Música brasileira/húngara
(É mais que húngaro, é das arabias)
Publicado por Juliana Rosas
Se a feijoada foi uma mistura que deu certo e
a “Feijoada Completa” de Chico Buarque funcionou até cantada na única língua
que o diabo respeita, vamos neste arrasta pé folk/nordestino/húngaro.
Anos atrás, estava eu dentro de um ônibus (ou
talvez num daqueles bondinhos, não lembro direito) na maravilhosa e amarela
Budapeste e perguntei a quem estava do meu lado se o transporte estava mesmo me
levando aonde pretendia. A resposta foi positiva e eu respondi com um “thanks”
e, num ato involuntário, fiz um “legal” com o polegar da mão. Imediatamente,
Pablo (como viria a saber depois) me pergunta, em inglês de onde sou. Ao
responder “Brasil”, uma série de agradáveis surpresas.
Este mais novo conhecido começa a falar em
ótimo português. É argentino, mas havia morado no Brasil e tinha sido casado
com uma brasileira. Havia morado no Nordeste, passado por diversos estados
nordestinos e cidades do interior que nem eu mesma conhecia. Era um músico
vivendo já há algum tempo em Budapeste e tocava um antigo instrumento húngaro.
E o melhor, tocava música tipicamente nordestina neste instrumento tipicamente
húngaro. Seu ímpeto em me perguntar de onde eu era foi “porque você respondeu
assim (polegar levantado). Só no Brasil eu me lembro de as pessoas fazerem
isso”. Achei interessante e intrigante essa percepção.
Ótimas conversas saíram destes momentos do
ônibus e a caminho das estações de metrô. Pablo nos deu dicas turísticas, falou
um pouco de Budapeste e, entre outras coisas, da situação dos imigrantes e
ciganos. Isso já faz alguns anos. Quem imaginaria que a Hungria seria palco de
oura crise migratória, desta vez, com imigrantes árabes. Houve, além de
animadas conversas musicais, um papo sobre a estreia do filme brasileiro Budapeste (2009),
baseado na obra homônima de Chico Buarque que ele pôde acompanhar de perto com
amigos, conversar com o elenco, etc. Bateu uma invejinha! Este foi um dos
ótimos momentos que passei nesta encantadora cidade europeia. Graças a isso,
pude conferir minha música nordestina e brasileira pelas mãos de outros
músicos. E pude conversar com alguém que não tinha uma visão reducionista do
nosso país e cultura. E pensar que tudo isso começou com um sinal de “legal”...
Eis que, um tempo depois, este músico cria o
“Paraszta Pé”, uma tentativa de dizer algo como “arrasta pé” em húngaro. O
Paraszta Pé é formado por Pablo Lerner e Danny Bain, este último, um americano
que vive em Budapeste, mas que já viveu em Recife, Brasil. O que eles fazem é
definido como “música e dança do nordeste brasileiro tocados em instrumentos
folk húngaros”.
Eis uma descrição mais legal feita por um
amigo deles na página do projeto no Facebook:
“Conheci esses malucos outro dia na noite e
um deles me convidou para ir assistir uma apresentação que fariam na Central
European University. Um é argentino e o outro norte-americano. O barato deles é
tocar música nordestina do Brasil com instrumentos típicos da Europa Central.
Pablo Lerner, o argentino de Buenos Aires, morou em Juazeiro do Norte e toca
viela de roda - chamado de tekerő na Hungria - como se fosse uma rabeca. Para
isso ele tira uma corda e o bordão, usando a manivela de uma forma pouco
convencional, com movimentos rápidos, sem completar o giro. Danny Bain, o
norte-americano de Washington, morou em Recife e toca ütőgardo, um instrumento
húngaro, espécie de violoncelo percussivo. O som que eles fazem estabelece um
vínculo imemorial entre a música brasileira e a cultura medieval do
centro-leste europeu. O sugestivo nome da dupla é Parasztape, algo como um
arrasta pé húngaro.”
Que viva o folk e a mistura. Uma “feijoada
completa” húngara. Então, vamos arrastar o pé!
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