Ex-presidente defende investimento no Brasil
mesmo na crise em evento do EL PAÍS
FLÁVIA MARREIRO / ALICIA GONZÁLEZ Madri
Para El País – O Jornal Global
O ex-premiê espanhol
Felipe González e Lula em Madri. / JAVIER
LIZÓN (EFE)
O ex-presidente brasileiro
participou na capital espanhola do fórum Os desafios dos emergentes, organizado pelo
EL PAÍS, ao lado de Juan Luis Cebrián, presidente do PRISA, grupo que
edita o jornal, o diretor desta publicação, Antonio Caño, e o ex-chefe do Governo espanhol Felipe González, entre
outros.
Na conversa, na mesa que compartilhou com González e Cebrián, o petista
voltou a fazer críticas a um programa de recuperação da crise brasileira que
envolva só ajuste fiscal: "Os coitados que subiram dois degraus não
querem descer de novo." Defendeu, contudo, o investimento estrangeiro no
Brasil, mesmo em recessão. "Não vejo hipótese de alguém estar pessimista
com o Brasil. Se tem uma febre, você não vai jogar fora a criança. Você vai
cuidar da criança." Ao seu lado, Felipe González fez coro e disse aos empresários
espanhóis que deveriam aproveitar a atual conjuntura para “ajudar e investir na
recuperação brasileira.” Investidores espanhóis estão entre as principais no
Brasil, ao lado de americanos e belgas.
Desafio aos delatores
Lula, cujo partido e um filho são alvos de investigações por suspeita de corrupção,
afirmou que o efeito das operações anticorrupção são positivos e repetiu que
elas só são possíveis por medidas aprovadas sob o PT. "Só não tem uma
forma de não ser molestado no Brasil: fazer as coisas corretas", disse.
"Incomoda? Incomoda, mas acaba produzindo efeitos positivos".
O petista não fez referência
direta à Operação Lava Jato ou à prisão do pecuarista José Carlos Bumlai, acusado de fazer
tráfico de influência usando seu nome e até de seus parentes. "Eu desafio,
mesmo aos empresários que estão sendo delatados, aqueles que estão presos, a
dizer se um dia eles tiveram 20 segundos de conversa comigo sobre qualquer
coisa que fosse ilegal." Disse não ter feito nada fora das normas em
atividades e viagens nas quais promoveu investimentos e negócios das empresas
brasileiras no exterior. "Os políticos temos de fazer esse debate."
O ex-presidente defendeu ainda a
capacidade de recuperação da economia brasileira diante de uma crise
conjuntural “que demorou mais do que deveria”. Defendeu a honestidade da
presidenta Dilma agora que o seu Governo se encontra afetado por diversos casos
de corrupção e a própria presidenta é alvo de pedido de impeachment. “Dilma é uma pessoa de muito caráter e muito
decente”, sublinhou, mas advertiu que a “crise política atrasa a adoção das
reformas necessárias”.
Na sua avaliação, o processo de
destituição de Dilma “não chega a lugar nenhum, é um atentado moral”, que está
fazendo com a que a imagem da economia brasileira dos últimos anos seja piorada
mais do que realmente é.
Ainda nesta sexta-feira fontes
ligadas à Operação Zelotes, que investiga a compra de medidas provisórias em
seu Governo e no de Dilma, anunciaram que o ex-presidente seria convocado a
depor no caso. Um dos filhos do petista, Luís Cláudio, é investigado por
suposto envolvimento no esquema.
Um apelo a Maduro
Os ex-mandatários fizeram um apelo ao presidente da
Venezuela, Nicolás Maduro, para que inicie um diálogo com a oposição e os setores produtivos
para o bem do país e o sistema democrático. "O que aconteceu na Venezuela
foi muito importante, é a alternância. Maduro precisa aprender que a democracia
não é a perpetuação do poder”, disse Lula. “Poderia parecer diferente depois
dos resultados do dia 6 de dezembro mas é igualmente dramático. Há a mesma
necessidade de diálogo entre o Governo venezuelano e a oposição”, reforçou
González.
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