domingo, 13 de dezembro de 2015

EVE ARNOLD: HISTÓRIAS ATRAVÉS DA FOTOGRAFIA



Arte fotográfica





Publicado por Vitor Dirami





A fotógrafa norte-americana Eve Arnold viveu 99 anos, destes, mais de 50 foram dedicados à fotografia. Em meio século de trabalho ela se tornou uma pioneira do fotojornalismo e celebrada pela excelência e versatilidade de seu trabalho. Conheça agora um pouco mais da arte de Eve Arnold.






Eve Arnold faleceu no dia 4 de janeiro de 2012, próxima de completar seu centésimo aniversário. Sua morte revela a nostalgia de uma era na história da fotografia na segunda metade do século XX, e do fotojornalismo, do qual foi uma das criadoras em meados dos anos 50.

Filha de pobres imigrantes judeus russos, Eve Arnold era a criança do meio em uma família de nove filhos, ela nasceu na cidade da Filadélfia, na Pensilvânia, Estados Unidos. A infância humilde e cheia de restrições, viriam a influenciar muito seu trabalho no futuro, fato que viria a se tornar visível na contrastante obra da fotojornalista.



Sua carreira começou tardiamente, após os 35 anos e de uma forma muito casual. Seu interesse pela fotografia começou em 1946, enquanto trabalhava numa fábrica de plantas de foto-acabamento em Nova York. Durante seis semanas, em 1948, ela aprendeu habilidades fotográficas com o diretor de arte da revista Harper’s Bazaar, Alexey Brodovitch, na Nova Escola Para Pesquisa Social (New School for Social Research) em Manhattan.

A carreira engrenou logo depois, em pequenos trabalhos para a revista Life, e o reconhecimento não tardou a chegar. Em meados dos anos 50, Arnold fotografava desfiles de moda no segregado bairro do Harlem, em Nova York. Aí já nascia uma das principais características do seu trabalho: o olhar para o oprimido. Arnold nasceu na pobreza, vinda de um povo também oprimido. Seu trabalho também contemplou os marginalizados, em quem ela enxergava beleza e compaixão.







Em pouco tempo, o trabalho de Arnold chamou atenção de Henri-Cartier Bresson, um dos grandes nomes da fotografia daquela época e co-fundador da prestigiada agência Magnum, com Robert Capa. Eve Arnold tornou-se a primeira mulher a ingressar na Magnum. Na época, o fotojornalismo era um segmento quase que estritamente masculino, Arnold tornou-se uma pioneira também nesse sentido, em abrir os caminhos do mercado para as mulheres. A única colega de Arnold na Magnum foi Inge Morath, que entrou para a agência em 1955, quatro anos após Arnold. Em 1957 Eve Arnold tornou-se membro definitivo da Magnum.

Arnold tornou-se uma das fotógrafas mais requisitadas da época, e chamava atenção para como retratava com a mesma importância e perspicácia personagens variados – estrelas de cinema ou anônimos, ricos ou pobres. Seu trabalho não tinha o glamour de Richard Avedon ou a profundidade de Edward Steichen, mas era tão natural e sugestivo quanto o de ambos. Arnold contava histórias através das fotografias. Ao longo dos anos, ela adquiriu fama e prestígio ao fotografar pessoas tão diferentes como Marilyn Monroe, Joan Crawford, Elizabeth Taylor, Marlene Dietrich, Jacqueline Kennedy, Yves Saint Laurent, Elizabeth II e Malcolm X.







Tornaram-se célebres as várias sessões de fotos com Marilyn Monroe, ao longo de quase dez anos. A fotógrafa clicou a estrela de cinema em vários momentos, de glamour, descontração, sensualidade e o cotidiano da diva. As duas se aproximaram e estabeleceram um vínculo de amizade, que rendeu a Marilyn três livros escritos por Arnold. Sem dúvidas, o trabalho mais famoso de Eve Arnold foi a série de fotografias de Marilyn feitas durante as filmagens de Os Desajustados, em 1960. A série é de extrema relevância, levando-se em conta de que se trata do último filme concluído de Marilyn. Além disso, Arnold soube exatamente – mesmo não tendo sido intencional – registrar o cansaço, o esgotamento e a tensão dos três protagonistas do filme – Marilyn, Clark Gable e Montgomery Clift. A degradação emocional pela qual estavam passando, ficou evidente nas imagens que ela clicou. Extremamente melancólicas.







Um dos melhores trabalhos de Eve Arnold foi feito com a lendária Joan Crawford, em 1959. Arnold fotografou Crawford nos mais variados ângulos e momentos. Desde uma ginástica matinal, até uma reunião do conselho executivo da Pepsi (presidido pela própria Crawford). É interessantíssimo observar os cliques de Arnold em Joan se maquiando, que evidenciaram, com muita delicadeza, o envelhecer daquele verdadeiro mito do cinema americano, uma mulher que chegou a ser considerada a mais bela de Hollywood.







Nos anos 60, Eve Arnold mudou-se para Londres enquanto trabalhava para o jornal Sunday Times. Nessa época, Arnold passou a experimentar seriamente a fotografia colorida. O experimentalismo a levou a viajar ao redor do mundo, fotografando na China, Mongólia, Rússia, África do Sul e Afeganistão. Foi quando pode explorar o melhor no seu trabalho, visitando a tradição e o exotismo das populações árabes, asiáticas e africanas. Arnold foi uma das primeiras ocidentais a fotografar na China comunista.



Em 1980, Eve Arnold realizou sua primeira exposição solo, exibindo o trabalho fotográfico realizado na China, pelo qual obteve um enorme sucesso e inúmeros prêmios da crítica e associações especializadas. Já consagrada, Arnold tornou-se membro da Sociedade Real de Fotografia Britânica, e foi nomeada mestre de fotografia pelo Centro Internacional de Fotografia em Nova York. Em 2003 foi nomeada oficial da Ordem do Império Britânico pela rainha Elizabeth II.

Em suas próprias palavras, assim Eve Arnold resumiu sua longa trajetória: "Eu já fui pobre e quis documentar a pobreza; eu perdi uma criança e andava obcecada com o nascimento; eu estava interessada em política e queria saber como é que ela afeta as nossas vidas; eu sou uma mulher e queria saber mais sobre as mulheres."






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