8 (BUtterfield 8, 1960) - filme pelo qual ela finalmente conquistou o Oscar de Melhor Atriz, e também representou o fim de seu contrato com a MGM.

 
 

Elizabeth Taylor em "De Repente o Último Verão", (1959), (Wikicommons).

Elizabeth Taylor foi uma das principais e últimas estrelas de Hollywood a emergir na era dos grandes estúdios. Aos 28 anos, parecia ter atingido o auge da carreira - era bela, rica, amada, bem-sucedida, uma das artistas de maior êxito de bilheteria e, neste ranking, permaneceria soberana pelos próximos 10 anos. Além de ser uma das celebridades mais glamorosas da época, intensamente assediada pela imprensa e pelo público. Em 1960, tornou-se a atriz mais bem paga do mundo ao assinar um contrato de 1 milhão de dólares com a 20th Century-Fox para interpretar a inesquecível rainha egípcia Cleópatra.
 
Elizabeth Taylor interpretando a Rainha Cleóprata, (Wikicommons).
As filmagens de Cleópatra (1963) estão entre as mais conhecidas e problemáticas de Hollywood até hoje. Já no início, a troca de diretor e de locação (de Rouben Mamoulian para Joseph L. Makiewicz, e de Londres para Roma), os cenários suntuosos e os figurinos sofisticados - e o próprio salário milionário de Taylor - estouraram o orçamento da produção em mais de 40 milhões de dólares, tornando-o um dos filmes mais caros da história, o qual não "se pagou" na bilheteria e levou a Fox à beira da bancarrota. Para piorar, Taylor ficou gravemente doente logo no começo das filmagens e teve de ser submetida à uma traqueotomia para salvar sua vida; a doença da atriz demandou dezenas de dias a mais às gravações. Mas nem de longe tudo isso se compara ao alvoroço causado pelo romance entre os dois astros do filme.
 
Elizabeth Taylor dançando com o seu marido Eddie Fisher, durante uma festa em Roma, (Wikicommons).
Taylor e Burton se conheceram durante as filmagens de Cleópatra e se apaixonaram perdidamente, apesar de ambos serem casados - ela com Eddie Fisher e ele com Sybil Williams - iniciaram um caso amplamente coberto pela imprensa, estampado nas manchetes de jornais do mundo inteiro, que chegou a ser condenado pelo Vaticano. Os dois só puderam enfim se casar em 15 de março de 1964, 9 dias depois de Fisher ter-lhe concedido o divórcio. Mesmo depois, a mídia continuou acompanhando bem de perto o casamento, pelos próximos exatos 10 anos que durou (somado à uma rápida reconciliação entre 1975 e 1976), tornando-os o casal mais popular dos anos 60 e o predileto da indústria cinematográfica internacional - eles estrelariam outros dez filmes juntos. Apesar do fracasso de Cleópatra e dela mesma ter dito "Eu não lembro muito acerca de Cleópatra, haviam muitas outras coisas acontecendo.", este é provavelmente o seu filme mais famoso, e aquele em que está mais bonita, o qual cristalizou para sempre um dos rostos mais lindos do século XX. Poucas pessoas no mundo possuem olhos de um azul tão profundo que pareça violeta, Elizabeth possuía os mais belos olhos já exibidos numa tela de cinema.
Taylor recebeu o maior prêmio da Academia concedido à uma atriz pela segunda vez em 1967, por sua atuação insuperável em Quem Tem Medo de Virginia Woolf? (Who's Afraid of Virginia Woolf?, 1966) - o primeiro filme do consagrado diretor Mike Nichols. Taylor, que usualmente aparecia belíssima nas telas, sofreu uma verdadeira metamorfose para interpretar uma megera dominadora e barulhenta; uma personagem que deveria ter 20 anos a mais que ela (Taylor tinha 33 na época das filmagens). O resultado foi bastante crível e sua atuação neste filme é certamente uma das melhores performances femininas da história do cinema. Infelizmente, Richard Burton, também indicado ao Oscar de Melhor Ator, não ganhou a estatueta; ele nunca ganharia uma, apesar das sete indicações que teve ao longo da carreira.
 
Taylor e Burton em "Adeus às Ilusões" (Br), (1965), (Wikicommons).
Como atriz sua carreira prosseguiu ativamente pelas próximas três décadas, mas Taylor nunca mais conseguiu repetir o sucesso de Quem Tem Medo de Virginia Woolf, vendo seu poder nas bilheterias diminuir consideravelmente a partir do fim dos anos 60, embora ainda tenha realizado alguns bons filmes, como A Megera Domada (The Taming of the Shrew, 1967), com Burton; Os Pecados de Todos Nós (Reflections in a Golden Eye, 1967), com Marlon Brando; Cerimônia Secreta (Secret Ceremony, 1968), com Mia Farrow e Robert Mitchum; Under Milk Wood (1972) com Burton e Peter O'Toole e O Ocaso de uma Vida (Identikit, 1974) com Andy Wharol. Seu último papel foi no filme feito para a tevê As Damas de Hollywood (These Old Broads, 2001), ao lado das veteranas Debbie Reynolds, Shirley McLaine e Joan Collins.
Apaixonada por pedras preciosas, ao longo da vida Taylor acumulou uma fortuna em jóias no valor de 150 milhões de dólares. A atriz chegou a possuir gemas célebres como o Diamante Krupp de 33,19 quilates; o diamante de 69,12 quilates mundialmente conhecido como Taylor-Burton, descoberto numa mina sul-africana em 1966 e a famosíssima pérola La Peregrina - uma jóia com cerca de 500 anos de história, que pertenceu a vários soberanos europeus, entre eles, Maria I da Inglaterra; todas presentes dadas pelo então marido Richard Burton. Entretanto, Elizabeth também era uma forte ativista social, tendo sido uma das primeiras a advogar em prol dos infectados com HIV/AIDS nos anos 80, e angariar recursos para as primitivas pesquisas sobre o vírus. Em 1992, Taylor foi premiada com o Prêmio Humanitário Jean Hersholt, concedido pela Academia à artistas com contribuições em causas humanitárias. Ela também trabalhou em favor das causas judaicas; Elizabeth converteu-se ao judaísmo aos 27 anos, em 1959, adotando o nome hebreu de Elisheba Rachel e tornando-se seguidora da Kabbalah.
 
Elizabeth Taylor usando uma criação de joias de Balmain&Cartier para um artigo de moda, (Wikicommon).
Grande amiga do Rei do Pop, Michael Jackson, foi madrinha dos dois filhos dele, e esteve ao lado do cantor em seus piores momentos, até sua morte, sem nunca deixar de apoiá-lo e reiterar o imenso carinho e amor que sentia por ele. Jackson lhe dedicou duas canções, "Liberian Girl" e "Elizabeth, I Love You".
A atriz teve quatro filhos - Michael Howard (1953) e Christopher Edward (1955) com seu segundo marido Michael Wilding; Elizabeth Frances "Liza" (1957) com o terceiro marido Mike Todd; e durante o casamento com Eddie Fisher, começaram os procedimentos para adotar uma menina alemã chamada Maria (1961), o processo de adoção só foi concluído em 1964, após o divórcio do casal. Posteriormente Richard Burton adotou suas filhas Liza e Maria.
A doença, que por toda vida foi uma de suas maiores inimigas, terminou por lhe vencer em 2011, vitimando-a de insuficiência cardíaca crônica - a qual lutava havia anos. A mulher com os olhos cor de violeta mais famosos de todos os tempos faleceu em 23 de março de 2011. Elizabeth Taylor foi uma das maiores divas da era de ouro de Hollywood, uma mulher que será para sempre um ícone de beleza, charme e glamour, mas que além disso tinha um coração carregado de sentimentos genuinamente humanos - intensos e ferozes -, o que é perfeitamente visível em seu potencial fabuloso como atriz - e isto é o principal. Richard Burton, um legítimo ator shakespeariano, considerado um dos mais talentosos de sua geração, e que foi seu quinto marido, a admirava e soube reconhecer seu talento como atriz, "Eu acho que ela é uma das atrizes de cinema mais subestimadas que já viveu, e eu acho que ela é uma das melhores que já viveram. No seu melhor ela é incomparável."

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