Política nacional
Josias de Souza
é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961.
Trabalhou por 25 anos na "Folha de S.Paulo" (foi repórter, diretor da
Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista)
Blog do Josias
O8 de Dezembro foi dada
a partida para impeachment!
— Por que a chapa alternativa teve tanta adesão? Senti que havia um clima de rebelião nas bancadas, porque os líderes
procuraram o Palácio do Planalto para apresentar os nomes e ver se havia
concordância do governo. A bancada do PMDB se rebelou. E foi contaminando
outras bancadas.
— Há uma rebelião contra os líderes dos partidos governistas? Nós tivemos uma eleição para a presidência da Câmara, em fevereiro, com
o mote do Parlamento independente. Esse conceito de independência se espalhou.
Ou seja, as bancadas também querem ser independentes. Os líderes terão que ser
porta-vozes de suas bancadas. Eles não podem decidir por suas bancadas. Ninguém
elege um líder para dar cheque em branco.
— No caso do PMDB, acha que o líder Leonardo Picciani deve ser
trocado? O líder foi eleito
para um mandato que se encerra em fevereiro. Logicamente, pode ser destituído
antes. Isso foi uma sinalização. Picciani não pode conduzir um partido do
tamanho do PMDB, plural como o PMDB, como se fosse o PMDB carioca. Ele tem que
esquecer um pouco o PMDB do Rio e virar líder de todo o PMDB.
— Acha que o resultado sinaliza o afastamento da presidente? Não tenho dúvida. Diversos parlamentares aliados do governo diziam que
essa votação seria importante porque eles venceriam e matariam hoje o
impeachment. Agora, virão com o discurso de golpe.
— Não é golpe? Golpe vai dar a
presidente Dilma se escapar. Ela dará um enorme golpe de sorte.
— Embora a vitória seja expressiva, os 272 votos estão distantes
dos 342 necessários à aprovação do afastamento da presidente, não? Impeachment não é uma votação, é um processo. Uma vitória como essa,
ainda na fase de instalação da comissão, não é pouca coisa. É preciso levar em
conta que faltaram cerca e 40 deputados. A maioria votaria conosco.
— O resultado assegura ao grupo pró-impeachment a presidência e a
relatoria da comissão? Nós elegemos a
maioria, metade mais um, da comissão. A tendência é de que tenhamos a
presidência e a relatoria da comissão. Mas ninguém vai para uma comissão de
impeachment sem o espírito da conversa e do diálogo. Nessa comissão, não pode
haver radicalismos. Não se trata de trabalhar a favor ou contra o impeachment.
Todos têm a sua tendência, mas não pode ter o veredicto pronto. Afinal de
contas, a presidente vai apresentar a defesa. E nós teremos que analisar.
Defendo o impeachment porque acho que será bom para o Brasil. Mas não vou votar
a favor se a acusação de crime de responsabilidade não ficar comprovada.
— Quando foi concluída a montagem dessa chapa vitoriosa? Concluímos 15 minutos antes do início do votação. Nessa madrugada, à uma
e meia, eu ainda estava na porta do deputado Fracischini, do Partido
Solidariedade, pegando a assinatura dele. Muitos deputados só chegam aqui na
terça-feira. Perdemos deputados que queriam participar da chapa.
— Que papel terá o PMDB, seu partido, no processo de impeachment? Tem um papel relevante. Numericamente, o PMDB tem muito peso. E tem
outro fato que o torna relevante: é o partido do vice-presidente da República.
Mas uma decisão dessas não deve ser liderada por partido político. É preciso
que haja um amplo debate na Câmara. Todos os partidos terão de examinar os
fatos e decidir com a consciência tranquila.
— A carta de Michel Temer para Dilma ajudou? Se você disser que essa carta foi determinante para o resultado da
votação de hoje, digo que não foi. Mas não excluo a hipótese de ter
influenciado um ou outro voto. Na hora em que o Michel, que é presidente do
PMDB, manda uma carta para Dilma dizendo que ele e o partido não foram
adequadamente prestigiados pela presidente, logicamente você tem a indignação
dos partidos. Michel é presidente do PMDB há mais de 15 anos. Presidiu a Câmara
três vezes. O desrespeito à figura do Michel acaba atraindo solidariedade.
— Não se constrange de participar de um processo de impeachment
presidido pior Eduardo Cunha? Eduardo Cunha foi
votado por toda a Casa e foi eleito no primeiro turno. Enquanto ele não for
condenado, tem a legitimidade para tomar as providências. Tanto que está
exercendo essa legitimidade. Não fui eu que coloquei ele lá nem depende de mim
a saída dele. Depende do conjunto da Câmara tirá-lo mediante julgamento.
— Cunha não enfraquece o processo? De forma nenhuma. Mesmo que a presidente queira transformar o
impeachment numa disputa Dilma X Cunha, sob o argumento de que ela não tem
conta no exterior. Dilma não está sendo acusada de ter conta no exterior. A
acusação é de cometer crime de responsabilidade ao gastar dinheiro do
contribuinte sem autorização do Congresso.
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